A mulher e o mercado de trabalho
O quadro de avisos ou folha de empregos está repleto de oportunidades, porém de dez vagas oferecidas para a área administrativa, geralmente duas são para o sexo feminino. Não bastassem as poucas vagas, surgem diante da candidata outros contratempos. Como exemplo, pode ser citado vaga oferecida num determinado balcão de empregos, quando uma das empresas contratantes exige, como pré-requisito, formação e experiência na área oferecida; diferentemente de outra que oferece uma vaga, no entanto estabelece o perfil, exigindo que a candidata possua a idade entre vinte a trinta anos.
Direito da empresa? Certamente! Afinal, a contratante é quem sabe de sua clientela, conhece seu produto e necessidades, porém fica a pergunta: por que algumas empresas excluem a possibilidade de inclusão no mercado de trabalho a partir de uma determinada idade?
Torna-se uma mulher acima de trinta ou quarenta anos incapaz de realizar alguma tarefa, fora do lar? Que critérios são usados por determinadas empresas ao desqualificarem as mulheres, principalmente as acima de 40 anos, sem sequer verificar a capacitação que possuem para o mercado de trabalho?
Se algumas empresas se dão ao luxo de sequer receberem os currículos, sendo pouquíssimas as empresas que respondem à solicitação na hora da entrega, seja por e-mail ou por meio de entrevista, quanto mais as chances de uma mulher acima de quarenta anos ter seu currículo avaliado. Está certo que, a partir de determinada idade, isso tanto para homens quanto para as mulheres, os riscos serão maiores para a empresa. Quando alguns empresários afirmam ser a corrida ao mercado de trabalho - por mulheres acima de 40 anos - uma mera tentativa de garantir uma aposentadoria, desconsideram, no entanto que acontecem nessa faixa etária a maioria das separações ou a possibilidade de enviuvar ou mesmo o fato de terem seus filhos crescidos, sobrando, finalmente, tempo para investirem em seus sonhos. Correto é, inclusive, afirmar que algumas mulheres usam de má fé, trabalham alguns meses e depois se afastam, alegando problemas de saúde. O que geralmente acontece - segundo se observa - apenas com mulheres que não possuem a devida qualificação. Agora, fechar o perfil para a vaga prevista, sem sequer uma avaliação da candidata, é discriminação. Neste caso, por idade!
Certamente, muitas são as mulheres por este Brasil afora que já sofreram discriminação no mercado de trabalho: ou por serem negras, mães solteiras, terem parceiro fixo ou por não estarem dentro dos padrões criados pela mídia, altas, baixas, magras, consideradas feias e, finalmente, por estarem acima da média de idade.
Não é a primeira vez, nem será a última, que mulheres se vêem constrangidas diante desta situação, o que demonstra, certamente, que o fato de nascer m u l h e r exige muito mais que dissimulação e ousadia. Exige dose especial de ânimo para lutar por um espaço que, graças a Deus, a cada dia vem sendo ocupado por aquelas que não temem ousar; sabedoria para se especializar cada vez mais, mesmo arriscando ser colocada de lado devido a sua cor, pouca beleza ou chegada da idade, mas principalmente, determinação para dizer: não aceito ser discriminada, seja pela cor, falta de beleza ou idade, ainda que haja o risco de, assim como no passado, ser queimado, não o corpo, mas o ideal que, na verdade, é um direito de todo o ser humano: vida digna, a partir de um trabalho digno.