VOU MATAR ALGUÉM AMANHÃ...
A maioria dos acidentes com veículos têm a mesma origem das enchentes de grandes cidades; são as pessoas que provocam e nunca aprendem a evitar. O cidadão que joga lixo numa rua de cidade tem o mesmo caráter que o motorista que dirige bêbado, com sono ou aquele que pensa que sabe dirigir; todos são criminosos em potencial e já passaram dos limites plausíveis. Não há lei, informações publicas ou conselhos de amigos que os façam refletirem sobre as atrocidades que cometem!
As polícias rodoviária, estadual e federal de Minas Gerais acabaram de divulgar o balanço mortífero provocado no último feriado prolongado de 2011. Apenas aqui, no Estado que possui a maior malha rodoviária do Brasil, mais de 500 acidentes mataram 52 pessoas entre a noite de sexta-feira 12/11 e a manhã de hoje, 16/11. Foram quatro dias de sangue jorrando no asfalto mineiro e a conclusão da polícia é unânime: imprudência!
Pelas estatísticas deste feriado último, um em cada dez acidentes gerou vítima fatal. O número de feridos ultrapassa 400 casos, entre feridos leves e graves. É aterrorizante ter que tentar compreender o inexplicável; que mais de 50 pessoas morreram por causa do álcool, drogas e irresponsabilidade. Muitos não possuíam a CNH, outros não checam as condições de pneus e mecânica de seus veículos; alguns não usavam o cinto de segurança, outros dormiram ao volante e muitos pensam que são os ases do asfalto, que podem ultrapassar de qualquer modo, acelerar ao máximo e dane-se quem vier a sua frente!
No ano passado um grande amigo, policial civil, saiu de férias com sua família e resolveu descansar no Espírito Santo. Teófilo Lacorte era uma daquelas pessoas pacatas e dedicadas aos amigos e ao trabalho policial. Saiu de Belo Horizonte e já quase chegando ao seu destino com sua família, um caminhão desgovernado avançou na direção contrária, invadiu a pista e chocou-se com o veículo de meu amigo. Fora a saudade dos amigos, Teófilo apenas é lembrado com o nome simbólico da cantina do Departamento de Policia de Meio Ambiente. Um ano depois da morte de Lacorte, dezenas de outras mortes são contabilizadas na mesma estrada, conhecida entre nós como a “rodovia da morte”.
As polícias rodoviárias, apesar de razoavelmente equipadas para seu trabalho, são impotentes diante da facilidade legal que estes assassinos são beneficiados. No Brasil, que só promete mudanças, matar ou morrer no trânsito é uma questão tão banal quanto viver na miséria plena. Todos nós sabemos quais são os reais problemas; sabemos onde estão localizados, mas insistimos em organizar grupos de estudos que vão do nada ao lugar nenhum.
O Governo que tanto já bateu na questão da privatização quando era oposição, agora vende aos montes as rodovias federais por qualquer preço e sem ter qualquer poder de punir as concessionárias que ficam cada vez mais ricas com os pedágios cobrados e sem fazer praticamente nada, salvo as suntuosas praças de arrecadação e cobrança de pedágios.
Entre Salvador e Feira de Santana, as duas maiores cidades baianas que dista 108 km uma da outra, havia no passado uma boa malha rodoviária duplicada, quase plana e quase reta da BR-324. Décadas depois de duplicada e somando centenas de acidentes gravíssimos ao logo de seu trecho pequeno devido ao descaso público, o Governo Lula resolveu vendê-la, possivelmente a algum amigo. Hoje quem faz o trecho entre as duas cidades passa por no mínimo três praças de pedágio; quem se destina ao aeroporto de Salvador e não quiser ter o desprazer de passar pela região da rodoviária, ainda precisa passar por outra praça de cobrança, mas esta é estadual e também foi vendida pelo Governo da Bahia que, acreditem, também é do PT.
No caso do trecho da BR-324, que não é o único do Brasil, primeiro se construiu as praças de cobrança; depois, numa data sem qualquer compromisso, se eles quiserem poderão arrumar a estrada; mas enquanto isso não chega, os milhares de buracos, desníveis, falta de sinalização e contando com apenas um posto da PRF, dezenas de acidentes permanecem acontecendo e ajudando ainda mais nas estatísticas pútridas de uma estrada que cobra para matar.
Por mais que os mecanismos estaduais que envolvem os DETRANs intensifiquem as modalidades de se adquirir uma CHN, o Brasil inteiro sabe que basta se pagar uns trocados para algum meliante rotulado de funcionário público para conseguirmos o documento para cegos, analfabetos e até falecidos. Minas Gerais é o Estado que pouco se ouve a respeito de facilitação na obtenção das carteiras de habilitação, mas mesmo aqui, que a Polícia Civil é enérgica, há sim muitos casos e a estrutura de inteligência já está agindo para prender não só quem compra, como também quem vende estas carteiras.
O sujeito que paga a alguém para ter no bolso uma CNH, com certeza não possui qualquer direito de ser considerado no mínimo argucioso, porque as aulas teóricas e práticas são tão simples e infantis, que eu não duvido nada de minha filha de 7 anos passar com louvor. Já o questionário de 21 questões aplicado sob o rótulo de “legislação” é tão ingênuo e fácil de ser “DECORADO” que eu me surpreendo quando alguém que tenha concluído no máximo da 5ª série me informa que foi reprovado. Já o exame prático, este eu confesso: se a pessoa não consegue passar, não deveria sequer estar no banco do carona. É uma voltinha simples pelo quarteirão e uma engate de marcha ré para estacionar o carro entre duas barreiras largas; nada mais; e ainda chamam isso de “exame”; e milhares de pessoas são reprovadas!
As pessoas morrem ou por não terem a mínima ideia do que seja um carro; ou por dar de cara com gente desta estirpe; gente burra, incivil e criminosa! Muitas pessoas pensam que saber ligar o carro e dominar o equilíbrio emocional para colocar a primeira marcha em contrapartida da embreagem é saber dirigir. Ligar um carro e sair rodando com ele, qualquer asno manco, cego, surdo e mudo sabe fazer. Ter na carteira uma CHN, qualquer um que possa se auto afirmar como ser humano com mais de 18 anos também pode; o grande problema é associar esta permissão para conduzir e o intelecto simples de conhecer noções básicas de segurança, mecânica e física.
Poucos imaginam que os freios não servem apenas para não colidir com algo a sua frente; poucos sabem o quanto potente é o motor do carro que conduzem, muito menos o que ele pode produzir de força ou ainda o que fazer caso ele falhe. Relação de força, velocidade e marcha, isso é uma coisa de outro mundo para mais de 70% dos atuais motoristas. Condição ideal de pneus para cada tipo de solo e clima; condições dos limpadores de para-brisa, faróis, alinhamento e balanceamento de pneus e relação entre espaço e massa deslocada em velocidade, duvido que a maioria saiba explicar ou praticar de modo que não exponha a sua vida e a de quem trafega perto dele.
Todos estes (e outros) conhecimentos básico de um veículo e de sua dirigibilidade deveriam ser mais exigidos destes novíssimos motoristas, mas enquanto não são, temos que nos acostumar a ver mais mortes, decapitações, mutilações e outra lesões, inclusive as psicológicas, provocadas pela escória da sociedade, que mata e permanece dirigindo pelas cidades do Brasil.
- Por que comprar o mau motorista ao cidadão imundo? Ambos matam, são covardes e quanto estão entre amigos ainda se gabam que estão contribuindo para o progresso do Brasil, sem qualquer tipo de remorso pelos atos praticados! Nenhum que pertença a estas classes quando se deitam na cama, pensam: - Desta forma eu vou matar alguém amanhã; ou provocar minha própria morte!
Carlos Henrique Mascarenhas Pires é editor do blog www.irregular.com.br