UMA PONTE PARA O FUTURO?
A Ponte sobre o Rio Negro ficou pronta. Obra de mais de um bilhão de reais que teve, em algum momento, mais de 1300 trabalhadores na sua construção. Começou em 2007 com um consórcio, criado especialmente para este fim, tendo a Construtora Camargo Corrêa à frente. As normas rígidas de segurança durante a obra não conseguiram evitar que ocorressem dois acidentes fatais.
Embora jamais se possa usar a palavra “apenas” quando se trata de acidentes, duas mortes não é um número alto numa obra com tanto risco que usou tantos trabalhadores e que demorou quatro anos para ficar pronta. Também não podemos afirmar que quatro anos sejam uma “demora” numa obra de tal envergadura. Tudo dentro da modernidade, tudo dentro dos prazos, tudo dentro da estética.
O que se questiona é a necessidade da ponte. Se ela é necessária, é também prioritária? Não é hora de levantar questões, uma vez que ela está pronta, mas não podemos deixar de refletir sobre a enormidade do custo dela. Nem sequer se fala se houve exagero no preço, uma vez que, em se tratando de valores dessa monta, qualquer percentual, por ínfimo que seja, é mais que a grande maioria dos transeuntes conseguirá amealhar durante toda a vida. Um por cento são apenas dez milhões de reais.
Sem querem minimizar as dificuldades que a balsa oferecia, nem menosprezar a necessidade de abastecer Manaus com produtos vindos de Iranduba, Manacapuru e Novo Airão, a ponte, no momento, traz mais conforto que economia. O próprio governo do estado reconhece isso, pois está criando opções para afastar da capital alguns órgãos e transferi-los para a vizinha cidade de Iranduba. A Concentração da Universidade Estadual do Amazonas, hoje pulverizada em 14 locais somente em Manaus, é uma dessas opções.
A ponte começou como um projeto do Deputado Estadual Francisco Souza, que num persistente trabalho de frente e bastidores, apoiado pela bancada evangélica, conseguiu convencer o governo estadual a construí-la. Com uma projeção inicial de 330 milhões de dólares acabou custando mais que o dobro disso. Agora resta saber se o uso dela justifica o gasto uma vez que não fará ligação com nenhum estado vizinho. Para isso, teria de ser construída outra ponte, ainda maior ligando com a ex-estrada para Porto Velho. Poderíamos perguntar como uma ponte pode ser feita superando as barreiras da legislação ambiental e a manutenção de uma estrada não pode ser feita. No Amazonas os rios são abundantes e se forem construídas pontes sobre todos eles não haverá orçamento que suporte.
A estrutura de estradas no Brasil ainda é lastimável. A estrutura dos portos e aeroportos, idem. Regiões produtoras clamam por melhorias, incluindo pontes, há várias décadas em outras regiões do Brasil que continuam fazendo travessias em balsas. O Amazonas construiu a sua primeira grande ponte. Ela está ai: Linda, majestosa, fazendo inveja a qualquer cartão postal do mundo. Por outro lado, com tantos gastos em supérfluos voláteis por aí, uma ponte sólida pode transportar algo mais que tijolos. Pode unir o presente ao futuro.
Luiz Lauschner – Escritor em empresário.
lauschneram@hotmail.com