O novo horário nobre da TV
Não tem jeito, vou falar sobre novelas de novo!Acompanho esse tipo de folhetim, desde os tempos em que novela era sinônimo de bom entretenimento.Agora já não me empolgo tanto.Chego a ver parte dos capítulos e nada mais.É que a qualidade da dramaturgia caiu muito. Parece que os autores renomados já nada têm para contar, mas não dão o braço a torcer.Afinal, não dá pra desprezar salários tão polpudos, não é mesmo? Fato é que, como tantos outros telespectadores, ando meio desanimada em relação aos enredos veiculados na telinha.No entanto, vale ressalvar o que anda acontecendo no horário das seis. Cordel Encantado, na minha opinião foi uma bela história, com um elenco primoroso e uma fotografia de encher os olhos.Até escrevi um artigo sobre ela e pude comprovar que muitas pessoas reconheceram o valor da trama, haja vista os inúmeros comentários favoráveis postados na net.
Confesso que quando anunciaram “A vida da gente”, desconfiei logo de início.Não gostei nem do título.Comecei a assisti-la assim sem muita expectativa.E... fui surpreendida por um texto muitíssimo bem cuidado, com artistas dando vida a personagens de uma maneira delicada e convincente.Nada de caricaturas bizarras, de forçação de barra.É como se a gente assistisse a um vídeo caseiro, onde as pessoas não sabem que estão sendo filmadas, tal a naturalidade.Aí pude entender a propriedade do título.Trata-se realmente da vida da gente, de cada um de nós, com suas idiossincrasias, com suas alegrias e dores.A vida sendo retratada como ela é, com todas as suas nuances e imprevisibilidades.
E o que dizer das relações afetivas da trama? A encantadora dona Iná: avó amorosa, amiga e companheira (belo trabalho de Nicete Bruno).A doce Manu ( Marjorie Estiano), o patinho feio da história que se transformou numa mulher forte e bem-sucedida, sem abrir mão de seus valores.O jovem Rodrigo( Rafael Cardoso), de sorriso fácil e olhar transparente, por onde se pode entrever uma alma bondosa.Ele e Manu amadureceram precocemente pelos percalços que tiveram que enfrentar.Mas não endureceram o coração, muito pelo contrário. Rodrigo é o oposto da irmã Nanda ( Maria Eduarda), tão desmiolada, tão dura em alguns momentos, mas de uma verdade singular.E Ana? ( Fernanda Vasconcelos) O que dizer dela? O coma de longos anos que a deixou momentaneamente como personagem secundária, serviu de pano de fundo para que a trama crescesse em torno de outras personagens, passando por dramas tão recorrentes nos dias atuais, como a dificuldade de uma mulher em encontrar um companheiro verdadeiro.É o que a graciosa médica Celina enfrenta.Vale destacar também a competência dos autores em abordar a questão da adoção.Diferentemente de outras novelas, o assunto é tratado com cuidado.Alice foi bem criada, tem pais maravilhosos, mas quer saber sua origem.É um direito dela e conta com o apoio dos pais adotivos.A diferença está em mostrar que o amor está acima de qualquer coisa.Até a sexualidade é abordada com critério e beleza.O pessoal da terceira idade fica muito bem representado pela dona Iná e seu Laudelino que formam um lindo casal, cujo tesão pela vida é de dar inveja a muitos que se enclausuram no desamor. As mulheres amargas e mal amadas também foram lembradas com as personagens Eva e Vitória. Para não ser injusta, tenho que mencionar o doutor Lúcio ( Thiago Lacerda) ,um bom exemplo de médico: atencioso, competente e ético.E os autores,ainda desconhecidos do grande público, vêm conseguindo conduzir com maestria essa história tão graciosa, leve e densa a um só tempo, possibilitando que muitos apareçam em seus papéis na proporção certa, sem apelação. Ana volta da coma do jeito que era antes.A sua bondade não foi contaminada pela acidez da mãe, personagem vivida com competência por Ana Beatriz Nogueira.Eva provoca em nós raiva, indignação e pena, tal a sua humanidade.
Ana vai tomando consciência de tudo o que aconteceu e consegue entender e perdoar Manu . Em que outro horário temos presenciado exemplos tão bonitos de superação, de afetividade, de vida em sua melhor acepção?Sem contar que a história, assim como Cordel, sai do eixo Rio-São Paulo.Felizmente.Parece que os novos autores já perceberam que existem cenários maravilhosos em outras partes desse país continental. Haja paciência para vermos apenas os saradões bronzeados que nada mais fazem na vida do que jogar vôlei na praia.Trocar as praias cariocas pelas lindas paisagens do Sul é um refresco para os olhos.Não que o Rio tenha deixado de ser lindo, claro que não.Mas é muito bom que os telespectadores possam reconhecer suas regiões na telinha e se identificar com a história.
Poderia me estender bem mais, elogiando a delicadeza de “ A vida da gente”, mas quero apenas dizer que, na minha opinião, existe um novo horário nobre na TV, que é o das dezoito horas.Há muito tempo que o horário das 21h passou a ser um circo de horrores, cujas cenas e personagens grotescas assustam até gente grande.Bem que os autores de tal horário decadente podiam assistir à novela aqui mencionada.Quem sabe colocassem um pouco de sensibilidade, de elegância e verossimilhança em suas histórias? Fica aqui minha sugestão.
Enquanto isso, a gente vai se emocionando com “A vida da gente”,torcendo para que os autores Lícia Manzo e Marcos Bernstein continuem conduzindo de forma brilhante essa comovente história.
Não tem jeito, vou falar sobre novelas de novo!Acompanho esse tipo de folhetim, desde os tempos em que novela era sinônimo de bom entretenimento.Agora já não me empolgo tanto.Chego a ver parte dos capítulos e nada mais.É que a qualidade da dramaturgia caiu muito. Parece que os autores renomados já nada têm para contar, mas não dão o braço a torcer.Afinal, não dá pra desprezar salários tão polpudos, não é mesmo? Fato é que, como tantos outros telespectadores, ando meio desanimada em relação aos enredos veiculados na telinha.No entanto, vale ressalvar o que anda acontecendo no horário das seis. Cordel Encantado, na minha opinião foi uma bela história, com um elenco primoroso e uma fotografia de encher os olhos.Até escrevi um artigo sobre ela e pude comprovar que muitas pessoas reconheceram o valor da trama, haja vista os inúmeros comentários favoráveis postados na net.
Confesso que quando anunciaram “A vida da gente”, desconfiei logo de início.Não gostei nem do título.Comecei a assisti-la assim sem muita expectativa.E... fui surpreendida por um texto muitíssimo bem cuidado, com artistas dando vida a personagens de uma maneira delicada e convincente.Nada de caricaturas bizarras, de forçação de barra.É como se a gente assistisse a um vídeo caseiro, onde as pessoas não sabem que estão sendo filmadas, tal a naturalidade.Aí pude entender a propriedade do título.Trata-se realmente da vida da gente, de cada um de nós, com suas idiossincrasias, com suas alegrias e dores.A vida sendo retratada como ela é, com todas as suas nuances e imprevisibilidades.
E o que dizer das relações afetivas da trama? A encantadora dona Iná: avó amorosa, amiga e companheira (belo trabalho de Nicete Bruno).A doce Manu ( Marjorie Estiano), o patinho feio da história que se transformou numa mulher forte e bem-sucedida, sem abrir mão de seus valores.O jovem Rodrigo( Rafael Cardoso), de sorriso fácil e olhar transparente, por onde se pode entrever uma alma bondosa.Ele e Manu amadureceram precocemente pelos percalços que tiveram que enfrentar.Mas não endureceram o coração, muito pelo contrário. Rodrigo é o oposto da irmã Nanda ( Maria Eduarda), tão desmiolada, tão dura em alguns momentos, mas de uma verdade singular.E Ana? ( Fernanda Vasconcelos) O que dizer dela? O coma de longos anos que a deixou momentaneamente como personagem secundária, serviu de pano de fundo para que a trama crescesse em torno de outras personagens, passando por dramas tão recorrentes nos dias atuais, como a dificuldade de uma mulher em encontrar um companheiro verdadeiro.É o que a graciosa médica Celina enfrenta.Vale destacar também a competência dos autores em abordar a questão da adoção.Diferentemente de outras novelas, o assunto é tratado com cuidado.Alice foi bem criada, tem pais maravilhosos, mas quer saber sua origem.É um direito dela e conta com o apoio dos pais adotivos.A diferença está em mostrar que o amor está acima de qualquer coisa.Até a sexualidade é abordada com critério e beleza.O pessoal da terceira idade fica muito bem representado pela dona Iná e seu Laudelino que formam um lindo casal, cujo tesão pela vida é de dar inveja a muitos que se enclausuram no desamor. As mulheres amargas e mal amadas também foram lembradas com as personagens Eva e Vitória. Para não ser injusta, tenho que mencionar o doutor Lúcio ( Thiago Lacerda) ,um bom exemplo de médico: atencioso, competente e ético.E os autores,ainda desconhecidos do grande público, vêm conseguindo conduzir com maestria essa história tão graciosa, leve e densa a um só tempo, possibilitando que muitos apareçam em seus papéis na proporção certa, sem apelação. Ana volta da coma do jeito que era antes.A sua bondade não foi contaminada pela acidez da mãe, personagem vivida com competência por Ana Beatriz Nogueira.Eva provoca em nós raiva, indignação e pena, tal a sua humanidade.
Ana vai tomando consciência de tudo o que aconteceu e consegue entender e perdoar Manu . Em que outro horário temos presenciado exemplos tão bonitos de superação, de afetividade, de vida em sua melhor acepção?Sem contar que a história, assim como Cordel, sai do eixo Rio-São Paulo.Felizmente.Parece que os novos autores já perceberam que existem cenários maravilhosos em outras partes desse país continental. Haja paciência para vermos apenas os saradões bronzeados que nada mais fazem na vida do que jogar vôlei na praia.Trocar as praias cariocas pelas lindas paisagens do Sul é um refresco para os olhos.Não que o Rio tenha deixado de ser lindo, claro que não.Mas é muito bom que os telespectadores possam reconhecer suas regiões na telinha e se identificar com a história.
Poderia me estender bem mais, elogiando a delicadeza de “ A vida da gente”, mas quero apenas dizer que, na minha opinião, existe um novo horário nobre na TV, que é o das dezoito horas.Há muito tempo que o horário das 21h passou a ser um circo de horrores, cujas cenas e personagens grotescas assustam até gente grande.Bem que os autores de tal horário decadente podiam assistir à novela aqui mencionada.Quem sabe colocassem um pouco de sensibilidade, de elegância e verossimilhança em suas histórias? Fica aqui minha sugestão.
Enquanto isso, a gente vai se emocionando com “A vida da gente”,torcendo para que os autores Lícia Manzo e Marcos Bernstein continuem conduzindo de forma brilhante essa comovente história.