MEU FILHO É INOCENTE

Quem pensa que essa frase é do ex ministro dos transportes tem razão, mas pode acrescentá-la à boca de todo o pai que irá negar até para si mesmo a culpa do filho pego em circunstâncias puníveis.

Estamos assistindo uma inversão de valores e quase não nos damos conta disso. O recente episódio do vazamento das questões de provas de conclusão de curso numa escola particular deixou isso muito claro. Antes da análise do que é bom ou ruim para a educação do filho, alguns pais armaram uma barreira de argumentos para deixar seu filho fora de tudo, inclusive da necessidade de repetir a prova. A escola havia decidido obrigar a todos os alunos a comparecer novamente e realizar nova prova. Os pais alegavam que não haveria tempo porque tinham outros compromissos.

No meu tempo de estudante ainda valia a máxima: Roma locuta, causa finita. Em outras palavras: A uma decisão tomada por uma escola cabia apenas obedecer e não discutir. Não foi isso que aconteceu. A escola teve de voltar atrás por pressão de pais que exigiam a punição apenas dos participantes. Ao ceder, a escola criou um precedente que pode prejudicar a todo o sistema do ensino particular.

Na nossa cidade, cada vez menos sem lei, vemos menores circulando no volante de carros, falsificando documentos ou usando carteiras de parentes para terem acesso a bares e espaços de adultos. Alguns o fazem para participar de maneira inocente de atividades lúdicas, porém outros aproveitam para se embebedar com conseqüências muito previsíveis para sua formação. Casas noturnas, com algum grau de responsabilidade, estão se equipando para reduzir ao máximo esse tipo de fraude, mas estão numa ponta tênue da trama. O que começou como iniciativa de donos de estabelecimentos noturnos, tornou-se exigência do poder público que tem a ilusão de transferir responsabilidades de pai para um mero porteiro.

Sabe-se de festas particulares onde se comemoram aniversários de menores e os pais contratam Barman para preparar drinques alcoólicos para os convidados, colegas de seu filho que, como ele, são menores de idade.

O adolescente experimenta um gosto de vitória quando consegue burlar as regras estabelecidas que ele julga sem sentido, ou injustas. Cabe aos pais darem atenção aos seus filhos. A diferença entre um menor abandonado nas ruas ou em mansões é apenas o local. Um se intoxica com um tubo de cola enquanto outro o faz com conteúdo poluído na internet.

A família sempre foi e continuará sendo a base de educação de qualquer cidadão. Quando os pais defendem irrestritamente os filhos, sem apurar a verdade, podem até obter uma aparente vitória, contudo, catastrófica para a educação do filho. Esses pais fazem o papel de advogado que procura um erro na processualística e não uma razão fundamentada para defender seu cliente.

Sempre é difícil distinguir responsáveis de irresponsáveis. Contudo é necessário distinguir os homens de meninos.

Luiz lauschner – Escritor e empresário

lauschneram@hotmail.com

Luiz Lauschner
Enviado por Luiz Lauschner em 18/10/2011
Código do texto: T3284430
Classificação de conteúdo: seguro