FAXINA DE NORTE A SUL
Dia alvissareiro da Padroeira do Brasil – 12 de outubro –, e o ano corrente do fato promissor está no rodapé destas mal traçadas. Aparecida, a cidade paulista, em missas contínuas, além das animadas festas pelo “Dia da Criança”, em toda parte. E a crença do povo a borbulhar pelas narinas. Melhor que nada, tudo isso, pois que a fé das multidões pode ter efeito terapêutico na catarse das incertezas humanas, de modo fácil nos anseios do coletivo.
Paralelo a esse frisson religioso, ou de religiosidade, “as vozes roucas das ruas”, outra vez, despontaram em público, nas ruas e praças, no maior alarido e a todo vapor. Em Brasília, por exemplo, o asfalto dos Três Poderes foi lavado e vassourado. E não foi somente lá. Tanto melhor, que a nossa intrépida gente brasileira andava muito macambúzia e crente em muitos salamaleques. Copa do mundo, ilusões assim.
Pelo pouco que me veio ás orelhas, em dezoito Estados da Federação houve atos públicos, no dia 12; barulhentas manifestações contra as safadagens ocorridas contra o patrimônio nacional. Quisera assim o caso fosse, lá desde o loteamento das privatizações, canalhice efetivada pela mãozinha boba do tucanato neoliberal.
As manifestações públicas do “Dia da Criança” tiveram um objetivo bem explícito: protestar contra a corrupção no País. Todos sabem que, apenas no curto período de governo da presidenta Dilma, já foi rifada nada menos que uma batelada de ministros – quantos, cinco ou seis? –, e tudo por causa dos deslizes ocorridos em seus ministérios.
Não pretendo, aqui, fazer o papel de peba montês: arrancar defuntos e velhos casos de corrupção que ficaram soterrados na piçarra da impunidade. Quero falar e exaltar é a mudança de atitude das massas estudantis, dos sindicatos e outras entidades de classe que ora despertam para a tomada de conscientização e vão todos às praças e ruas, a gritar em uníssono: “abaixo a corrupção!”
Durante os dois períodos do governo Lula, a UNE andou muda e silente. Não era mais aquela trincheira dos anos do Calabouço, lá quando a ditadura assassinou a sangue frio o secundarista Édson Luís. A CUT também já não era a mesma dos anos de desgoverno de FHC. Virara uma fatia pelega e tanto. E o placar era o conhecido O x O: tudo na pasmaceira do silêncio.
Passeatas gigantes, nos últimos tempos, tanto nas capitais como em cidades maiores, desfilam desde o rio caudaloso da Avenida Paulista até os mais distantes rincões brasileiros, mas para defender com unhas e dentes os ‘gays’, as lésbicas e demais minorias. Ótimo e bonito, o proceder é politicamente correto.
Tudo muito bem que se combata a intolerância à homofobia. Pessoalmente voto em prol. Só queria, no entanto, que o redondo um milhão de pessoas que rotineiramente segue os cordões simpatizantes desses movimentos ligados às cores do arco-íris também se juntasse aos pífios 20 mil que se esgoelam contra a corrupção, a cada dia da nossa imaculada padroeira, Nossa Senhora Aparecida.
E que da próxima vez, lá para 2012, antes, até, já e já, outras palavras de ordem sejam somadas à atual do “abaixo a corrupção”. Corrupção só diminuirá com mudanças drásticas de atitudes. Partidos sérios no tabuleiro das eleições e o povo sem peias na língua e na mão de depositar o voto. Bem duas dúzias de partidos políticos, atualmente, sem a menor pitada de ideologia. Trânsfugas que, a toda hora, trocam de casaca.
Torço por outras medidas, antídoto ao veneno da corrupção, a saber: primeiro, reforma política, já e já, inclusive diminuindo o número de ministérios e de parlamentares, nas áreas municipal, estadual e federal. Acabar com a farra dos 1001 partidos, literalmente “partidos” e esfacelados pela ganância dos interesses pessoais de politiqueiros oportunistas. Segundo, reforma maiúscula, profunda, na letra hoje morta dos dois principais códigos do Judiciário, para que se apequene ao máximo a impunidade. Leis moles, “boazinhas”, que nem geleia, só incentivam a criminalidade. E, terceiro, assepsia, sem dó nem piedade; vassoura, faxina mesmo nos maus e corruptos administradores, em todos os níveis.
Não pretendo cultivar a autoria das fórmulas mágicas para sanear as desgraças da roubalheira nacional. Assim, vou-me contentar com as três medidas acima apontadas, mas de mesmo, de verdade, no duro e na maciota, com seriedade, sem as costumeiras medidas da coisa nenhuma, tão aqui em voga no roçado do faz-de-conta.
A solicitação das massas, no “Dia da Criança”, essa exigência de faxina que se ergue de norte a sul, felizmente, tudo isso urge e é necessário. Que outras doses fortes do elixir de civilismo e conscientização política sejam tomadas pelo Brasil afora. Vamos ressuscitar o movimento dos “caras pintadas”, que, aliás, neste último dia 12 de outubro, botaram as unhas de fora. Eia, meninada, vamos engrossar – na expressão de alguém – “as vozes roucas das ruas”.
Fort., 15/10/2011.