Sobre as mesmas canalhices
Caro leitor, embora repetindo o discurso, peço licença para novamente declarar a minha indignação. Não consigo não expressar a minha raiva diante da situação a que se submete o profissional assalariado desse nosso país. Refiro-me à falta de igualdade de direitos e condições de vida e de trabalho, à oferta inadequada de vagas nas escolas e universidades, ao direito de ser cidadão.
Não adianta ir à mídia falar aos quatro ventos que há uma preocupação com a classe menos favorecida economicamente falando, pois a prática difere do discurso de forma grotesca. Quero aqui frisar uma realidade muito próxima, embora saiba que não é isolada, a qual merece bastante reflexão. Mesmo sabendo que há pouco o que fazer e muito menos a quem recorrer, vale ao menos gritar e dizer que estamos vendo e esperando o momento certo de dar a volta por cima. Quero falar da classe dos educadores. Creio que jamais houve classe tão menosprezada.
No final do ano passado governo e capachos declarados decidiram que os professores deveriam ter seus rendimentos congelados. A grosso modo foi essa a decisão. Sem o mínimo de respeito ao ser, que antes de ser profissional é uma criatura humana, essas pessoas bateram o martelo acabando com a carreira do professor. No entanto, as exigências dirigidas e empurradas goela abaixo desse profissionais aumentaram consideravelmente, tornando o professor um escravo dentro da própria profissão. Em conversa com pessoas experientes e de história marcada pelo sucesso, mas que sabem reconhecer os papéis dentro da sociedade e a importância de cada um, ouvi que o professor era uma figura muito amada e respeitada dentro da sociedade. o que mudou de lá para cá? A ganância das pessoas, o excesso de poder e a falta de compromisso com a verdade e a dignidade do próximo.
Imagine que um magistrado, que um dia sentou num banco de escola e foi atendido por um professor tem direito a uma gratificação por insalubridade, rsrsrs. Desculpe, mas preciso rir. O professor pode trabalhar em prédios sucateados, escolas sujas, não ter banheiro, água para beber, quadro em boas condições, material didático, mas um magistrado, além de ter o direito de trabalhar em salas climatizadas, andar em carros de luxo, receber por mês o que um professor recebe pelo ano inteiro de trabalho merece gratificação por insalubridade. Ainda há quem diga que o trabalho deles é mais importante que o nosso. Há quem vá à mídia e diga que receber mais de 500 mil reais por mês é legal. Isso é o cúmulo da falta de respeito.
Mas voltando para o nosso Estado. O governador burla leis apoiadas na Constituição e isso é legal também. O que esperar? Num futuro não muito distante não teremos condições de pagar as nossas contas básicas como água, luz, bujão, farmácia, alimentação, vestuário, saúde. Como não ter dois ou três empregos se o custo de vida interfere no nosso direito de escolha? Trabalhamos feito burros de carga, somos atropelados por leis inconsequentes, somos humilhados por pessoas despreparadas, que na maioria das vezes não sabem a realidade de uma sala de aula com alunos oriundos de um sistema desenfreadamente seletivo. Modelos são ditados todos os dias pelos veículos de comunicação e a escola sempre fica à margem de todas as mudanças, mas o professor é sempre o culpado.
Como posso pagar um mestrado, ficando sem comer, vestir, calçar, manter? Como vou estudar mais, me especializar se preciso ter jornada por vezes tripla para manter um padrão mínimo em minha família? A resposta está chegando a galopes serenos. Este é um ano de eleição, um ano em que todos virão às nossas casas prometendo céus e terra, trazendo esperança, pedindo desculpas pelas vezes que, perdoem-me, nos ferraram com suas leisinhas nojentas que só favoreciam seus próprios criadores.
Recordo-me dos "caras pintadas", jovens que souberam buscar o certo e o ideal para todos. Que bom seria se a população mostrasse a esses políticosinhos que a voz do povo é forte, que bom se todos votassem em branco, se rejeitassem todos eles e no ano de eleição para deputado, governo, senado e presidência ninguém fosse às urnas, mesmo sofrendo as malditas multas que sei, seriam cobradas sem dó nem piedade. Mas valeria a pena para que sentissem na pele o que é o povo.
Sei que corro o risco de estar tratando de utopias, de ser chamada à realidade em minhas palavras e pensamentos, mas eu sou gente e não estou morta. Não estou cega e nem surda. Isso vai ao menos servir para avisar que eu estou de costas para todos eles e que o meu voto eu darei a quem eu quiser, sem nenhum prejuízo ou sentimento de culpa, pois eu sou trabalhador, sou professor e apesar de tentarem calar a minha voz, quebrar as minhas pernas e desfigurar o meu semblante, mesmo cansada e humilhada eu continuarei sendo professora e nunca serie ex nada, serei o profissional que sou, mas eles serão ex muita coisa, inclusive aplaudido.
Assim concluo, mesmo passando dificuldades e vendo a desigualdade reinar no meio social, estou de olhos e ouvidos bem abertos e preparada para construir pensamentos críticos, personalidades fortes e decididas, pessoas de atitude. É só aguardar.