ADÁGIOS OU DITADOS POPULARES
Para melhor exemplificar este assunto, vamos relacionar algumas palavras ou adágios bastante usados nos meios sociais, principalmente entre as pessoas mais humildes e populares de nosso país. Geralmente usamos esses adágios, mas não sabemos sua origem e muito menos o que significam. Baseado em pesquisas, mostraremos aqui, suas origens com os respectivos significados.
Esses adágios, na verdade, deixam de ser conhecidos como regionais, (muito embora sejam mais freqüentemente e usados, em suas regiões de origens), em virtude da migração de muitos desses populares cidadãos para outras localidades do país, levando sempre na “bagagem” seus costumes, adágios e dialetos muito comuns e usados por eles em suas terras natais.
Muitos desses adágios são observações irônicas, com dizeres interessantes, que muitas vezes podem ser observados nas inscrições de pára-choques e lameiras de caminhões, que contribuem para a divulgação dos saberes popular.
Essas inscrições inseridas nas lameiras de caminhões, em alguns casos, estão inferidas nas entrelinhas uma frase de certa forma pornográfica, em outros casos, a pornografia está explicita. O que queremos dizer com isso? É que um cidadão de bons princípios não transporta esse tipo de produto ou mercadoria. No meu entender, muito embora, muitos discordem de minha opinião, aquele que assim procede, certamente é um cidadão diferente, podermos dizer que nele não existe um bom caráter.
Antes de entrarmos no cerne do assunto, gostaríamos de relatar aqui, um fato interessante que ocorreu com dois amigos nosso, quando fazíamos uma excussão por vários países da América do Sul.
Em junho de 2000, (período invernoso), em um ônibus com 45 pessoas fizemos uma excussão por alguns países da América do Sul. Saímos do Brasil, pelo Estado do Paraná, entramos na Argentina, fomos ao Chile, entramos um pouco no Peru e depois fomos à Bolívia. Foi uma grande aventura, pelas grandes dificuldades que enfrentamos, principalmente com a alimentação, pois lá não existe, principalmente por onde andamos, a fartura que há no Brasil, havia momentos, de uma certa forma, até interessante.
Saímos de Santa Cruz de La Sierra, na Bolívia, por volta das 14:00h, em um trem conhecido como “trem da morte”, pelas suas péssimas condições e absoluta ausência de conforto. Na Bolívia, não existem restaurantes com seus cardápios variados como existem, com tanta freqüência no Brasil, sempre encontrávamos uma alimentação exótica que nosso organismo rejeitava com naturalidade.
Chegamos a uma cidadezinha que faz fronteira com o Brasil, nas imediações de Corumbá, no Mato Grosso do Sul, entre nove e dez horas da manhã do dia seguinte. Vínhamos “amarelos” de fome, loucos por uma comida brasileira à nosso estilo. De repente, dois de nossos companheiros, localizaram uma porção de pequenos restaurantes, estilos aqueles que são muito comuns e bastantes populares em nossa região. Os dois companheiros dirigiram-se a um desses restaurantes onde duas mulheres procuraram atender-lhe com modéstia simpatia. Animados com o atendimento recebido, falaram o seguinte para aquelas mulheres: “gostaríamos que vocês preparassem uma gostosa galinha caipira para comermos”,[sic]. Aquelas mulheres deixaram aqueles clientes, e rumaram casa-a-dentro, colocando suas mãos sobre os rostos e rindo incontrolavelmente, e não voltaram mais para atendê-los.
Ignorando aquele tipo de comportamento, relataram o ocorrido para pessoas que conheciam bem a nossa língua. Pasmaram, quando souberam a causa da ação daquelas mulheres. “Galinha caipira aqui pra nós, senhores - dizia um cidadão – é mulher prostituta”.
Já dizia Diógenes da Cunha Lima Filho, “A língua é uma religião que se fortalece pela explicação de seus mistérios”.
Os adágios tão populares que existem em nosso país são provas reais do que falou Diógenes, vejamos os exemplos abaixo:
Debaixo desse Angu tem Carne. Angu, uma alimentação barata, cujo elemento básico é o fubá de milho ou farinha de mandioca. Foi largamente utilizado na alimentação dos escravos negros no Brasil.
Como as cozinheiras também eram escravas, freqüentemente se encontravam pedaços de carne (que deveriam ser reservados aos feitores), escondidos debaixo do angu de determinados escravos protegidos pela cozinheira ou por outra pessoa, geralmente o transportador dos alimentos ou seu distribuidor.
Por isso, se fosse observado que determinado escravo estava muito cuidadoso com sua porção de angu ou se houvesse preferência por uma outra, desconfiava-se sempre dessa diferença de tratamento. E todos pensavam que debaixo daquele angu devia haver carne.
Arrastar a Asa. Arrastar a asa é a forma de um galo cortejar a galinha.
É da observação deste fato que surgiu a frase feita que indica o seu correspondente entre os humanos, ou seja, o cortejo do homem a uma mulher. Como o galo é o símbolo do macho dominador, subentende-se que arrastar asa inclui a demonstração de habilidades de macho ou mesmo de machista.
Matar o bicho - Este é um processo usado pelos beberrões há mais de quatro séculos para tomar de vez em quando o seu gole de bebida forte.
Inicialmente, e até bem pouco tempo, o pretexto medicinal rezava que um gole de bebida alcoólica de alto teor, ingerida pela manhã em jejum, surpreende o bicho que deve existir dentro do beberrão, combatendo-o. Quer dizer: um gole de bebida bem cedo, seria suficiente para eliminar toda timidez interna, por ventura existente dentro do beberrão, de forma que, ao ingerir aquela dose, logicamente o dito cujo, ficaria apto para enfrentar qualquer parada.
Dar Bode - É evidente o significado de dar, que corresponde, (entre muitos significados), a resultar ou ter por resultado. Mas o que vem a ser bode?
Lembramos que bode sempre esteve ligado às forças diabólicas, como lembra Câmara Cascudo, Dizem: "Qualquer velha bruxa de outrora, sabedora de orações e remédios fortes, informava do poder do Bode, sinônimo diabólico, temido e respeitado na ambivalência natural”.
Aliás, segundo a tradição judaica, o bode era o animal escolhido para carregar todos os pecados de seu povo e, por isso, ser abandonado num deserto. Representando todo o mal, o bode expiatório era ao mesmo tempo vítima e réu. Dar bode é resultar numa situação infernal, indesejável e confusa.
Dar com os Burros n’água - Dizem que a frase provém de um conto popular vulgarizado oralmente no interior do Brasil.
Conta-se que dois tropeiros foram incumbidos de realizar a façanha de transportar com suas respectivas tropas uma carga qualquer até um determinado lugar, onde estaria a pessoa que pagaria com um prêmio o que primeiro chegasse com a sua carga.
Acontece que o caminho era desconhecido, e ambos tiveram o direito de escolher a mercadoria que desejavam para que a viagem se tornasse mais fácil.
O primeiro escolheu uma carga de algodão, porque era mais leve.
O segundo escolheu uma carga de sal, por que era menos volumosa. Seguindo caminhos diferentes, no entanto, ambos tiveram que passar a vau por um rio, que surgiu inesperado.
O primeiro, ao tentar passar, umedeceu sua carga e os animais quase morreram afogados, saindo a custo do rio, onde a carga ficou perdida, com um peso insuportável.
Ao tentar passar, o segundo tropeiro teve toda a sua carga de sal derretida, chegando na outra margem apenas com a sua tropa descarregada. Deste modo, ao dar com os burros n’água, os dois tropeiros tiveram fracassadas as suas empresas, não logrando o desejado prêmio.
Vejamos bem, tanto a carga de algodão, quanto a de sal, eram produtos que deveriam ser envidado todos os esforços necessários para evitar qualquer aproximação da água, uma vez que não foi possível, o prejuízo foi incalculável. Portanto, “dar com os burros n’água”, é prejuízo por certo.
Ora, se é literalmente prejuízo dar com os burros n’água, principalmente quando não se pode morar a carga, imagine quanto prejuízo pode causar o cidadão cujo caráter não é digno de confiança. Quantas vezes nossas cidades são administradas em função do gestor principal, que tantos nos esforçamos para fazer ocupar tal função, a fim de trazer melhorias e benefício para toda sociedade, comprovadamente é um cidadão caráter, não assumindo, portanto, o compromisso que tanto prometeu durante a campanha eleitora.
A falta de caráter em muitos gestores públicos tem trazido incalculáveis prejuízos tanto à sociedade, quanto ao estado propriamente dito.