A FAMÍLIA E O DESAPEGO

Sem sombra de dúvidas, a família é a primeira de todas as escolas onde se evidencia a prática de um modelo de ensinamento cuja prevalência é dominante no campo da Moral e da Ética. Pelo menos é o que estava e ainda permanece no projeto do Coração do Senhor em relação à família. É aí que, na pedagogia do amor que “tudo desculpa, tudo crê, tudo espera e tudo suporta”, mas também aplicando simultaneamente conceitos bíblicos que nos esclarecem a eficácia da Palavra de Deus, que é “útil para ensinar, corrigir, repreender e formar na justiça”, encontra-se o equilíbrio ideal para uma educação sadia e segura, segundo as orientações do Criador.

Embasado neste contexto inicial, podemos incluir o desapego como exercício de aprendizado constante e testemunhal dos pais, fazendo com que brilhe esta luz diante dos filhos, para que vendo este brilho possam apreender a vivência de uma partilha generosa.

Vem-me à memória o primeiro episódio da vida de Abraão. Ele tinha setenta e cinco anos de idade quando ouviu o chamado de Deus: “Deixa tua terra, tua família e a casa de teu pai e vai para a terra que eu te mostrar”. Deixar a terra, a família, a casa do pai numa idade tão avançada, nos faz pensar o que passou pela cabeça e coração deste homem. Mas quando continuamos esta leitura, intuímos que Abraão desvencilhou-se como que instantaneamente desses apegos, tomando sua mulher, seus criados, seu sobrinho, seus animais, e partindo para Canaã. É de pensar também que se os seus pais não o houvessem disciplinado nesta questão do desapego, ele teria recuado e a voz dos seus apegos soaria muito mais alta do que a voz do próprio Deus. De criança ele foi modelado na Escola da Indiferença, da qual nos fala Santo Inácio de Loiola e Santa Teresa d’Ávila quando nos diz: “Nada te perturbe”. Esta indiferença pode ser usada como sinônimo de desapego. Se eu estou em Fortaleza, tudo bem; se fui transferido, tudo bem. Se posso trocar de carro, tudo bem; se não posso, tudo bem. Se tenho uma saúde de aço, graças a Deus; se tenho limitações, graças a Deus também. Quem cultiva desapego semeia partilha. E aí o egoísmo, o egocentrismo, a egolatria não encontram morada no coração adulto. Isso só se aprende de pequeno, modelando, podando, corrigindo. Na Escola do Desapego os phD’s somos nós.

Ainda outro exemplo extraído da Bíblia. Depois que Gabriel narrou tudo o que viria a acontecer, Maria apenas disse: “Eis aqui a escrava do Senhor”. Fazer-se escrava é não ter direito a nada, nem a ela mesma; mas em contrapartida, quando nos fazemos escravos do Senhor, somos absolutamente livres de apegos, e servos da partilha.

Exercitem-se na abstinência do uso de pronomes possessivos! O “nosso” tem um sabor gostoso de comunidade. Família não é hotel, onde cada hóspede possui os seus pertences. Na Família cada um é de todos, e todos de cada um.

Antonio Luiz Macêdo
Enviado por Antonio Luiz Macêdo em 15/01/2012
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