BUENOS AIRES: QUERIDA E PERIGOSA!
Esta semana eu estive no Uruguai e Argentina; fui de carro de Cerro Largo no Uruguai até Colônia del Sacramento no mesmo país. O trajeto de menos de 500 km, que eu já fiz algumas vezes, nos permite passar por vários departamentos uruguaios, o mesmo que Estado no Brasil; e por algumas cidadelas elegantes e bucólicas do país vizinho. Quem estiver a fim de percorrer este trajeto que liga os Pampas ao mar, percorrerá as melhores Rutas (estradas) que conhecemos na América do Sul; e complicado mesmo, para os que não conhecem, é chegar a Montevidéu, sair dela e seguir em direção a foz do Rio da Prata onde fica Colônia del Sacramento, porque pela opção que eu sempre escolho, não faço o percurso que passa por fora de Montevidéu.
Do ponto de saída até a chegada, ida e volta; eu não fui parado por nenhum carro de polícia; passei por postos fechados, outros abertos e somente vi uma única viatura parada na rodovia fazendo checagem de velocidade com os radares pistola. Eu não enxerguei nenhum acidente de trânsito, não passei por nenhuma situação constrangedora e mesmo estando com um carro com placa brasileira, as pessoas faziam questão de me oferecer informações corretas e simplificadas.
Não é a primeira vez que viajo para lá e escrevo; ao longo de minha vida eu devo ter entrado no Uruguai pelo menos 20 vezes. Reitero que para ingressar com carro brasileiro eles exigem sempre que o carro esteja em seu nome ou alugado com contrato em seu nome; que o motorista seja habilitado aqui no Brasil e que pague a Carta Verde; um seguro internacional para danos a terceiros e que custa R$ 68,00 por 3 dias de visita. Mas nem tudo é flor numa viagem internacional. Dependendo de algumas decisões você pode se deparar com espinhos...
Já em Colônia del Sacramento, uma cidade quase portuguesa abaixo de nossa fronteira; curtindo a amabilidade de seu povo gentil e suas cenas européias de casario secular, meu irmão que me acompanhava resolveu cruzar o Mar del Plata em direção a Buenos Aires, capital da Argentina. Para o trajeto o mais viável é buscar uma das companhias marítimas que comercializam a travessia que dura uma hora. Existem 3 empresas que exploram o serviço: Sea Cat, Buquebus e Colonia Express; todas cobram algo em torno de 100,00 Reais por um trecho, mas naquele dia a Colonia Express estava com uma promoção de ida por R$ 45,00 e lá fomos nós no barco da Colonia Express...
A confusão começou no embarque marcado para 4 da tarde. Como se trata de um embarque internacional há necessidade de apresentação de documentos e formulários de saída do país. Um acordo entre Uruguai e Argentina permite que haja funcionários de ambos fiscalizando entrada e saída nos dois portos. Os funcionários da empresa Colonia Express não conseguiam organizar uma fila coesa; idosos não sabiam para onde deveriam ir e muita gente passava na frente de outras sem o menor constrangimento. Depois tivemos que percorrer quase 300 metros entre salas abandonadas e corredores frios até chegar no pequeno barco sem nenhum conforto.
Chegamos a Buenos Aires com meia hora de atraso e na chegada para retirar as malas gastamos mais 40 minutos; e como se fosse pouco, a Colonia Express nos desembarcou numa área distante da habitual em Puerto Madero. O lugar era pequeno, apertado e na saída não havia uma rua e sim uma tumultuada avenida onde os caminhões que fazem serviços no porto passavam buzinando forte e numa velocidade impressionante. Os quase 200 passageiros tiveram que fazer outra fila para esperar um taxi e o nosso somente chegou com cerca de uma hora e meia após o desembarque.
Noite fria em Buenos Aires o convite era mesmo para um bom vinho acompanhado de uma boa carne, mas antes tivemos que nos hospedar no Ibis Obelisco (Calle Corriente, 1344). Meus caros amigos! Eu devo ter me hospedado na maioria dos hotéis Ibis do Brasil e outros tantos pelo mundo, mas nenhum deles me ofereceu um atendimento tão frio e seco quanto o Ibis Obelisco.
Alugamos um taxi de uma das poucas e gentis pessoas de Buenos Aires e este levou-nos a um breve passeio pelos lugares mais badalados e que já conhecíamos bem; Ricoleta, Puerto Madero, La Boca, Obelisco, Casa Rosada, dentre outros. Em todos os lugares as advertências eram as mesmas: Cuidado com tudo e com todos! Os argentinos de Buenos Aires estão em pânico com tanta violência e tantos tumultos sociais. Chegamos a sede do Governo argentino por volta das 10 da noite e lá estavam milhares de estudantes protestando e reivindicando alguma coisa. A Casa Rosada fica na histórica Plaza de Mayo e esta estava fechada por grades da polícia; uma decepção...
Após o vinho e um generoso pedaço de carne sangrando voltamos a Calle Corrientes para apreciar as pessoas que estavam nos teatros. Quase meia noite e a Corrientes ainda fervia, mas o nosso taxista nos adverte mais uma vez: “cuidado com as pessoas!” Segundo ele há constantes assaltos nas ruas movimentadas, alguns com o emprego de violência física. Pela manhã resolvemos andar uns 50 metros, para apanhar outro taxi e senhoras idosas nos paravam para informar que corríamos risco de assalto. Os taxis que ficam enfrente aos hotéis de Buenos Aires somente aceitam passageiros que gastem, acreditem; mais de 50 Dólares americanos...
Em menos de 24 horas na capital argentina tivemos mais problemas e constrangimentos do que em seis dias no Uruguai. Desrespeito ao turista, sujeira nas ruas, confusão no trânsito, risco de assalto iminente, pessoas mal educadas, preços altíssimos apenas para os turistas, taxistas mal intencionados e os brasileiros com seus sobretudos que desmoralizam ainda mais uma linda e charmosa Buenos Aires de hoje...
Por falar nos brasileiros, estes são um show a parte. As mulheres compram pesados sobretudos negros, roupas que nem esquimós vestiriam no mais rigoroso inverno antártico e botas de couro de cano longo. Os homens são um capítulo a parte; estão sempre de cachecóis coloridos, luvas, gorros e óculos escuros; alguns me fazem lembrar uma mistura entre MIB com Pit Bitoca. O friozinho estava gostoso, mas a temperatura não baixou dos 12 graus; ainda assim os brazucas vão para Buenos Aires apenas para tirar fotos com roupas de frio... Incrível!
Nosso retorno foi mais tranqüilo, porque buscamos a eficiente Buquebus e seu ferry de luxo; nenhum problema de volta e lá estávamos de volta a Colônia del Sacramento, retornar mais 500 km e voltar a Cerro Largo no Norte do Uruguai, quase fronteira com o Brasil; uma viagem sensacional, mas apenas do lado uruguaio, porque os argentinos de Buenos Aires “necesidad de aprender más acerca de los hermanos del otro lado del Río de la Plata”.
Anote para não esquecer as curiosidades de Buenos Aires: Restaurantes charmosos de Puerto Madero não vendem bebidas apenas; se não for jantar ou almoçar, desista de visitá-los, mesmo que para beber uma razoável garrafa de vinho. Os taxis que estão parados, segundo eles próprios, são perigosos e enganadores; celulares da Vivo e Claro funcionam bem lá, mas necessitam do roaming internacional. Hotéis existem aos milhares, mas você precisa ter certeza de que suas localizações são seguras; o melhor hotel do centro está numa verdadeira zona de guerra e palco exclusivo dos travestis da noite.
Na sua próxima viagem para Buenos Aires, pesquise com quem já foi e anote as dicas de quem conhece bem aquela cidade para que suas férias não vire um verdadeiro inferno...
Carlos Henrique Mascarenhas Pires é autor do blog www.irregular.com.br