Benditos
Bendito serás ao entrares e bendito, ao saíres. (Deuteronômio 28:6)
Gerenciava uma empresa de informática que vendia software para prefeituras. Estava em Paraty, que a meu ver, nunca vai deixar de ser um lugar especial. A sensação de haver feito um rasgo no tempo, participando da história, tornando-a vivinha da silva, como dá prazer.
Fiz a apresentação do software e estava me deslocando para Rio Claro. É Cada cantinho bom que tem no estado do Rio de Janeiro, que até a unha sente a falta! Lembro da comida fresca, do vento, das manhãs, das tardes, das conversas e da gostosa demora para fazer as coisas, por maior que fosse a pressa. Minha alma canta de alegria com tão imerecidos presentes!
-- Boa tarde! Moço! “Me dá” uma carona até Barra Mansa?
-- Serve Rio Claro? --Vi que era gente boa e concordei em levar duas moças e um rapaz. Eles iam diariamente para B. M. fazer faculdade.
Deixei o pessoal em R. C.. Foi uma companhia interessante. Conversamos sobre estudo, transporte e principalmente falamos do futuro, aquele que todos nós desejamos, seja “mais-que-perfeito”. Despedi-me daquela gente bonita dizendo: -- sejam benditos!
Passados os anos, estava em Salvador, em uma convenção de vendas, de uma indústria multinacional de produtos para papelaria. Estavam presentes, os representantes das principais papelarias do Brasil. Era uma boa oportunidade que tinham, para expor suas idéias em nível nacional.
Logo depois da Abertura, foi dada a palavra à representante de Paraty.
-- Bom dia a todos! Meu nome é Ana Justa. Eu e mais outras 30 pessoas de Paraty, fizemos uma faculdade em Barra Mansa, pegando carona na estrada. Nossos meios de transporte era o que o vento nos trazia: carroça, caminhão, perua. Tinha dia de ter que conseguir umas cinco conduções até chegar à faculdade, sem contar com a maratona da volta. Por meio desse sufoco, eu e as outras pessoas realizamos a proeza de ter concluído o famigerado terceiro grau.
-- Minha sugestão, é que nossa empresa faça uma parceria para transportar esses estudantes. Só precisamos do ônibus, pois arrumei o combustível, através de uma parceria com os “papeleiros” da região. Nesse acordo podemos fazer a publicidade do patrocinador da viatura que irá transportar a galera. Obrigada e “sejam benditos!”
Este era o primeiro dia de uma convenção de quatro. Falou-se sobre uma infinidade de planos da empresa para o futuro, nacionalização de produtos, uma enciclopédia de vendas estava no ar. A bola da vez era a mulher do “sejam benditos”, Ana Justa.
-- Senhores, antes de encerrar este produtivo evento, quero chamar Ana Justa, de Paraty até à mesa.
-- Seja bendito, presidente – disse Ana.
-- Moça sua sugestão foi aceita desde o início. Só não dei o sim na hora, porque precisei conversar com o Gilberto Landim, que é nosso “Marketing Planner”, para dizer como poderia viabilizar. Fala aqui ao microfone, de onde vem esse seu “sejam benditos”?
-- Minha vida foi uma batalha para vencer a escassez. Não posso descer a detalhes aqui, em virtude do pouco tempo disponível. Um amigo da faculdade me emprestava alguns livros de Norman Vincent Peale:
• O Poder do Pensamento Positivo
• O Poder do Otimismo
• O Poder do Entusiasmo
• Mensagens Para a Vida Diária
Antes que você diga que “Mensagens Para a Vida Diária” é do Krishnamurti, lhe cobrirei de razão, pois o mesmo escreveu um livro com idêntico título. Aliás, li também esta obra. Mas, voltando ao Peale, sua tônica é abençoar, bendizer as pessoas e pensar positivamente, para que o que você esteja fazendo logre bom êxito. Tenho desde então, procedido dessa maneira, gozando muito dos benefícios gerados por esta atitude.
-- Quando estudava contabilidade em Barra Mansa, um moço, nos deu uma carona até Rio Claro. Depois de uma inesquecível conversa amistosa, despediu-se da gente com essa frase. Isso me lembra o escritor Peale. Eu achei tão bonita, que a retive, convertendo-a em minha marca registrada. São palavras que transmitem força, segurança, alegria, paz. Eu já estava alegre, mais agora estou transbordando de contentamento, porque havia esquecido o nome da pessoa que me disse essa frase e aqui na convenção, posso vê-la do meu lado!
-- Gilberto Landim, seja bendito por ter nos ajudado naquele dia chuvoso lá em Paraty e também por completar sua generosidade, com o patrocínio do ônibus para os jovens que precisam estudar!
-- O “Marketing Planner” não pode fazer nada, sem que os custos sejam repassados, pois não trabalhamos com a filantropia. Embora sinta enorme alegria em rever a nobre e justa Ana, informo que a concessão do ônibus está vinculada à região ultrapassar 5% da meta. – Falei.
-- Landim. Quando acabei de fazer contabilidade, fiz também um curso de marketing. Na época eu já podia pagar a condução. Eu ia propor exatamente o que você acaba de falar. Evitei gastar todos os trunfos na negociação, preferindo aguardar uma contra-proposta. Outra vez agradeço sua ajuda.
-- Justa. Estou brincando, nosso presidente, Sr. Karl Helper, liberou o ônibus para vocês. Mês que vem, você já pode contar com transporte para sua galera. Ana, você tem um coração!!! – falei agradecido.
Karl Helper, ao encerrar a convenção não falou o habitual obrigado. Chamou Ana Justa, abraçou-a. Em um clima muito festivo declarou:
-- Precisava dizer umas coisas para vocês, uma mensagem. Cheguei a escrever uma série de palavras, para encerrar este evento espetacular. Ana Justa, sintetizou para mim, com uma citação que abrange passado, presente e futuro. Nada mas a dizer a não ser:
-- Sejam Benditos!