A Febre Universitária (Sertanejo Universitário)

Iniciando este texto, gostaria de deixar claro que o mesmo não tem por objetivo impor algum tipo de preferência musical (não pretende ditar o que é certo ou errado) ou mesmo analisar musicalmente (cadências, harmonias, ritmos, etc) o gênero que será nosso tema: o sertanejo universitário.

Longe das temáticas românticas e voltadas para o estilo de vida simples e rural e igualmente diferenciado do apelo sentimental de Chitaozinho & Xororó e Zezé de Camargo e Luciano, o sertanejo universitário surgiu como uma imensa jogada de marketing com a função de separar o gênero da noção de campo, atraindo, assim, às casas noturnas, um exército de jovens (muitos deles estudantes de universidades) sedentos por agito e “pegação”. "Fazemos música para quem gosta de beijar na boca", diz Vinícius, um dos principais artistas do movimento.

Esta afirmação vem quebrar a noção que temos de que o gênero é popular por “dizer o que o povo entende” ou “falar a língua do povo”. Embora beijo na boca seja muito apreciado, não acredito que uma boa parcela da população encare como ideal máximo de sua vida (mesmo que muitos jovens o assumam em um contexto festivo). O Sertanejo Universitário é um lucrativo negócio que visa atingir um público determinado e bem estudado, assim como o foram o Forró, Axé e Pagode – todos recebendo o adjetivo universitário como forma de se diferenciar de suas raízes, ou seja, respectivamente, os arrasta-pés nordestinos, as percussões baianas e as cuícas cariocas.

Buscamos as três canções de sertanejo universitário mais tocadas em 2011, de acordo com conhecido site comercial; “Ai se eu te pego”, “Nega”, “Lê Lê Lê”. A primeira delas é notadamente representada por imagens sexuais como “delícia”, “se eu te pego”, etc, a terceira narra o fato de um jovem estar sem dinheiro e se sentir atraído por uma bela garota que se encontra no camarim de uma balada e vale-se do termo (ou expressão) que nomeia a música como refrão, o mesmo não carregando nenhum sentido. A segunda, “Nega”, abusa no apelo romântico e relata através de frases-feitas como “o amor nos deu uma chance” e “eu to pronto pra te amar”; o que diferencia esta canção das outras duas é apenas o tom mais lírico-melancólico, mas com frases fáceis de se decorar e com uma temática comum à maioria dos jovens que tem ou já teve uma “paixonite”. A questão de ser agitada ou não, ou seja, apropriada pro clima das baladas, não será abordada nesse texto porque me falta conhecimento musical.

Não iremos delongar nossa análise mas o que chama a atenção neste estilo é a repetição temática. Tive lendo algumas outras letras e a conversa é sempre a mesma; ou uma pessoa nostálgica pela ausência da(o) amada(o) ou eufórica pela possibilidade de beijar ou “pegar” alguém atraente em determinada festa. De resto, é exceção.

Esta abordagem não buscou criticar o gosto de ninguém, apenas se manifesta em relação a algo que está publicado (ou seja, posto a público), passível a críticas positivas ou negativas (assim como este texto). Terminamos com a fala do artista “sertanejo”, Rolando Boldrin: “Eles falam que são pop, porque é chique falar 'pop', é chique falar que cantam Beatles, é chique falar que veste roupa do Texas, é chique falar que canta country.O termo caipira fica parecendo que é uma ofensa (...) universitário deveria estar preocupado com seu estudo, com a música de raiz brasileira. O que eles fazem não é música brasileira, não tem nada a ver com a nossa cultura”

Giu Santos
Enviado por Giu Santos em 27/12/2011
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