O amor pode vencer o tempo?

Espaço do Rui

Como faz quase todas as manhãs, em meados do ano passado Armando Sandroni levava seu cachorrinho Rudy para passear quando, em frente da agência do Banco do Brasil, na avenida General Carneiro, em Sorocaba, foi violentamente agredido. Um deficiente mental foi o autor da façanha e, enquanto alguns populares seguravam o agressor, outros socorreram o Armando. Esse incidente não impediu o nosso herói de continuar com esse hábito. Em todas as manhãs ensolaradas ele é visto caminhando com Rudy. Mas, o incrível é que ele tem 91 anos de idade. Sorocabano, filho de Eveline e do comerciante Isidoro Sandroni – que teve fábrica de sabão e armazém no início do século passado – Armando também foi comerciante.

Foi dono de armazém na rua da Penha e na avenida General Carneiro, na esquina com a rua Santa Terezinha. Porém, foi como vendedor de cigarros que conheceu em Tietê, SP, Dirce Sandroni, a sua esposa e mãe de Ediane, Eline, Eliete e Armandinho.

Dirce está com 86 anos, completados em 25 de setembro. É alegre, sorridente, gosta de contar piadas e ajudar o próximo. Há 15 anos é voluntária da Casa das Mães e das Crianças, que freqüenta às terças-feiras. Costura, faz lindas sacolas e gosta de conversar com as demais 29 voluntárias da instituição. É uma mulher de bem com a vida, que foi revitalizada com próteses nos joelhos e também caminha pelas ruas do bairro Santa Terezinha, a fim de bater papo com as vizinhas. Filha de Augusta Ferraz de Campos e Juventino Carlos da Silva, Dirce, quando adolescente, via chegar à sua casa o genial Cornélio Pires, também natural de Tietê, muito amigo dos seus pais.

Para quem não conhece, Cornélio Pires, nascido em 1884, foi jornalista, poeta, escritor, cantador e folclorista. Pesquisando o caboclo paulista, ele criou as Conferências de Cornélio Pires, que reuniam grandes cantadores da moda de viola. Decidiu, em 1929, lançar um disco e procurou as gravadoras. Todas bateram a porta na sua cara, dizendo que moda de viola não venderia. Cornélio, então, reuniu as duplas “Zico Dias e Ferrinho”, “Mandinho e Sorocabinha” e “Mariano e Caçula” e gravou, com dinheiro do próprio bolso, um disco com as músicas de sua autoria: “Jorginho do Sertão” e “Moda do Pião”, iniciando a Série Caipira de Cornélio Pires. Em 20 dias vendeu 5 mil cópias e foi assediado pelas gravadoras, mas se recusou a firmar contrato com elas. Continuou financiando seus discos e criou o Teatro Ambulante Cornélio Pires. Um verdadeiro gênio.

Pessoas como Armando e Dirce escrevem, com suas vidas, a bela história de Sorocaba. Talvez, aí na sua casa, existam pessoas como esse casal, com tantos causos e aventuras deliciosos para contar. Ouça seus experientes pais e avós, aprenda com eles e dê o carinho que eles merecem. Aprendam, inclusive, histórias de amor, como ensina Dirce Sandroni: “Para um casamento durar tanto o amor é necessário, mas o respeito é muito mais importante. Com ele, a gente aprende superar as fases difíceis e aceitar o outro como ele é. O respeito faz o amor ganhar força e vencer o tempo”.

Bom ano novo a todos, com muito amor.

Rui Batista de Albuquerque Martins é jornalista e publicitário

http://www.jornalipanema.com.br/exibir.php?secao=3&PHPSESSID=7fc857c7036efaee05d1dc903e3be8a4

Douglas Lara
Enviado por Douglas Lara em 06/01/2007
Código do texto: T338535