A IRRACIONALIDADE DA RAZÃO

Nos dias de hoje, onde tudo parece ter virado espetáculo, a dor dos outros foi tão banalizada que deixou de provocar emoções. Ao assistirmos a dor alheia somos imediatamente tomados por um racionalismo estúpido que nos leva a tentar achar as causas, avaliá-las, conceituá-las para finalmente esquecê-las após um click cerebral. A dor, assim como a felicidade, deixaram de ser sentidas para serem analisadas como se a afetividade fosse uma deficiência humana que nos impedisse a atingir um estágio divino.

Percebo que o cientificismo se espalhou pelo ambiente escolar com mais força do que a teologia no período medievo. Há professores que falam de certezas cientificas com mais apologética do qualquer monge dominicano dos temos da inquisição.

De uns tempos pra cá cientificismo resolveu dogmatizar as ações humanas. A razão passou a ser a fonte inesgotável do conhecimento. É a razão quem dita às regras, pois somente ela é quem tem os instrumentos necessários para compreensão do mundo... Quanta ingenuidade!

O chamado pensamento racional tem nos transformado em seres cada vez mais frios, mais distantes uns dos outros. Estamos sempre analisando o outro, esperando uma ação ou reação que justifique nossos conceitos sobre ele. Poucos percebem que o perigo da razão está justamente no fato dela se mostrar razoável... Mas razoável para quem? Sob que aspectos ela se apresenta assim? Por que chegamos a tais conclusões? E os sentimentos onde é que ficam?

No fundo o atual cientificismo tem como motivação esconder o pior de todos os sentimentos: a indiferença. Estamos justificando nosso desinteresse pelo outro com os véus da razão. As dificuldades de meus alunos são justificadas através de bibliografias. Os meus desafios como professor são minimizados ou até mesmo pulverizados com base em uma pesquisa realizada em alguma universidade com nome sonoro. Necessidade de importar-se? Fazer a diferença? Isto passou a ser visto como romantismo anacrônico. O busness exige de mim racionalismo e sobre tudo uma afetividade fingida, um sorriso de vendedora de butique...

É preciso reencontrar o caminho da afetividade, da compaixão, do permitir-se sentir o outro como ele é e não fazer dele uma cobaia para confirmar nossos conceitos sobre a humanidade. No fundo, o que precisamos mesmo é reencontrar a criança que um dia aprisionamos no peito na ilusão de que sem ela compreenderíamos o mundo.

DEHOLAMBRA
Enviado por DEHOLAMBRA em 27/09/2011
Reeditado em 29/10/2016
Código do texto: T3244804
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