TEORIAS CONSPIRATÓRIAS E A DOMINAÇÃO DO MUNDO
Eu sempre fui tentado pela idéia de criar uma teoria da conspiração e fazê-la circular por todo o planeta. A internet seria a ferramenta para catapultar minha tese de dominar o mundo. Depois de tudo dominado, eu iria me deliciar com baforadas de charuto cubano e emitir sonoras gargalhadas. Cheguei a existir em sociedade numa época em que as teorias conspiratórias não tinham uma ressonância tão grande e circulavam por corredores menos devastadores que redes sociais, e-mails e sites na internet. Seu motor de partida era desconhecido mas passavam de boca em boca e geravam certo pânico e paranoia entre nós, mortais sempre a mercê de fatos milimetricamente orquestrados.
A criatividade do ser humano para criar histórias, ideologias, religiões, verdades é algo a ser idolatrado por todos nós. A criatividade move o mundo. Em alguns casos, pára o mundo também. No entanto, a criatividade do homem em criar panaceias ainda não conheceu limites. Confesso, talvez com certa inveja, que algumas teorias conspiratórias são bem engenhosas, bem maquiadas e acham guarita fácil na mente das pessoas.
Para parte do povo norte-americano, Elvis Presley, o grande astro do rock, não morreu. Para todos os efeitos, Elvis saiu da vida para entrar na história em 1977. Em uma das teorias, Elvis teria forjado a própria morte e sido substituído por um boneco de cera em seu funeral. O líder da banda The Doors, Jim Morrison, é outro que também não teria morrido, segundo seus delirantes fãs. Morrison teria simulado o óbito para fugir de sentenças judiciais e vive em Paris, como um anônimo. Fica como ideia para mim tal feito. Seria uma forma honrosa de escapar dos fanáticos cobradores. Na contramão dos zumbis roqueiros, está a teoria sobre Paul McCartney, que teria morrido em 1966. A lógica sugere uma pergunta: quem é esse cara que até hoje faz seus megashows e faturou mais de 1 bilhão de dólares na carreira? Simples: seria um sósia, incrivelmente parecido com o original, na embalagem e na voz. Canhoto e guitarrista também, naturalmente.
Mas nem só de vida e morte de astros do rock vivem as teorias conspiratórias. Eles são onipresentes. Há milhões de brasileiros, por exemplo, que juram que a seleção brasileira entregou o jogo para a França na final da Copa de 1998, em uma armação patrocinada pela Nike. Até as cabeçadas certeiras de Zidane na bola foram calculadas. Não faltaram e-mails e informações na internet para alimentar o boato, que ganhou até espaço em conceituados veículos de mídia.
A teoria conspiratória mais famosa gira em um evento que aconteceu fora da Terra: a polêmica ida do homem à Lua, em 1969. Milhares de teses povoam o imaginário popular em muitos países. De acordo com alguns, o escritor de ficção científica Arthur C. Clarke teria sido o roteirista da fantástica história. Outros crêem que o diretor de cinema Stanley Kubrick dirigiu o “filme”, que teria sido rodado em um estúdio de Londres. Para citar fatos ainda frescos na memória de todos, há muitas teorias sobre o ataque de 11 de setembro aos EUA. Incautos acreditam que o presidente da época George W. Bush sabia dos ataques e permitiu, para justificar uma investida contra o mundo islâmico, no afã de se apoderar de petróleo. Outra teoria garante que o Pentágono não foi atingido por um avião e, sim por míssil amigo, disparado pelos EUA.
Seria muita pretensão de minha parte reunir todas as teorias conspiratórias em um só texto. Elas encheriam uma enciclopédia. Talvez a teoria mais pretensiosa seja a que se formou em torno da sociedade secreta illuminati. De acordo com os teóricos da conspiração, os illuminati têm um plano secreto de dominar o mundo, se infiltrando em governos e seriam responsáveis pelas duas grandes guerras mundiais, pelas grandes revoluções, inclusive a Francesa. Os presidentes norte-americanos seriam marionetes em suas mãos. Mais: os onipotentes illuminati estariam comprometidos secretamente para a destruição do cristianismo, entre outras conspirações secretas e incrivelmente bem sucedidas.
Em um patamar menos engenhoso está a idéia de que o Orkut e o Facebook são ferramentas de vigilância criadas pela CIA para dominar o mundo. Por via das dúvidas, vou me retirar das redes sociais antes que seja tarde demais. Agora nenhuma teoria da conspiração se compara a da caneta BIC. Os delirantes sustentam que há uma invasão de sondas extraterrestres ao nosso planeta. Estaríamos sendo vigiados há anos, numa espécie de Big Brother. As sondas estariam nas simpáticas canetas BIC. Estaríamos sendo monitorados até quando escrevemos cartas de amor ou nos registramos no clube de boliche. Toda a nossa vida estaria sendo registrada.
Preciso confessar um estranho hábito que me condena: tenho a mania de furtar canetas BIC. Desconfio que não devo gozar de uma boa reputação entre os alienígenas. Há dezenas de sondas na minha casa. Preciso me desfazer delas. Para minha segurança momentânea não escrevi este texto usando uma: fiz direto no computador. Daqui para a frente estarei preparado para ser abduzido a qualquer momento por uma nave espacial. Tudo culpa da caneta BIC.