CASADO E INFIEL

Caravaggio retratou em seu quadro “A captura de Cristo” o beijo de Judas como sendo um sinal de traição; nós humanos afirmamos que quando nosso parceiro nos troca por outro é um ato de traição; uma forma de decepção e repúdio de uma precedente hipótese de uma transgressão daquilo que afirmamos por verdade. – Mas afinal de contas; porque traímos e o que é traição?

Traição é tudo que provoca conflitos em conceitos morais e psicológicos nos relacionamentos individuais; algumas vezes pode também ser coletivo, dependendo da ótica de quem o afirma ou simplesmente o aponta.

Quando adotamos uma posição firme sobre qualquer aspecto queremos de fato que ela seja a mais pura verdade; qualquer coisa que se oponha a esta afirmação de veracidade pode ser considerado como um ato traiçoeiro; mas vale lembrar que nem tudo que acreditamos ou sustentamos é de fato uma verdade. Também há que se apontar que em várias ocasiões as pessoas podem ter tempo para enfrentar esta verdade afirmando-a em contrário, mas ao invés disso, preferem opô-la agindo com suas próprias convicções sem a anuência daquele que lhe confia.

É o caso mais flagrante que ocorre nas relações humanas afetivas; quando o dito amor carnal está no meio de um pacto entre duas pessoas. No casamento, ou no namoro, um sempre espera que o outro jamais tenha encontros carnais com um terceiro; esta é uma forma muitas vezes de afirmar certa posse; um certificado notório de que muitas pessoas; uma vez tendo a oportunidade de estar casada ou namorando alguém, jamais possa fazê-lo com outro, sobretudo estando com o primeiro.

A infidelidade entre os humanos, sobretudo numa relação marital, já foi considerada como um ato hediondo, sobretudo se o traidor fosse a parte feminina. Na idade média quem traísse o marido poderia no mínimo cumprir pena numa detenção, mas o mais óbvio era que fosse morta em praça pública para que todos vissem o exemplo da conseqüência daquilo que se chamava pecado da carne. Mas e o homem, o que é que este partícipe de uma traição tinha como pena? – Pagamento de indulgência! O homem pagava pelo seu perdão e era liberado para seguir sua vida normalmente...

A traição entre um casal recebe o nome de adultério que juridicamente falando é o rompimento do pacto nupcial que ambos contraíram perante a sociedade. Hoje em dia ninguém mais dá qualquer importância a infidelidade de um casal. Não precisamos mais nos esconder dos olhares do povo, porque quando se deseja um mote para manter relações extraconjugais uma simples página de internet já basta para provocar um estardalhaço no seio do lar.

Eu afirmo que o principal motivo que leva uma parte do casal a trair é a falta de afirmação própria do gostar de verdade; depois disso as carências afetivas levam uma parte ou um todo do casal a buscar lenitivos em remédios alheios. A insatisfação com relação ao desejo de estar vivendo de outro modo que não seja a realidade faz com que busquemos cada vez mais vivenciar outras fórmulas. O problema é que jamais conseguimos falar abertamente sobre este tema sem termos provocado um dissabor dentro do lar...

Poucos se lembram do termo “perfídia” ou “felonia”, mas era assim que no século passado eram retratadas as damas que escolhiam outros varões senão aqueles que haviam contraído o matrimônio. Se houvesse um certificado de traição e alguém pudesse removê-lo da história de muitas mulheres, com certeza seria feito hoje com a argumentação muito simples de que elas se casavam muitas vezes sem ao menos ter visto seus maridos antes da primeira noite de amor. Eu conheço inúmeros casos em que mulheres se casavam por correspondência, porque seus pais assim desejavam.

O casamento do ponto de vista da união civil pode ser fatalmente executado sob qualquer padrão, inclusive o a distância, mas a união carnal onde se envolva afetividade de um amor verdadeiro, este precisa sim ser discernido a exaustão, para que saibamos de fato com quem estamos nos associando. Ainda assim muitos destes casamentos são perfeitamente frágeis, porque um sempre nutre uma expectativa diferente do outro; raramente alguém conseguirá a façanha de idealizar alguém e este alguém corresponder a 100% das expectativas de seu parceiro.

Muitos casais reclamam de que antes do casamento eles sempre faziam algumas tarefas de modo comum, mas depois de casados uma parte exigiu sua parcela de individualismo. Isso é um motivo para se buscar outra pessoa? – Óbvio que não! Outra pessoa pode pensar exatamente igual a primeira. O que se deve buscar sempre é o diálogo, mas para isso deve haver, primordialmente, equilíbrio de modos, postura!

Reunir-se com amigos onde sempre o parceiro não se encaixa também é motivo de muitas reclamações e casais apontam este fator como algo que possibilita agregar valores afetivos em outras pessoas, o que gera uma infidelidade. Se de fato nos reunimos mais ou discutimos mais com outras pessoas do que com nossos parceiros uma luz amarela se acende automaticamente. O casamento não pode ser tocado apenas nas divisões de obrigações do lar ou no sexo. Um parceiro deve ser atrativo de corpo, alma e interesses, caso em contrário, ele não serve para esta empreitada de parceria.

Outra reclamação que os casais alegam e apontam como possibilidade de traição é quando um começa a sair de casa mais polido ou mais cheiroso do que quando saem juntos. Se toda pessoa que sai mais arrumado for para ter uma relação extraconjugal o mundo se tornará Sodoma em menos de 10 anos.

Tem pessoas que são exigidas a andarem sempre usando a última moda, seja por mera vaidade pessoal (exigência do ego) ou requisito profissional. Neste mesmo campo ou análogo a ele, muitos dizem que seus parceiros começam a fazer uso de reuniões ou executar trabalhos mais longos e chegam em casa sempre mais tarde, mesmo sem ter havido qualquer promoção no trabalho. Eu afirmo que muitos fazem sim uso de subterfúgios para não chegarem em casa mais cedo. Quando isso ocorre de fato já é hora de repensar na relação...

Os que acreditam que a irritabilidade e o estresse podem causar motivos para uma traição precisam visitar o psiquiatra urgente. O mundo atual é exigente e desumano e o estresse que provoca irritabilidade comportamental é tão comum quanto comer feijão...

As faculdades mentais de uma pessoa quando age para apontar uma possível traição é tão fértil que alguns acreditam que quando o parceiro fica mais amável do que o habitual é porque está traindo nas horas livres. Será mesmo que poderemos estigmatizar esta metáfora? A traição só se revela com padrões diferenciados quando o traidor é extremamente desprovido de inteligência. Afirmar que excesso de carinho é sinal de traição, confesso: é quase uma loucura!

O celular é o objeto que mais é apontado como suspeito de enlaçar os adúlteros! Quando ele “toca” há sempre alguém querendo falar com mais privacidade e o parceiro já pensa que é o outro (ou a outra). Imagine alguém sendo juiz, delegado de polícia, médico, advogado ou qualquer outra profissão que exija sigilo, tendo que atender outra pessoa sem o menor respeito a este silêncio exigido? Além do mais; quem liga quer emitir um recado e esperar uma resposta e nem sempre estas respostas são tranqüilas ou podem ser citadas abertamente. Há ocasiões em que o recebedor de algumas ligações necessita pensar e raciocinar; pensar que todos que necessitam deste sigilo é por causa de uma traição; também confesso: é loucura!

E quando alguém liga e não consegue ser atendido? Deve ser uma psicose na cabeça de só quem pensa em traição e adultério. Algumas pessoas imaginam que um telefone celular é somente para lhe servir, portanto, quando ligar o outro deve atender, mesmo que não haja sinal no local... Precisa dizer alguma coisa a mais?

No campo afetivo mais íntimo tem a questão do apetite sexual. Quando conhecemos alguém e mantemos relação sexual, alguns possuem desempenho atlético e praticamente transam feito rato no cio; às vezes como coelhos vorazes! Os parceiros mais transloucados desejam que esta relação atlética sexual se mantenha pela eternidade, mas ninguém lembra que o sexo também está relacionado a fatores extra-sexuais, como por exemplo, emprego, clima, saúde, dentre outras coisas. Querer que o parceiro seja sempre o mesmo, é exigir demais! Já imaginar que quando ele diminui a cadência é por que tem alguém na jogada é um tremendo incoerência e perversa ignorância.

É bom lembrar que o contrário também acontece. Muitas pessoas ficam procurando o parceiro a todo instante para praticarem sexo apenas para que ele nem imagine que há uma terceira pessoa!

Chega à hora de falar de crises de ciúmes! Quem é ciumento demais raramente o demonstra em alusão a um relacionamento extraconjugal. O ciúme excessivo é uma patologia psiquiátrica que requer atenção máxima. Esta pessoa pode desencadear reações tão inesperadas que até pode matar ou se matar. O ciumento ao extremo precisa de tratamento constante, muitas vezes a base de internação. Muitas das vezes não passa de mera ilusão nutrida por um cérebro corrompido que imagina o que quer e não consegue frear as compulsões dos atos. Ciúme em excesso jamais poderá ser atribuído a possibilidade de traição!

O fator “contas” de cartões de crédito e das operadoras de telefonia chega de fato a provocar divórcios, mas somente nos casos onde há culpa. Eu viajo sempre e muitas vezes não consigo reserva em hotéis; minha solução passa por motéis. Querer esconder estas contas de minha esposa é paranóia! Da mesma forma que são as contas de telefone; muitos precisam falar com várias pessoas. Investigar para tentar saber qual número pertence a um amante; é o fim do mundo! Se alguém mantiver relacionamento fora do casamento ou namoro e costuma usar motéis ou ligar para a outra pessoa; neste caso é burrice flagrante!

Achar tudo caro para economizar; incomodar-se por estar tranqüilo demais por medo da desconfiança de traição e criticar quem pratica infidelidade, é circunstância natural do ser humano. Chega um ponto do casamento que é preciso economizar para que haja solidez futura; isso jamais pode ser atribuído a economia para que sobre para os amantes. Estar relaxado também não quer dizer que você esteja traindo; já criticar outras pessoas que praticam infidelidade, isso para mim chama-se FOFOCA. Quem fala da vida alheia perde uma rara oportunidade de ficar calado. Um dos bons remédios que eu sugiro para os fofoqueiros é Super Bonder. Passe uma generosa camada no lábio inferior; depois uma generosa camada da cola no lábio superior; depois uma as duas partes e fique assim pela eternidade!

Infidelidade é quando se vive uma relação conjugal sem sobressaltos e quando uma das partes deliberadamente cede aos carinhos ou aos galanteios de outro. O homem e a mulher não precisam viver um conto de fadas para ser um casal perfeito. Um casal harmonioso é aquele que mantém um convívio a base de verdades, de companheirismo, de cumplicidade e ideais comuns. Se alguém vive tudo isso e ainda assim resolve conhecer outra pessoa, mesmo que seja apenas no sexo, é flagrante adúltero, pois corrompe uma hegemonia adquirida!

Há uma década casado eu posso afirmar que todos podem ter quantas pessoas necessitar para satisfazer seu prazer, basta não estar se relacionando com outra pessoa. Há sempre uma oportunidade de alguém revelar sua insatisfação com outrem sem envolvê-la em escândalos sociais. O diálogo é a melhor forma de afastar a possibilidade da traição, por mais que isso deprima o outro!

Quem pratica a infidelidade conjugal, entretanto, não pode jamais exigir fidelidade de seu parceiro, muito menos de seu amante...

Carlos Henrique Mascarenhas Pires é editor do blog www.irregular.com.br

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Enviado por CHaMP Brasil em 04/10/2011
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