Sintomas de normalidade
Acordamos já agitados pelo despertador, mesmo sendo musical. O tubo da pasta dental indica 90 g. Com sorte, tem 85 g. O saco de 1 kg de açúcar talvez atinja 975 g. O rolo de papel higiênico que deveria ter 35 m, pode ter apenas 32 m e nos deixar em situação delicada. O entregador do jornal ainda não chegou na hora pela 8ª. vez no mesmo mês.
Consideramos isto normal.
A esposa foi para a fila municipal às 3 horas da manhã para tentar uma vaga na 1ª. série para o caçula da família. O filho de 11 anos pegou o ônibus que o leva à escola a mais de 25 km de sua casa. O filho maior não foi para o colégio pois seus professores combinaram “enforcar” a 6ª. feira após o feriado da 5ª. feira. A sobrinha passa 6 horas seguidas na frente do game contendo inocente joguinho violento onde a distribuição de pancadas e tiros atinge a mente da criança em formação milhares de vezes ao dia.
Consideramos isto normal.
A sogra voltou da padaria com o pó de café e torceu o pé por ter pisado numa grade de bueiro, pois a calçada em frente ao prédio está ocupada por um automóvel “off road”. A rua está engarrafada pois vários caminhões descarregam mercadorias fora do horário permitido, enquanto o guarda está fazendo um lanche nos fundos da padaria. Um dos motoristas urina ao pé da árvore em frente à farmácia. Na pracinha, mendigos fazem higiene geral no chafariz ao lado de cães vadios.
Consideramos isto normal.
No banco da esquina, dos cinco caixas eletrônicos, apenas dois funcionam. Saques somente em notas de R$ 50,00. O ar condicionado está com defeito há 3 dias. Quase quarenta idosos aguardam resmungando sobre a reposição do benefício de apenas 2%, enquanto o tal banco lucrou 185% no mesmo período. O pequeno empresário tem de preencher dezenas de formulários para obter um empréstimo para levantar sua firma, enquanto grandes estelionatários dão golpes nos cofres públicos sem serem incomodados pela burocracia.
Consideramos isto normal.
O IPVA do velho carro aumentou mais de 12%, enquanto seu preço de mercado caiu 4% pelo menos. O IPTU aumentou quase na mesma proporção. As ruas continuam esburacadas, com bueiros entupidos, postes de iluminação sem lâmpadas há mais de três meses e lixo acumulado nas esquinas. Trabalhamos 4 meses por ano para pagar as tributações elevadas que na maior parte das vezes não são aplicadas nas áreas destinadas por lei.
Consideramos isto normal.
A força policial patrulha a cidade em veículos sem manutenção, portando revólveres calibre 38 para enfrentar os fuzis AK-47 dos traficantes. Além dos impostos, temos de pagar uma taxa por fora para que “milícias” mantenham o quarteirão em paz. Os hospitais não possuem estoques de curativos básicos. Médicos ganham menos que motoristas de ônibus. Escolas estão sem quadros, giz e cadeiras. Professores ganham menos que trocadores de ônibus. Jornais estrangeiros noticiam uma morte brutal por semana na última página do tablóide. Nós exibimos chacinas de 30 ou 40 pessoas nas manchetes principais.
Consideramos isto normal.
Menores de 18 anos podem votar, tirar carteira de motorista, gerar filhos, matar pessoas de bem em assaltos diversos. Mas não podem ser penalizados mesmo após o quinto assassinato, pois são “di menor”. Ficam impunes a exemplo dos legisladores que multiplicam seus patrimônios por 100 em apenas 4 anos de “trabalho”(?) estafante. E ainda são reeleitos mesmo com 4 ou 5 processos de corrupção em seus currículos. Consideramos isto normal.
Quem relata parte do caos social ao invés de enaltecer o Carnaval pode ser acusado de estar sob abalo emocional. Menos mal, pois de acordo com sua visão global, pode ser até considerado um ANORMAL.
Haroldo P. Barboza – Matemático, Analista de computador e Poeta
Autor do livro: BRINQUE E CRESÇA FELIZ!
Vila Isabel/RJ - jan/2007
Referendo de sucesso será o que permitir expurgo no Congresso!
Nós podemos fazer a diferença na verdade do futuro!