JEITINHO BRASILEIRO, IDENTIDADE PARALELA E O CÂNCER POLÍTICO
"O pior bandido todos é aquele investido no Poder Público, sobretudo o fardado e o togado". (Rodrigo Foureaux)
Há muito tempo, o Brasil sofre de um sério problema que atinge a todas as camadas sociais, é o famoso “jeitinho brasileiro”. E quem perde com isso? Sem qualquer sombra de dúvidas, são todos os brasileiros.
Ao analisarmos a classe política de nossa nação, observaremos que esse “jeitinho” começa por lá. São muitos políticos e autoridades revestidas de poder que aproveitam de sua função pública para dar um “jeitinho” e este muitas vezes está revestido de corrupção e suborno.
O artigo 37 da Carta Máxima de nossa nação é claro quando afirma que: “A administração pública direta e indireta de qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios obedecerá aos princípios da legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência...”. Então vejam, no jeitinho brasileiro, onde estão presentes, principalmente, os princípios da impessoalidade e da moralidade? Se está se dando um jeitinho é porque não estão se seguindo os mandamentos constitucionais, especialmente em relação à impessoalidade, sendo assim, como ficaria aquele que não conhece ninguém influente? Não somos todos iguais conforme dispõe o art. 5º da Constituição Federal? Desnecessário expor também a clara e evidente afronta a qualquer noção de moralidade.
Estamos no século XXI, não vivemos mais em mundo antigo, arcaico, no qual quem é amigo do rei pode tudo. Como disse o Excelentíssimo Sr. Dr. Ministro do Supremo Tribunal Federal Joaquim Barbosa: “Esse jeitinho brasileiro tem que acabar”.
No campo do direito temos o brocardo “dura lex, sed Lex”, ou seja, a lei é dura, mas é a lei. Acrescento ainda que é para todos, independentemente da origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação, conforme dispõe a Carta Magna brasileira.
Devemos observar ainda, que as imunidades e prerrogativas garantidas para algumas autoridades em decorrência do cargo que ocupam são para propiciar o adequado exercício da função que lhes cabe, visando sempre a preservação do interesse público e não a manutenção de regalias pessoais infundadas.
É muito comum, em blitz policial, condutores de veículos que estão em situação irregular, ao serem parados pela autoridade policial, fazerem a clássica pergunta:” O seu guarda, não tem como dar um jeitinho não?”.
Lembrem-se que as medidas tomadas pela autoridade são vinculadas e não discricionárias, logo, não cabe ao policial militar decidir se tomará as devidas providências ou não, pois naquele momento é um representante do Estado, que deve agir de acordo com as determinações da legislação existente no Brasil. Obviamente, observa-se que muitas vezes o bom senso faz-se necessário, sem contudo, significar uma forma de “jeitinho brasileiro”. Como exemplo, poderíamos citar quando a Polícia Militar realiza blitz educativa com o intuito de orientar e avisar a sociedade sobre alguma nova resolução que entrou em vigor.
Às vezes nos deparamos também com a famosa frase: “Você sabe com quem está falando?”. Seja em abordagens realizadas pela polícia ou em algumas confusões que alguns arrumam na rua. Esta famosa frase é utilizada, geralmente, por alguém que detém alguma influência social, normalmente detentor de algum cargo público ou parente de alguma autoridade, e se sente “maior” que a outra pessoa, sendo que a grande verdade é que somos todos iguais. O que é chamado de “identidade paralela”.
Este é o nosso Brasil, repleto de desigualdades, com muitos políticos que dão um jeitinho de morar em mansões, de aumentar abusivamente seus salários, viajar com o dinheiro do povo, etc, etc, etc, não pararia de falar. Esse tal de jeitinho desce até chegar ao cidadão simples, trabalhador, que não conhece ninguém e ao ser flagrado com algo de errado pede para dar um “jeitinho”.
Os jovens de hoje que serão o futuro de nossa nação crescem vendo isso. Seja na televisão, na rua e até mesmo dentro de casa. Com isso ele coloca na cabeça que isso está certo e passa pra frente, formando uma espécie de efeito cascata.
Enquanto a cultura brasileira não mudar e acabar com esse jeitinho, todas as classes sociais serão afetadas e o resultado será certamente atraso e corrupção, e esse câncer político, a meu ver, o pior de todos, e é a doença que mais mata, pois deixa de investir onde devia, etirando alimentos dos que passam fome; saúde dos enfermos; recursos de que já não tem para dar a quem já tem.
É por isso que “enquanto a periferia não come, o centro da cidade não dorme.”, como muito bem exposto por Roberto Requião.
A sociedade sempre taxa o assaltante e o ladrão de bandido, mas é preciso indagar se bem pior do que estes não são aqueles que se encontram na cúpula dos Poderes constituídos do Estado, sendo por vias indiretas seus verdadeiros chefes.
Por fim, acredito que se todos agissem com legalidade com uma pitada de bom senso e razoabilidade já seria um grande avanço para toda a nação. Precisamos é de dar um jeito nesse jeitinho!