O PRECONCEITO EXISTE

Era um dia como outro qualquer. Entre aqueles dias pelo qual consegui sair do trabalho no seu devido horário, sem horas extras e sem trabalhos sem fim.

Enquanto esperava o ônibus eis que surge uma mulher negra com seus dois filhos, uma menina que aparentava ter uns 12 anos e um menino com 7 anos. Foi quando tive um daqueles momentos que se gela por dentro.

A menina parou na minha frente e pronunciou algumas palavras que o meu cérebro automaticamente e inconscientemente imaginou como a seguinte afirmação: “Vamos assaltar aquela moça”. E foi neste contexto que confirmei a presença do preconceito dentro de mim.

Na verdade a menina havia parado para mostrar a mãe o anúncio de um emprego que estava colado na parede acima da minha cabeça. Rapidamente a menina com um sorriso nos lábios marcou o telefone e disse para mãe ligar amanhã mesmo para conseguir um novo emprego de camareira.

Naquele instante senti um alívio que veio acompanhado de uma culpa. Logo pensei, o preconceito está dentro de mim e pode se manifestar, mesmo que em pensamento, a qualquer hora e lugar.

Durante um diálogo casual com esta senhora baiana descobri que aquela família estava a caminho, digo a caminho sem o auxílio de qualquer tipo de meio de transporte, de um destino que levava em torno de umas 2 horas. Senti-me na obrigação de contribuir de alguma forma para aquele trajeto, então, entreguei para eles os passes que necessitavam para “pegar o ônibus”. A mulher como quem não acreditava no acontecimento agradeceu alegremente pela ajuda.

Senti uma imensa vontade de chorar. Só não sei se esse sentimento surgiu devido à culpa, à empatia, a identificação ou a pena de se deparar com seres humanos humildes que lutam cada dia pelo seu pão e que, apesar de serem honestos, são julgados apenas pela cor de pele e por uma cultura que ainda permeia na sociedade desde a época da escravidão.

Após alguns meses seguia a mesma rotina de volta para casa, mas neste dia com um diferencial, quando fui pagar minha passagem, com o ônibus já em movimento, percebi que faltavam 0,50 centavos para o seu pagamento, fiquei desesperada não sabia o que fazer de repente aquela senhora que ajudei chegou perto do cobrador e entregou o dinheiro que faltava. Agradeci enquanto um filme passava em meus pensamentos.

Este é o verdadeiro conceito de sociedade viver em união, esquecendo os paradigmas que segregam a humanidade por classe econômica, cor e gênero. Somos interdependentes no funcionamento do ciclo vital.

Kayla Kaab
Enviado por Kayla Kaab em 09/11/2011
Reeditado em 21/11/2011
Código do texto: T3325794
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