EU AINDA VOU TER UM AMOR ASSIM

EU AINDA VOU TER UM AMOR ASSIM

Uma nuvem negra havia encoberto totalmente a lua, absorto em meus pensamentos e na escuridão eu vi os teus olhos fosforescentes por completo alheios aos sortilégios da falsa noite. Perguntei o que pensavas, mais o silencio foi a tua resposta, como se ousasse enumerar uma nova lista de acontecimentos só explicáveis por um contubérnio desenfreado de uma relação imune ao medo ou que tramasse um amanhã, um futuro ou até mesmo uma vida a dois... O amor nunca se atem a nada a não ser o probo da relação desinteressada de pessoas que buscam tão somente a felicidade e, supõe-se que até hoje, nem o ouro ou a prata tenha construído uma vida harmoniosa de carinho, de amor, de cumplicidade e principalmente de fidelidade. Inexistem fatos comprobatórios de tal relação que mesmo embevecida na champanhe francesa e adormecido em colchões de penas de gansos e cama de ouro haja sobrevivido às raias insanas da paixão, porque o amor está além de todas as materialidades que a existência humana pode provar ou ter. Há uma realidade dura que no vazio infindável de cada ser, a profanação erótica entre ter ou adquirir, exprime toda a vulgaridade confusa, que logo é substituída pelo naufrágio do coração.

A vida baseada no bem estar social e pessoal, no conforto permutado pelo amor. Que amor? O amor não se compra, não vende, ele se compraz de se próprio e assim se alimenta e resplandece a cada amanhecer. Mais nos remansos da paixão teocrática deságuam o tédios do amor inexistente. É que quando se ama e se é amado o mundo se transforma, o cheiro de rosas invade todos os recintos e o orgasmo acontece a um leve toque de corpos, de bocas que se buscam com sofreguidão e jamais pensam em um outro dia, afinal um momento de amor vale mais que o tormento de dois séculos de pura ilusão, ou amar sem ser amado é como viver entre escravos e ser mais cativo que todos eles, cuja união condena dois desconhecidos a uma dependência mesquinha e malsã, tanto mais efêmera quanto mais intensa for, porque não há caminho na troca de favores, quando esses são o corpo e a alma e, mesmo em noites cálidas de solidão a dois, se encontram as deformidades espirituais em corpos cansados que não se saciam, de bocas secas de pronunciar mentiras e de suores que não refletem o prazer mais o asco.

E assim, a escuridão não se limita a um eclipse formal da natureza, mais aqueles que criamos dentro de nós para não enxergar o único sol que de verdade nos faz viver, vibrar com todo o fervor da vida, sejam... E eu ainda vou ter um amor assim, sejamos nós lá, o que formos, mais de carne, ossos, alma e espírito em harmoniosa paz, saciando-nos a vida de um amor inesgotável, infindável como o tempo , pois assim, é o amor.