ENFIM SÓBRIO

Ninguém que tenha a cabeça em cima do pescoço e funcionando regularmente defende que um bêbado possa dirigir. As discussões começam quando se trata de distinguir quem está bêbado e quem bebeu. A partir deste mês de outubro a lei determina que aquele que bebeu está bêbado ou, numa linguagem menos direta, sob a influência do álcool. O debate nacional que antecedeu a decisão final tem muitas variantes e muitas distorções.

Para os inimigos do álcool, qualquer erro que acontece na humanidade é conseqüência do consumo de bebida alcoólica. Muitas pessoas que bebem acreditam que apenas os outros fiquem bêbados e cometem os erros típicos de tal situação. A discussão é muito acirrada e, no meio dela, há pessoas que nunca beberam, simplesmente porque não gostam. Contudo, a bebida faz parte de encontros festivos e está associada à gastronomia e à diversão assim como os automóveis estão associados também ao lazer.

Nos Estados Unidos atestaram que o consumo de um litro de cerveja triplica o tempo de reação de um motorista, o que pode ser fatal em algumas situações que exigem total concentração. Lá, embora a tolerância seja superior ao Brasil, as leis são escritas para serem aplicadas. Aqui, porque jamais foram aplicadas pelas autoridades responsáveis, criam-se leis mais rígidas. Aliás, tão rígidas que a estrutura do país não permite sua aplicação. O motorista flagrado dirigindo alcoolizado e que se negar a soprar o bafômetro terá de se submeter a exame de sangue. Um sistema de saúde sempre congestionado por atendimento de urgência e emergência poderá retardar um exame até que ele não acuse mais nada. Da mesma maneira a pena de detenção por seis meses é inaplicável num país onde criminosos perigosos não encontram vaga nos presídios.

Trazer o motorista que bebe ocasionalmente ao nível de um estuprador ou assaltante que premedita um crime gera outra polêmica. Muitos argumentos inconsistentes se tornam válidos para o bem maior que é o de evitar acidentes. Os defensores da lei seca elevaram o índice de “culpa”da bebida ao volante para quase 100% dos casos quando o anterior era de no máximo 30%. O governo sempre tem o cuidado de evitar o “Mea Culpa” escondendo da sociedade que há outro fator com o mesmo grau de responsabilidade no trânsito que é a má conservação e sinalização das vias públicas.

A sociedade compreende que se fazem necessárias medidas práticas e apóia mirando apenas sua finalidade. Conselhos do tipo “beba em casa” soam ridículos para a grande maioria que apena bebe em bares e encontros festivos. Para estes, o bebedor solitário bebe para ficar embriagado e não para se sociabilizar com amigos.

São raríssimas as pessoas que sabem dosar a quantidade de álcool quando começam a beber. Algumas nem prestam atenção em quantas doses ou chopes beberam porque vão a um bar justamente para deixar a vida controlada. Para o motorista, que bebeu ou não, é também muito difícil saber que tipo de trânsito vai enfrentar nas cidades ou na estrada. Por isso, e por muito mais, não convém começar a beber quando sabe que vai ter de dirigir o carro pra casa.

Luiz lauschner- Escritor e empresário

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Luiz Lauschner
Enviado por Luiz Lauschner em 07/11/2011
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