Cyberexclusão Racial
Há menos de um ano, eu tinha uma conta no site americano MySpace. Deletei a danada no mesmo instante em que descobri que Rupert Murdoch comprou o site dos dois fundadores por algumas dezenas de milhões de dólares. Quem é Rupert Murdoch? Alguns de vocês vão se lembrar dele como o homem que inspirou o filme Cidadão Kane, mas o restante não precisa se preocupar em assistir ao filme (embora seja uma boa idéia), basta saber de uma coisa. Ele é maligno.
Murdoch faria qualquer coisa por mais dinheiro e poder, e isso porque é apenas o quarto homem mais rico do planeta. Quanto à poder, bem, imaginem um homem que controle quase toda a mídia mundial e a use em prol de seus próprios interesses financeiros. Esse é Murdoch.
Pois bem, voltando à história, a News Corporation (Sim, isso mesmo: “Corporação de Notícias”, um doce para quem souber responder de onde veio o nome do programa de TV que é tema de Battle Royale) adquire o MySpace, o Orkut americano, em mais uma parte de seu plano de dominação mundial da mídia. Certo, todos sabemos o quanto sites de relacionamentos são populares, mas também sabemos que isso não se reverte em renda tanto quanto parece. Então, porque um demônio louco por dinheiro iria se interessar por algo que não dá muita renda? Ah, meus amigos, não se esqueçam que, se existe algo que Rupert Murdoch ama mais que dinheiro, é poder. Por que ele pode usar este poder para ganhar mais dinheiro ainda.
Mas havia um problema no MySpace. Sites de relacionamentos não são uma redação de jornal onde você demite quem quiser quando quiser (sem pagar os direitos trabalhistas, claro, fica mais barato esperar pelo acordo na justiça, onde, além de pagar menos do que deveria, ainda pode enrolar anos enquanto o dinheiro deles faz mais dinheiro para você), porque ninguém ali é seu empregado. Não parecia haver um meio de manipular a informação no MySpace. Mas Murdoch parece ter aprendido algo com seus companheiros de negócios da direita americana, os Republicanos.
Em 2000, a eleição presidencial americana foi decidida por 573 votos. Al Gore, o candidato democrata, o partido de esquerda americano, perdeu, mesmo tendo ganho centenas de milhares de votos a mais que George W. Bush. Sim, parece loucura, mas na maior democracia do mundo o candidato mais votado nem sempre é o vencedor, não sei como eles chamam isso, mas eu sei como eu NÃO chamo: democracia. Mas enfim, isto não vem ao caso aqui, o que importa é que Bush não venceu a bizarra eleição americana. Ele a roubou.
Pela lei da Flórida, criminosos e ex-criminosos são proibidos de votar. Até ai, sem problema. O problema é quando o governo do estado decide criar uma lista de eleitores-criminosos com 90% de eleitores-não-criminosos. (Adivinhem o nome do governador? Uma dica: termina com “Bush”). Mas não seria só isso, é claro, que daria a eleição para Bush. Atirar no escuro mataria eleitores dos dois lados. Eles precisavam de mais, eles precisavam do grupo no qual 90% das pessoas votassem nos democratas, eles precisavam de negros e hispânicos na lista.
Como fazer isto acontecer? Simples, meu caro, é só colocar a raça como um fator discriminatório no programa de computador que caçava os criminosos através das listas de eleitores. Assim, um criminoso negro chamado Zé Ninguém eliminaria um negro chamado Zé S. Ninguém, mas não um branco com o mesmo nome. Percentualmente, os negros cometem mais crimes nos EUA, então, mais negros seriam retirados da lista de eleitores do que brancos. Simples, não?
E o que essa história tem a ver com o MySpace? He, pois bem. Hoje, dia 10 de janeiro, eu li no jornal a seguinte notícia “MySpace terá usuários com antecedentes criminais excluídos”, o resto eu deixo com a sua imaginação e bom senso, fica apenas esse comentário final: se você não pode demitir um usuário de esquerda do seu site grátis, então exclua-o de outra forma.
P.S: Para maiores informações sobre Rupert Murdoch e o roubo da eleição americana em 2000, recomendo que leiam os livros Mentiras e A melhor democracia que o dinheiro pode comprar, de, respectivamente, Al Franken e Greg Palest.