Neguinho; imponência de manter respeito III (Piloto)

Dezembro de 2011 estive aqui em Barão apenas por três dias e procurei por Negão, como era de costume. Cheguei à porta da marmoraria e dei de cara com ele o filhote Piloto (Neguinho pra mim). Dei pão de queijo para os dois, corri ao canto da cerca para passar o guardanapo nas orelhas de Negão e seu filho Piloto não deixou. Também não sabia de nossa manha e tomou o papel de minhas mãos e o engoliu. Fale; é cabeçudo, vai ser duro lhe colocar nos trilhos.

Voltando á cidade, desta feita para ficar mais de ano, Piloto estava só. Até que enfim, conheci seu dono Zacarias, um sujeito simpático, pouco cabelo e sombrancelhas, de voz grave, dono da casa pedras de mármore, aqui em Barão de Cocais. Perguntei por Negão e ele me contou que por uma barberagem médica, o cachorro acabou morrendo ao fazer uma pequena cirurgia na pata, na cidade vizinha Santa Bárbara. Fiquei muito triste, mas como não quero tão cedo falar em morte, quero prestar aqui minhas últimas homenagens àquele com quem tive uma amizade breve, mas muito forte: Negão.

De pelagem preta, curta, e peitoril branco tal como o pai, Piloto está agora com quatro meses. Reiniciei o ritual que dispensava toda manhã para com seu pai, no intuito de discipliná-lo um mínimo possível, visto que ele, embora já grande – pela raça – ainda é muito novo e mostra levadeza e molecagem.

Depois do lanche, o chamo para o canto da tela para acariciar-lhe o peito e limpar as orelhas, mas ele não deixa. Se pegar o guardanapo, torna a comê-lo. Estou estudando outra estratégia. Com o assovio que eu usava para seu pai, ele acostumou rápido. Zacarias contou –me que Piloto está lhe trazendo muita dor de cabeça. Me apontou um baita de um barranco escalado por piloto, para alcançar a rua.

Realmente, um belo dias desses, chequei com o lanche da manhã e quem pula no meu peito do lado de fora da cerca? Ele mesmo: Piloto.

É que Zacarias não sabe que "os dedos das pata de um animal não são todos iguais"; este ditado criei agora, rsrsrs.

Uma semana mais tarde, saí do hotel de manhã, com o lanche na mão, vinha assoviando fazendo festa e notei que não tinha festa nenhuma pra mim.

Que será que aconteceu?

Desta vez, eu que fiquei com a pulga atrás da orelha.

Você não vai acreditar! Cheguei à frente da marmoraria, Piloto vinha andando cabisbaixo, devagarzinho, com aqueles olhos tristes olhando de baixo pra cima pra mim. Fiz uma ligeira inspeção pelo seu corpo e não havia nenhuma marca de queda ou machucado. Aí pensei um pouco e comecei a rir. Já sei. Piloto ficou puto com Zacarias que havia fechado o buraco por onde ele passava à noite, rsrsrs.

Estava crente que podia sair à noite pilotando rua afora, numa boa.

Incrível cara. Isso mesmo. Piloto estava puto da vida.

Pra você ter uma idéia, eu tive que abaixar o pão de queixo na altura de seu queijo.

É mole?

Afonso Rego
Enviado por Afonso Rego em 17/01/2012
Reeditado em 24/01/2012
Código do texto: T3444889
Classificação de conteúdo: seguro