BUMBA MEU BOI

Na Barra do Aririu, em Palhoça, Santa Catarina, desde menino que conheci o boi de mamão também chamado de bumba-meu-boi. Era construido e cantado pelo pessoal do bairro, até eu um dia dancei embaixo da cabrinha que era um dos bichos do boi de mamão, tinha doze anos na época. Era uma maravilha a festa do boi de mamão.

Sabemos que hoje existem duas correntes de estudiosos que defendem o surgimento do Bumba meu boi , uma diz que teria nascido de escravos e gente pobre agregados de engenhos e Fazendas ,trabalhadores da roça e de pequenos ofícios das cidades interioranas, por vota das ultimas Décadas dom Século XVIII.

Para outros estudiosos , a "mãe" do Bumba meu boi brasileiro está ligada a alguns elementos orientais e europeus do Boi-de-canastra de Portugal,mas sem enredo nem declarações e sim ação lúdica.

O bumba-meu-boi é uma das mais ricas manifestações do folclore brasileiro este nome Bumba , uma interjeição onomatopaica que indica estrondo de pancada ou a queda ( bumba-meu-boi: bate! ou chifra, meu boi), ou da nossa cultura popular, é o Folguedo de maior significação estética e Social do Brasil e foi o primeiro a conquistar a simpatia dos indígenas durante a catequese.Tal como ocorre no Brasil não é visto em outro lugar,salvo na África ,para onde imigrantes brasileiros o levaram.Denomina-se no Daomé: Burrinha,com características diferentes da brasileira.A referência escrita mais antiga feita no Brasil sobre o bumba-meu-boi foi feita pelo Padre Miguel do Sacramento Lopes Gama (1791-1852), no Periódico(jornal) "O Carapuceiro" de 11 de Janeiro de 1840(Recife).

A FESTA DO BUMBA-MEU-BOI : É uma espécie de ópera popular, cujo conteúdo varia entre os inúmeros grupos de bumba-meu-boi existentes mas, basicamente, desenvolve-se em torno da lenda do fazendeiro que tinha um boi de raça, muito bonito, e querido por todos e que, inclusive sabia dançar.

Na fazenda trabalhavam Pai Chico, também chamado negro Chico, casado com Catirina, os vaqueiros e os índios.Catirina fica grávida e sente desejo de comer a língua do boi. Pai Chico fica desesperado. Com medo de Catirina perder o filho que espera, caso o desejo não seja atendido, resolve roubar o boi de seu patrão para atender ao desejo de sua mulher.

O fazendeiro percebe o sumiço do boi e de Pai Chico e manda os vaqueiros procurá-los, mas os vaqueiros nada encontram. Então o fazendeiro pede para os índios que ajudem na procura. Os índios conseguem encontrar Pai Chico e o boi, que neste intervalo havia adoecido. Os índios levam Pai Chico e o boi à presença do fazendeiro, que interroga Chico e descobre porque ele havia levado o boi. Os pajés (ou doutores) são chamados para curá-lo, e após várias tentativas conseguem curar o boi, que se levanta e começa a dançar alegremente. Então o fazendeiro perdoa Pai Chico e tudo termina em festa. Na outra história bastante comum na Bahia o boi não revive e seu corpo é partilhado. No bumba-meu-boi não existe época para a realização da festa , esta data varia muito de região para região.

Uma vez convidado, o grupo apresenta-se defronte a casa de quem o convidou . A apresentação começa um pouco antes da casa, quando o amo do boi canta a toada inicial, chamada Guarnecer, organizando o grupo para a apresentação. Depois do Guarnecer, é a hora do Lá Vai, que é uma toada para avisar o dono da casa e demais que o boi já está indo. Depois do Lá Vai, e cantada a Licença, quando o boi pede licença para se apresentar. No decorrer da apresentação cantam louvores a São João, São Pedro, ao boi, ao dono da casa e vários outros temas, como a natureza, lendas da região, amores, política, etc. Em determinado momento começa o auto, quando apresenta a história básica de Catirina e Pai Chico, que no entanto pode variar muito de um grupo para outro. Também é cantado o Urra do boi e a toada de despedida, e a apresentação termina. As apresentações sucedem-se até por volta do mês de setembro, quando ocorre a morte do boi. Para a morte do boi, é preparado um grande mourão no centro do terreiro, todo enfeitado. Defronte ao altar de São João, reza-se a Ladainha .

A matança do boi dura três dias ou mais, com muita festa e dança. No final o boi é morto simbolicamente, onde o vinho representa o seu sangue. O "couro" que envolvia a armação de madeira é retirado. Para o próximo ano, outro "couro" será bordado, novas toadas serão compostas e o ciclo recomeça.

PERSONAGENS E VESTIMENTAS : Existem vários personagens e variam bastante entre os diferentes grupos, mas as principais são as seguintes:

Amo ou Fazendeiro: representa o papel do dono da fazenda, comanda o grupo com auxílio de um apito e um maracá (maracá do amo) canta as toadas principais;

Pai Chico: empregado da fazenda, ou forasteiro, dependendo do grupo, rouba ou mata o boi para atender o desejo de mãe Catirina. O papel desempenhado por esta personagem varia de grupo para grupo, mas na maioria das vezes desempenha um papel cômico;

Mãe Catirina : mulher do pai Chico, que grávida deseja comer a língua do boi. Coloca enchimento na barriga para parecer que está gestante;

Boi : é a principal figura, consiste numa armação de madeira em forma de touro, coberta de veludo bordado. Prende-se à armação uma saia de tecido colorido. A pessoa que fica dentro e conduz o boi é chamado miolo do boi;

Vaqueiros: são também conhecidos por rajados. Nos bois de zabumba são chamados caboclos de fita. Em alguns bois existe o primeiro vaqueiro, a quem o fazendeiro delega a responsabilidade de encontrar pai Chico e o boi sumido, e seus ajudantes que também são chamados vaqueiros;

Índios, índias e caboclos:tem a missão de localizar e prender pai Chico. Na apresentação do boi proporcionam um belo efeito visual, devido à beleza de suas roupas e da coreografia que realizam. Alguns bois, principalmente os grupos de sotaque da ilha, possuem o caboclo real, ou caboclo de pena, que é a mais rica indumentária do boi;

Burrinha : aparece em alguns grupos de bumba -meu-boi, trata-se de um cavalinho ou burrinho pequeno, com um furo no centro por onde entra o brincante, a burrinha fia pendurada nos ombros do brincante por tiras similares à suspensório;

Cazumbá : Personagem divertido, as vezes assustador, que usa batas coloridas e mascaras de formatos e temática muito variada. Não são todos os grupos de bumba-meu-boi que possuem cazumbás;

Instrumentos Musicais :

O bumba-meu-boi formou-se através da união de alguns elementos culturais europeus, africanos e indígenas. A maior ou menor influência de uma das culturas pode ser percebida através dos instrumentos, vestimentas, dança, coreografia, instrumentos e ritmo dos grupos de bumba meu boi. Este conjunto de fatores, principalmente o ritmo define o que convencionou-se chamar sotaque do grupo. A maior influência indígena , pode ser percebida nos bois da ilha, ou bois de matraca (sotaque de matraca).

A influência da cultura africana predomina no chamados bois de Guimarães, ou bois de zabumba (sotaque de zabumba).

A cultura européia é melhor percebida nos chamados bois de orquestra (sotaque de orquestra). No entanto como a criatividade corre solta dentre os grupos de bumba-meu-boi e novos grupos surgem freqüentemente, os sotaques também vão mudando e novos sotaques vão surgindo. Não existem dois grupos de bumba-meu boi com o sotaque exatamente igual.

Os bois de influência predominantemente indígena, bois de matraca, utilizam mais os seguintes instrumentos:

Maracá : instrumento feito de lata, cheio de chumbinhos ou contas de Santa Maria. É um instrumento de origem tanto africana como indígena;

Matraca : feita de madeira, principalmente pau d'arco, é tocada batendo-se uma contra a outra;

Pandeirão : pandeiro grande, coberto geralmente de couro de cabra. Alguns tem mais de 1 metro de diâmetro e cerca de 10 cm de altura. São afinados a fogo.

Tambor onça : É uma espécie de cuíca, toca-se puxando uma vareta que fica presa ao couro e dentro do instrumento. Imita o urro do boi, ou da onça.

Os bois de zabumba utilizam principalmente:

Maracá : instrumento feito de lata, cheio de chumbinhos ou contas de Santa Maria;

Tamborinho: pequeno tambor coberto de couro de bicho, o mais comum é usar couro de cutia, é tocado com a ponta dos dedos;

Tambor onça : É uma espécie de cuíca, toca-se puxando uma vareta que fica presa ao couro e dentro do instrumento;

Zabumba: é um grande tambor, conhecido também como bumbo, é um instrumento tipicamente africano;

Tambor de fogo: feito de uma tora de madeira perfurada à fogo e coberto por um couro cru de boi preso à tora por cravelhas. É um instrumento tipicamente africano;

Os bois de orquestra tem instrumentação muito variada, utilizam instrumentos de sopro como saxofones, trombones, clarinetas e pistões; banjos, bumbos e taróis, também maracás e outros.

(http://afonsoecris.ubbihp.com.br)

(http://massajovem.zip.net)

FONTE:Dicionário Brasileiro de Folclore, Luís da Camara Cascudo, Edições de Ouro, 1962

Folclore Nacional, Alceu Maynard Araújo, Melhoramentos, SP, 1967

Brasil no Folclore, Prof. José Ribeiro, Editora Aurora, Rio, Sem data

Viajantes do Brasil, Henry Koster, Portugal, Sem data

Lendas do Índio Brasileiro, Alberto Costa e Silva, Ediouro, Rio, 1999

Painho
Enviado por Painho em 20/12/2006
Código do texto: T323328
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