Cordel Encantado: Uma trama de sucesso



Há muito não falo sobre novelas.Como noveleira assumida, sempre gostei de comentar as histórias do momento com familiares, amigos e com meus alunos.Por mais que tal produto televiso não agrade a muitas pessoas, é inegável que a novela tem forte apelo popular e, por isso mesmo, está no ar desde o aparecimento da TV.Fato é que entre outros efeitos dos folhetins , além do entretenimento, muitas campanhas sociais foram implementadas a partir das personagens que defenderam essa ou aquela causa. Desserviços e absurdos à parte ( que foram muitos por sinal), a novela atinge o povão, influencia o consumo e molda comportamentos.Se os autores soubessem do forte instrumento de persuasão que têm em mãos ( e talvez até saibam), talvez se preocupariam um pouco mais com a composição das personagens e com a elaboração da trama.Mas nem sempre é assim, infelizmente.
Aqueles que são noveleiros como eu devem se lembrar de histórias e interpretações maravilhosas.Muitas vezes, mesmo a trama sendo ruim , o brilho do artista faz a diferença.E é nesse particular que sempre me foquei.Quantas vezes assisti a alguns capítulos, xingando a incompetência do autor e da equipe técnica da novela e, ao mesmo tempo, me via sorrindo ou me emocionando por alguma cena.Mérito exclusivo do (a) artista em questão.

Hoje já não me prendo com facilidade em nenhum folhetim.É claro que não me mantenho totalmente distante.Vejo alguns capítulos ou ouço, quando estou muito ocupada, mas ainda me flagro emocionada elogiando determinada personagem.É o caso da novela que chega ao seu final nesta semana: Cordel Encantado.Já faz muito tempo que não via algo tão bem feito na TV. A dupla de autoras, Duca Rachid e Thelma Guedes conseguiu de forma brilhante escrever e desenvolver uma história que encantou e divertiu a todos que conseguiram acompanhar a saga de jagunços, reis , rainhas, príncipes e princesas em meio a uma politicagem e costumes de época que despertavam nos telespectadores o riso e a emoção.
A caracterização das personagens foi brilhante.Até os recém-chegados à teledramaturgia deram conta do recado de forma primorosa.E o que dizer do delicioso delegado Batoré, encarnado pelo taletosíssimo e imprevisível "gigante" Osmar Prado?E a Duquesa Úrsula , a sedutora bruxa de Débora Bloch?Simplesmente maravilhosa! Aí a gente passa pela impagável Ternurinha, a Primeira dama de primeiríssima categoria em dissimulação e simpatia que, juntamente com o digníssimo prefeito e marido Patássio ( Pata para os íntimos) e o amante Zoinho ( cangaceiro arretado ) respectivamente Zezé Polessa,Marcos Caruso e Tuca Andrada, fizeram a trama ser ainda mais divertida.Quem esperava uma performance tão convincente de Bruno Gagliasso? Para mim foi uma grata surpresa assistir a uma vilania tão bem representada.O "quase" estreante capitão Herculano personagem de Domingos Montagner  foi um show à parte.É claro que não dá pra deixar de mencionar as  participações das veteranas Ilva Niño e Berta Loran sempre dignas em seu trabalho.

A trama toda foi política e dramaturgicamente correta.Pena que um primor de produção como Cordel Encantado foi negada a um público maior.Colocar uma novela desse quilate no horário das seis é privar toda a família de um lazer barato e gostoso.Histórias assim não causam constrangimento, pois não há cena imprópria, descabida e apelativa.
Poderia falar muito mais sobre Cordel Encantado.Mas antes que algum desavisado e pouco afeito às novelas pense que estou promovendo a Globo ou ganhando com a minha rasgação de seda, vou logo me contrapondo como é do meu feitio.É que gosto de apreciar tudo aquilo que promove um entretenimento de qualidade e une as famílias.E as novelas fazem parte de nossa cultura popular e podem contribuir sobremaneira para uma formação para a cidadania, tornando-se forte aliada da educação formal das escolas e familiar.Para tanto seria necessário que outros autores, bem mais renomados do que essa dupla de Cordel Encantado ,entendessem que o povo sabe de suas mazelas, de seus infortúnios , de suas reais carências.Não é preciso usar cenas chocantes de violência, nudez vulgar e apelativa para alavancar o ibope.Muito pelo contrário.O povo já demonstrou várias vezes que se as novelinhas de época ou histórias leves e bem feitas fossem promovidas ao horário nobre, sem dúvida alguma, faltariam lugares nos sofás das salas dos lares brasileiros.
Parabéns às autoras e aos artistas de Cordel Encantado.Valeu o delicioso entretenimento.

Em tempo1: A jovem bonita e talentosa Lucy Ramos teve um desempenho impecável.Sem estardalhaços compôs sua personagem de maneira soberba.Encarnou uma doce e generosa cozinheira, Maria Cesárea ,que se tornou uma rainha africana ou tupiniquim justa e sensata .Afinal a história de nossa brasilidade se mistura em suas origens.E que bom que é assim.

Em tempo 2: Tiro o meu chapéu para o lindo trabalho de Matheus Nachtergaele que encarnou o profeta Miguezim.Tudo que o Matheus faz é lindo demais.

Em tempo 3: E garoto Nidinho? Que lindeza! Esse João Fernandes promete, ora se.

Em tempo 4: Como é bom assistir a algo cujo cenário não se resume às praias e quiosques do Rio de Janeiro, com uma turma que nada mais faz do que jogar futevôlei .O Brasil é muito mais do que esse reducionismo que a mídia e alguns autores subjugados querem nos mostrar.