Malas cheias, carteiras vazias, publicidade, etc........

Terezinha Pereira

Dia desses, li um artigo do Fernando Bonassi no jornal “Folha de S.Paulo”, no qual ele fala de malas cheias de dinheiro. Malas voadoras. Novidade nenhuma no noticiário atual do país, não é mesmo? Dentre outras coisas que ele diz sobre mala cheia de dinheiro, fico com algumas: “afinal, uma mala de dinheiro é uma mala de desejos”, “uma mala de dinheiro nem precisa de alça, pois todos querem abraçar seu conteúdo”, “você comprará todo o amor que não pode ter de graça com uma mala de dinheiro”. Todas essas são afirmações ligadas ao desejo, força maior do ser humano. Ambição, cobiça, aspiração, anseio, aspiração, vontade de possuir, vontade de gozar são sentimentos inerentes ao homem. Novidade nenhuma também, não é? Após haver dito tudo o que quis sobre as “delícias” que malas cheias de dinheiro podem proporcionar ao homem, Bonassi apôs o seguinte PS.: “Problema. Para cada mala de dinheiro, há milhões de carteiras vazias.” Cismei. É justamente nesse equacionamento, que há o problema e não a solução. Devido a esse problema se achar tão distante de uma solução é que as malas cheias de dinheiro ocupam tanto espaço na mídia e no imaginário do povo brasileiro. Sei que achar receita para resolver esse problema é também problema. Lembrando de todas essas malas cheias de dinheiro saído das mãos desse povo sofrido, malas essas que circulam nas mãos de publicitários, de dirigentes e tesoureiros partidários ou de quem se diz representante legal de Deus aqui na terra, fico matutando a respeito de providências singelas, que poderiam permitir esvaziar um pouco essas malas e encher um pouco as carteiras, os bolsos ou mesmo a barriga de muita gente.

Uma delas seria inibir toda e qualquer propaganda de obras públicas pagas com dinheiro público. Presidente, governador ou prefeito é escolhido para administrar o dinheiro arrecadado do povo, em benefício do bem comum desse mesmo povo. Tudo que o homem público eleito realiza de obras e benfeitorias está dentro da lista de suas obrigações, de seus deveres para com o cidadão que o elegeu. Este homem público não precisa de nenhuma propaganda paga com muitos reais para informar ao povo que está cumprindo a sua obrigação. Qualquer coisa neste sentido não passa de propaganda eleitoreira. Um exemplo? Muita gente deve ter observado quanta propaganda o governo faz na televisão, em horário nobre, em jornais e revistas, em rádios do país inteiro a respeito do ‘Bolsa Família’. Começa dizendo que este é “ o maior e mais ambicioso programa de transferência de renda da história do Brasil. O ‘Bolsa Família’ nasce para enfrentar o maior desafio da sociedade brasileira, que é o de combater a fome e a miséria, e promover a emancipação das famílias mais pobres do país. O ‘Bolsa Família’ é um programa de transferência de renda destinado às famílias em situação de pobreza, com renda per capita de até R$ 100 mensais, que associa à transferência do benefício financeiro o acesso aos direitos sociais básicos - saúde, alimentação, educação e assistência social. Por decisão do presidente Lula, o Bolsa Família unificou todos os benefícios sociais (Bolsa Escola, Bolsa Alimentação, Cartão Alimentação e o Auxílio Gás) do governo federal num único programa.”

Quem discorda da grandeza de um programa assim? Deus me livre. Acho que é perfeito e é bastante útil para amenizar as carências do eterno desempregado do país. Que depois dela, que venha a “Bolsa Trabalho”, para que o desempregado possa ser um trabalhador que, com dignidade, pague suas próprias contas. O que eu acho de incorreto nesse programa “Bolsa Família” é a propaganda. Estima-se que para cada R$100,00 destinados a um necessitado, sai outro tanto para pagar a propaganda do programa, dinheiro que cai na mala de publicitários ou de outros homens ligados à política. Acabar com a propaganda desse programa de governo e de qualquer outro programa social poderia ser uma providência para fazer sobrar mais dinheiro para as carteiras vazias. Mas então, como divulgar o programa? Pode ser através de canais não pagos. O programa de rádio conhecido de nossos avós, “Hora do Brasil”, onde o governo pode falar bem de si mesmo a baixíssimo custo, poderia muito bem ser aproveitado para falar do “Bolsa Família”. Não acham que uma notícia como esta, dada pelo rádio, não seria retransmitida, de boca em boca, pelos verdadeiros interessados, os das carteiras vazias? Não acham que o dinheiro dessa propaganda deixando de ir para os das malas cheias, poderia ser melhor aproveitado no sentido de ocupar espaço em carteiras vazias? Seria fácil e barato dizer a esses interessados para procurar a prefeitura de sua cidade a fim de se cadastrarem no programa. Toda cidade, se não tem agência da “Caixa” ou do “Banco do Brasil”, tem agência lotérica, “Correios”, “Caixa Aqui” ou qualquer posto de serviço bancário que poderia ser oferecido ao beneficiário do “Bolsa Família”. O custo seria o de uma faixa colocada na porta do local de pagamento: “se você está cadastrado no “Bolsa Família” pode receber seu benefício aqui.” (Uma faixa desta custa cerca de R$ 5,00. Poderia ser custeada pelo próprio ponto de pagamento e estaria livre dos caminhos da licitação.) Tomando o “Bolsa Família” como exemplo, creio que todos os empreendimentos do poder público poderiam ser levados ao conhecimento do povo sem o menor gasto com publicidade, não é mesmo? Propaganda deve ser feita por quem quer vender produtos ou serviços; obras ou benefícios do poder público não se encaixam nesta situação.

Quanto ao dinheiro que viaja nas malas dos representantes de Deus aqui na terra, fato como esse pode ocorrer por falta de “Responsabilidade Fiscal”. Será que essas entidades criadas por homens poderosos, que cobram 10% de seus fiéis pobres, alegando que são para o reino de Deus, podem, seguramente, serem tidas como “sem fins lucrativos”? Qual seria a intenção desses representantes religiosos carregadores de malas ao entrar na política como vereadores, deputados, senadores, governadores? Seria por causa da imunidade parlamentar processual ou material, que os tornam diferentes perante outros cidadãos? Criar medidas fiscais para cuidar desse assunto poderia ser outra singela providência. Medidas provisórias estão sempre sendo editadas com o objetivo de tributar o cidadão comum, não é mesmo? Diminuir a proporção de malas cheias em relação a carteiras vazias poderá fazer um enorme bem ao povo brasileiro.

Terezinha Pereira
Enviado por Terezinha Pereira em 15/07/2005
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