Nada Valho...
Nada valho...
Mas não peço por mim.
Peço pelas lavadeiras que encostam suas barrigas vazias nos tanques da ilusão.
Das marmitas vazias, que se enchem de ar, guardadas nas mochilas sem alça.
Pelos moleques que descalço, andam nas trilhas dos trens subúrbios.
Do bebe, que chupando um seio vazio e estério, chora de medo e insegurança.
Nada valho...
Mas não peço por mim.
Peço pelo por do sol que leva o trabalhador pra casa, para um dia de descanso.
Pelas estrelas, que viram velas no caminho do homem do mato.
Pela lenha, que ascende o fogão, para o café torrado no pilão.
Pela chaleira, que guarda o chá de manjericão.
Nada valho...
Mas não peço por mim.
Peço pelo marido desempregado, que a fé bateu em retirada.
Pela mulher desesperada, que tirou o filho numa balada.
Do menino que dorme, sem esperança de um amanhã.
Mas não peço por mim...
Pois nada valho.
Apesar de ter o teto, que me abriga.
O cobertor que me cobre.
Os filhos que me abraçam.
O marido que me ampara.
Ainda nada valho...
Mas peço em nome daqueles que acreditam que existe um horizonte, um sol quente.
Pelos que acreditam que tudo passa, tudo chega, mas nada é permanente.
Pelos que acreditam no amor, na poesia, na flor, e no beijo de amor.
Ainda que eu nada valha, estarei aqui pra ajudar a aliviar a dor...
Clemilza Maria de Oliveira Morais