Pequeno artigo crítico sobre a obra do poeta Simbolista cruz e Sousa
Livro Broqueis – poema Antífona
Quem se depara com o livro intitulado Broqueis do poeta catarinense Cruz e Sousa precisa estar ciente de que o livro é o que há de mais inusitado até então no âmbito da poesia. Algo precisava ser reformulado, ou seja, nossos conceitos vigentes frente aos valores estéticos que vigoravam até o exato momento. Retomemos a este ponto mais adiante e, por seqüência, vamos percorrer com o olhar crítico pelos cenários dos primeiros poemas que compõem o livro.
O primeiro título é Antífona – do grego ANTIPHÕNOS – significa versículo cantado ou recitado antes ou depois de um salmo. Os títulos seguintes trazem: Siderações, Lésbia, Múmia, Em Sonhos, Lubricidade e Monja, todos sonetos. Atemo-nos no primeiro poema.
Uma vez que a escola anterior – a Parnasiana - que responde pelo valor de Belo, pela esteticidade poética (literariedade), regida pelo paradigma científico, este introjetado de Positivismo (Augusto Comte) e da Crítica da Razão Pura de Immanuel Kant, ainda não se via abalada por nenhum movimento literário novo, seja ele isolado ou excêntrico. Antífona chama a atenção já por uma perspectiva inovadora, se entendermos “inovador” como ruptura (“forças originais”), como vai dizer em de seus poemas.
Na primeira estrofe a ruptura faz-se primeiramente por meio de evocações: “Ó Formas alvas, brancas, formas claras”; depois por ordem de imagens frutos das sinestesias (mistura dos elementos sensoriais), que desse modo tornam essas imagens imprecisas, porém impressionantes por causa das sugestões, “Formas vagas, fluídas”. Resultado deste processo de construção estética, as sinestesias corroboram para a total liberdade dos fenômenos imagéticos, tornando-os puros, com suas essências requintadas, porque são captados, não somente através de uma visão imediata, mas por força dos entrelaçamentos dos sentidos. O evocar das “formas”, das “indefiníveis músicas”, das “visões” e dos “espíritos”, servirão de alicerce para um confronto direto, uma crítica aos parnasianos que fizeram da forma seu ancoradouro epistemológico.
Ainda em Antífona, o processo estilístico inovador destaca-se pela ausência de verbos imediativos, porém há um excesso de reticências. A metalinguagem, ou seja, o poema que fala do seu próprio processo construtivo, serve não só para a ascendência da forma, mas para sua transcendência ideal, como podemos ver nos versos: “Fecundai os Mistérios desses Versos/ com a chama ideal de todos os mistérios”. Essa é a expressividade lírica de quem vê o próprio poder estético predominante como uma espécie de “cárcere” refinado e aristocrático. Para se opor a esses estabelecimentos formais pré-definidos dos parnasianos, seria preciso, além de uma nova estrutura rítmica, uma suposta "realidade" que não condissesse com a realidade presente, portanto que aquela subsistisse de modo verosimil. Daí por que acreditamos assimilar no poema, através de toda sua riqueza semântica, o “Mistério”, o “Inefável”; isso dentro de uma perspectiva até mesmo trágica da existência do poeta. A nova estrutura formal na poesia de Cruz e Sousa será difundida a esmo, uma vez que em sua obra os sonetos são em maior número e propositalmente feitos à moda parnasiana com a chamada “chave de ouro” nos tercetos finais.
Uma bela obra escrita não só por um poeta negro (cuja biografia em si já carrega toda a tragicidade de um filho de escravos e que vai se tornar um republicano e abolicionista convicto, segundo aponta em suas análises Rodrgues till, um dos grandes conhecedores da biografia de Cruz e Sousa. Trata-se do surgir de uma nova escola literária: La SIMBOLISM (SIMBOLISMO. Escola que terá suas raízes na França, com os chamados "Poetas Malditos", Charles Baudelaire e Jean-Nicolas Arthur Rimbaud.