FIM DA UEG EM GOIANÉSIA?
** Matéria publicada na edição de outubro de 2011 do jornal Folha do Estudante.
Se não acontecer um milagre a educação pública de nível superior de Goianésia será extinta nos próximos anos. A exemplo de Goianésia diversas outras cidades do Estado também perderão suas faculdades. O Governo de Goiás apresentou em setembro o famoso Plano de Reestruturação da UEG (Universidade Estadual de Goiás), que prevê o fechamento de diversos cursos de licenciatura e bacharelado em algumas cidades, sendo transferidos para pólos regionais, e a criação de núcleo de tecnologia, valorizando a vocação de cada região.
No anúncio, feito pelo governador em exercício José Eliton, foi apresentado um relatório sobre a UEG. De acordo com seus idealizadores, a universidade estaria entre as cinco piores do País e enfrentando diversos problemas de ordem material, humana e física. Criada em 1999 pelo governador Marconi Perillo, na verdade a UEG é um amontoado de faculdades municipais já existentes, que possui 20 mil alunos, 2,5 professores, 1,5 servidores e problemas como bibliotecas modestas, laboratórios de pesquisa apenas simbólicos, professores mal pagos, entre outras mazelas.
Para o Plano de Reestruturação entrar em vigor precisa ser aprovado pelo Conselho Estadual de Educação e pelo Conselho Universitário. Politicamente não é difícil a idéia vingar. O fator que pode frear a funesta proposta do Governo é que todas as cidades atingidas estão em polvorosa e protestando contra. Todas essas cidades têm lideranças políticas influentes e que irão pressionar os autores do Plano.
O QUE ACONTECERIA COM GOIANÉSIA
Uma vez aprovado e colocado em execução, o Plano de Reestruturação da UEG funcionará da seguinte forma em Goianésia: os cursos de História, Pedagogia, Administração e Sistemas de Informação serão esvaziados na unidade. Quem está estudando irá continuar. Mas não haverá mais vestibular para novos acadêmicos. Os interessados deverão se inscrever em Ceres, que pela proposta, será o pólo regional.
A pergunta que não quer calar: o que será feito da atual unidade de Goianésia? O Governo responde: será transformada em núcleo de tecnologia agrícola, para atender à vocação do município. Não foi explicado ainda como um prédio pequeno, em uma região central da cidade, iria abrigar laboratórios e centros de pesquisa agrícola.
A proposta é o tipo de situação que coloca todas as forças de Goianésia em uma mesma trincheira. Todos são contrários à medida. “Sou totalmente contra, seria um retrocesso muito grande para a cidade, trocar um curso por outro é salutar, agora tirar os cursos, tirar a faculdade de Goianésia não pode”, afirma o prefeito Gilberto Naves, que pretende liderar uma mobilização e cobrar do governador Marconi Perillo.
A Facilgo (Faculdade de Ciências e Letras de Goianésia) foi implantada em 1989 em Goianésia, ganhando sede própria em 1993. Oferecia os cursos de Letras e História. Em 1999 foi anexada à recém-criada UEG pelo governador Marconi Perillo. De lá para cá ganhou cursos de Sistemas de Informação, Educação Física (já extinto), Administração e substituiu Letras por Pedagogia. Mesmo com todas as suas dificuldades e percalços, sempre avançou. A proposta do Governo significa para a cidade um passo para trás, um retrocesso. Significa que quem quiser fazer uma faculdade pública terá que pagar um ônibus, sair mais cedo do trabalho, enfrentar uma estrada de chão e ir para Ceres todo santo dia.
O ex-presidente do Diretório Acadêmico da UEG, Vandir Júnior contesta a idéia de tornar Ceres como um pólo. “Entendo que a visão central da proposta (regionalização) é interessante, e pode ser um caminho para retirar a Universidade Estadual de Goiás do caos que ela se encontra; mas no caso específico da região do Vale do São Patrício, a solução que foi proposta é um absurdo”, diz. Vandir Júnior, que também preside a Juventude do PSDB, explica lembra ainda que Ceres possui 20 mil habitantes (e diminuiu 10% sua população nos últimos dez anos), enquanto Jaraguá (com 42 mil habitantes) e Goianésia (60 mil) são bem mais pujantes.
POPULAÇÃO CONTRA
“É uma perda muito grande para Goianésia e região ficar sem os cursos de bacharelado e licenciatura. É hora de todos unir forças para mostrar para os idealizadores que a UEG representa muito para a nossa cidade”, afirma José Mateus dos Santos, diretor da Faculdade Evangélica de Goianésia. Para ele, a decisão é uma tentativa de “empurrar goela abaixo uma proposta, que não foi discutida em todas as faculdades”.
A diretora da UEG-Goianésia, Kelly Falcão, também demonstrou ser contrária ao Plano. “Sou totalmente contra essa proposta. Queremos aumentar a quantidade de cursos e não diminuir, mas estamos correndo atrás, nos reunindo com os outros diretores e iremos conseguir reverter esse Plano”, afirma. Ainda de acordo com Kelly, na próxima semana todos os diretores da UEG irão apresentar um relatório próprio e entregar nas mãos do governador Marconi Perillo, contendo suas reivindicações.
A estudante do 2° ano de História Tanúbia Ferreira manifestou na rede social Facebook o seu descontentamento. “Essa proposta do governo é fora de sério.Temos que lutar para que isso não aconteça, cursos técnicos são importantes, mas para isso não é necessário acabar com os cursos superiores,mudando estes para Ceres”, disse.
“Entendo que o governo não tem condições de manter essa quantidade de unidades pelo Estado, e se for para garantir qualidade de formação até seria válido, mas acho que Ceres deveria deixar de ser considerada cidade pólo, Goianésia tem muito mais habitantes. O único fator prejudicial é a situação geográfica (fora da BR). Portanto, na minha opinião deveriam fazer da unidade Goianésia um pólo, trariam mais cursos para cá e não o contrário, afinal de conta não só de trabalhadores rurais vive uma cidade, mas também da área de saúde, educação, informática”, opina a enfermeira Anne Araújo.
A presidente da Comissão de Educação da Câmara Municipal, vereador Antônia Lacerda também manifesta sua aversão ao projeto. “É um retrocesso, vamos mobilizar para barrar isso, Goianésia perderia muito”, afirma. Opinião compartilhada pelo deputado estadual Hélio de Sousa. “Vamos lutar para que isso não aconteça. O cidadão tem que cobrar, é justa a mobilização, tem que se gritar, se manifestar para que isso se concretiza”, disse. O ex-prefeito Otavinho também engrossa o coro. “Tem que ser melhor debatido, já que foi feito por um grupo pequeno, através do Chefe do Gabinete Civil, Vilmar Rocha, já de demonstrei ao governador nossa preocupação e vamos lutar para que Goianésia não perca essa conquista”, garantiu.
Em entrevista exclusiva o líder estudantil Paulo Winicius Maskote, ex-diretor da União Brasileira dos Estudantes, dá sua versão. “Essa reestruturação é algo " alheio" à comunidade universitária, não é fruto do acúmulo e necessidades de professores, estudantes e técnicos”, diz. Maskote acrescenta que “o mais delicado disso tudo é uma reestruturação de cima para baixo, com cara mesmo de intervenção. Essa reestruturação não tem previsão de maiores investimentos e todas as metas são genéricas, sem datas ou nada de concreto para atender às demandas represadas da UEG”, finaliza.
MAIS OPINIÕES
“O tripé que sustenta a UEG desde o tempo de sua criação ´Pública, de qualidade e gratuita´ nunca funcionou do jeito que deveria funcionar, as políticas públicas aplicadas na UEG, os repasses que nunca foram suficientes são problemas enfrentados pela universidade que engripam suas engrenagens, e o reflexo do mal zelo é diretamente percebido no desempenho da maioria dos nossos alunos, nossa unidade precisa de pessoas que abraçem a causa da UEG e de pessoal concursado também, pois só assim terão voz para reivindicar os direitos e em contra-partida fazerem o melhor para o alunado. E quanto a proposta de tornar a UEG de Goianésia em um núcleo de cursos profissionalizantes é só mais uma mostra de que não temos nenhum grupo de estudantes ou de professores que estão prontos para pôr a cara a tapa e enfrentar aqueles que estão por tras dessa idéia imbecil” – EDUARDO ROFFERS. 3° ANO HISTÓRIA
“Há anos esse projeto está pensado, agora chegou a hora da sua execução, pois tal debate será apenas uma forma de legitimar o processo, basta o governador Marconi Perillo querer e a coisa vai acontecer. A UEG nasceu como uma forma absurda de propaganda política, sem condições mínimas de funcionar como uma universidade decente, na minha época (eu me formei em 2002) era chamado de "colejão" ou como o Fábio policial dizia UEGAL (Universidade Espacial das Galáxias). É fato que os cursos de licenciatura não são um atrativo, mas jamais houve um empenho estatal que invertesse essa lógica, pois aquele que se forma na UEG (do estado) vai dar em aulas colégios do estado e sofrer com as salas lotadas, condições precárias e salários parcos. A intenção de formar mão de obra para as indústrias é um retrocesso gigantesco, porque fere os princípios intelectuais do mundo acadêmico, até porque Goianésia, em seu contínuo desenvolvimento, está se desvencilhando da dependência suprema de usinas e fazendas. A UEG é a prova de como uma gestão pública medíocre pode ser nociva às pessoas. ANTÔNIO ALVES – EX-ACADÊMICO DE LETRAS DA UEG.
“Retrocesso. Me parece que a intenção é capacitar apenas mão de obra para os setores industriais da cidade. Pode até gerar empregos mas não distribui renda.” CLEITON LOPES – EX-ACADÊMICO DE HISTÓRIA DA UEG