ROTEIRO PARA UMA VIAGEM ENCANTADA

Pegue a saída norte de Brasília, em direção a Formosa; mais ou menos no quilômetro 40, logo depois da entrada para Planaltina, pegue a esquerda no trevo, em direção a Fortaleza, via nordeste goiano.

Você vai passar por São Gabriel, o primeiro município da Chapada dos Veadeiros, que, com São João D’Aliança, o próximo, abriga um grande contingente de gaúchos que para lá se dirigiram, desde os anos 60, em busca de terras cultiváveis. Nestes municípios já se vê a diferença nos campos: o cerrado, antes absoluto, abre espaço para grandes áreas de cultivo de soja (principalmente), e enormes silos na beira da estrada testemunham o sucesso da empreitada. Estes sulistas já têm até CTG – Centro de Tradições Gaúchas, onde cultivam e perpetuam suas tradições culturais, enriquecendo as já diversas tradições goianas.

Agora a estrada apresenta um aclive contínuo, e os imponentes “tabuleiros” da Chapada dos Veadeiros começam a revelar a luxuriante beleza da região. À direita, já se vislumbra a bela Serra Geral ao longe.

Então, em meio ao cerrado de altitude, vamos passar por Alto Paraíso, a capital mística da Chapada (deste ponto da estrada, sai também a estrada, ainda de terra, que leva à entrada do Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros e à bela cidade de Colinas do Sul, às margens do Lago da Serra da Mesa, o maior da América do Sul); nesta cidade encontramos imigrantes de todas as partes do Brasil, que para lá se mudaram a partir da década de 80 em busca de evolução espiritual, outros em busca de “contatos imediatos de 3º grau”, e outros ainda em busca de um contato mais integrado com a natureza, que na região pintou um de seus mais belos quadros. Lá encontramos construções de inúmeros estilos, e “tribos” das mais diversas linhagens, além do maior número de ONGs, quase todas ambientalistas.

Seguindo a estrada adiante vamos passar pelo Trópico de Capricórnio e continuamos no aclive até Pouso Alto, o ponto mais alto do Estado de Goiás, tendo à esquerda da estrada, desde o Alto Paraíso, a cerca branca do Parque Nacional. A temperatura cai sensivelmente, na maior parte das vezes nos obrigando a achar rapidamente os agasalhos esquecidos na traseira do automóvel. Este trecho deve ser feito em velocidade moderada, não só para podermos apreciar a paisagem da chapada, mas principalmente por ser travessia dos animais silvestres do Parque, e o cuidado com o lixo atirado dos carros deve ser redobrado; na época da seca, de abril a outubro, qualquer ponta de cigarro pode provocar queimadas enormes e muito difíceis de se controlar.

A partir do Pouso Alto, a estrada entra em declive, serpenteando por curvas que todo momento nos apresentam belezas indescritíveis; a temperatura começa a subir, subir, e chegamos a Teresina de Goiás, portal de entrada do Sítio Histórico Kalunga, que se estende também a Monte Alegre, à direita da estrada. Mas neste ponto pegamos a esquerda, último trecho de nossa aventura, para os 22 km que nos levarão a Cavalcante, cidade histórica com mais de 260 anos de fundação.

E aí encontramos o verdadeiro paraíso.

O cenário é bucólico: a pequena cidade fica incrustada no pé da Serra de Santana, e cercada pelas Serras da Nova Aurora, da Boa Vista e das Araras. Possui mais de 90% de seu território intocado, mostrando a beleza forte do cerrado; abriga 60% do Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros e mais de 50% do Sítio Histórico Kalunga. A pujança da vegetação e a profusão de sua fauna encantam os turistas mais exigentes; flores do cerrado, araras e tucanos sobrevoando a cidade, incontáveis rios e cachoeiras, cânions, águas termais, mirantes, térmicas perfeitas para vôos de parapente ou asa delta, e o melhor de tudo: seu povo e cultura.

Para quem mora em grandes centros e passa a vida olhando o relógio e cumprindo horários, é difícil imaginar como uma pequena temporada em um paraíso natural pode recarregar as energias e diminuir o estresse.

Sabe aquela famosa frase “parece que o tempo parou” ? Ela deve ter sido imaginada aqui...

De manhã, você é acordado pelo canto dos pássaros e o grito das araras que, sempre aos pares, atravessam a cidade em busca de alimento. Então, para começar a desfrutar a cidade aos poucos, você pode ir até o Rio das Almas, a 5 km do centro, para um banho revigorante em suas claras águas e um banho de sol em suas areias brancas; fique bem quieto, olhando a exuberância de sua mata ciliar e o vôo rasante dos Martins-pescadores. Nesta praia tem o Bar do Miro, onde você pode encomendar um almoço caseiro para depois do banho, regado por uma cerveja bem gelada. Enquanto espera, pode se aventurar a jogar uma partida de sinuca com os moradores, para começar a conhecer seus costumes e linguajar próprio, cheio de expressões regionais.

À tarde, você pode ir às nascentes do Lavapés (no centro da cidade, córrego aurífero onde nasceu a cidade fundada por mineradores), por uma bela trilha, enfeitada de pequenas cascatas de água cristalina, na área onde foi implantado o Parque Municipal do Lavapés, primeira área de proteção ambiental do município. Na volta, vale a pena conhecer a mina de ouro, também no centro da cidade, com seu buraco na rocha já com mais de 150m de profundidade, de onde sai o ouro há séculos.

Agora é hora de ir a um dos mirantes para apreciar um pôr de sol espetacular; você pode escolher o da Nova Aurora, na estrada que vai para Minaçu, ou o do Vão do Rio Claro, na estrada que vai para Colinas do Sul. Nesta hora você também vai testemunhar a volta das araras para o ninho, e, se tiver sorte, uma onça ou um veado campeiro buscando abrigo para a noite.

Já é hora de você procurar abrigo também; ou na sede, onde encontramos a linda Pousada Morro Encantado, no Hotel Casa Verde e Pioneiro Hotel, ou na zona rural, nas pousadas Veredas, Vale das Araras, Estância Solar, Bananal, Renascer e Águas Cristalinas. Se você for adepto, também existem campings equipados, ou ainda casas mobiliadas para aluguel. Estas informações todas podem ser encontradas no CATMA, Centro de Atendimento ao Turismo e ao Meio Ambiente, localizado na praça da entrada da cidade, com o Zico ou com a Rimar, que possuem fotos de todos os atrativos, pousadas, e contato com os guias da ACECE, Associação dos Condutores em Ecoturismo de Cavalcante e Entorno.

Se já está hospedado, pode começar a explorar o centro da cidade, que é o entorno da Praça Diogo Teles Cavalcante, fundador da cidade. Lá você encontra a Creperia Pouso de Folia, os restaurantes na Rua do Dendê e inúmeros bares, onde você pode experimentar a ótima cachaça da região, pura ou em infusão com as diversas ervas do cerrado. Pode também ir até a barbearia do Parceiro, que também é o sanfoneiro oficial da cidade, e disputado pelos municípios do entorno quase “a tapa”; festa que o Parceiro toca só acaba no dia seguinte. Lá na barbearia, entre um corte de cabelo e uma aparada na barba, você pode ouvir a sanfona esperta deste baiano que há mais de 20 anos se estabeleceu por aqui. E além de música, você ouve as últimas novidades da cidade: o Parceiro é também a “fonte” das notícias locais...

Se não tiver forró na Danceteria Dutra, na Boate Pris ou no Caverna Club, ou alguma festa no bairro kalunga, onde você conhecerá a sussa – dança de origem africana acompanhada por instrumentos como a “onça” (espécie de cuíca grande feita com tronco de árvore), o melhor a fazer é ir dormir cedo para aproveitar o dia seguinte.

E é a partir do dia seguinte que você pode se aventurar pelos povoados deste que é um dos maiores municípios do Estado de Goiás: são 6.953 km² de cerrado e muitas águas para você percorrer.

É lógico que não vai dar tempo de conhecer tudo na primeira visita, o “cardápio” é grande:

• Sítio Histórico Kalunga – Cachoeiras de água caribenha, variando de azul turquesa a verde esmeralda (Engenho II e Prata), rios caudalosos e límpidos ricos em peixes (Vão do Moleque) ou a rica cultura deste importante quilombo em meio a Serras e Vales (Vão de Almas, para onde você pode ir a cavalo, por trilhas seculares, com guias kalungas).

• Águas termais – Fervedouros do Engenho II e da Cachoeira Santana, mina das Caldas ou Rocinha.

• Rios piscosos – Rio Almas, Rio Claro, Rio Montes Claros, Rio Paranã, Rio São Félix e Rio Prata, Rio Preto, Rio Corrente, Rio Correntinha, Rio Corriola.

• Rampas de vôo – Mirante da Nova Aurora e Mirante do Vão do Rio Claro.

• Cachoeiras – de Sant’Ana, Mundo Novo, Veredas, São Bartolomeu, Ponte de Pedra, Ave Maria, Renascer, Boa Brisa, São Félix, Santa Bárbara, Curriola, Prata I, II, III, IV,V, VI e VII, a deslumbrante Cachoeira Rei do Prata, dos Porcos, Barroco, Funil, Capivara, Roncador, São Domingos, Santa Tereza, Lavapés, e muitas mais.

• Cultura e folclore:

1. Janeiro – Folia de Reis.

2. Fevereiro – Carnaval de rua com desfile de blocos.

3. Março ou abril – Caminhada da Paixão ao Morro da Cruz.

4. Maio – Encontro dos Povos da Chapada dos Veadeiros (de 4 em 4 anos).

5. Junho – Semana do Meio Ambiente, Festa do Imperador e Festas Juninas.

6. Julho – Romaria do Engenho II, Romaria da Capela, Romaria de São José, Rodeio Show e Festa das Barraquinhas em louvor à Padroeira da cidade, Senhora Sant’Ana.

7. Agosto – Romaria do Vão de Almas.

8. Setembro – Romaria do Vão do Moleque e Pic-nic da Independência na Capela do Rio Preto.

9. Outubro – Festa da Padroeira do Brasil.

10. Novembro – dia 11, Festa de Aniversário da cidade.

11. Dezembro – Festa de Ano Novo.

Faltou alguma coisa para lembrar daqui ou deu “síndrome de abstinência” da vida moderna?

Ainda tem o “Kalunga Mercado Justo”, um cyber armazém, onde você pode se conectar com o mundo, ou apenas adquirir artesanato de grande beleza ou ótimo sabor, feito nos diversos povoados ou nos bairros de Cavalcante.

Boas peças de artesanato você encontra também na lojinha da Pousada Camping Estância Solar.

Quanto aos serviços, Cavalcante possui hospital e dois postos de saúde, agência do Banco do Brasil e postos da CEF e Bradesco, Correios, academia, campo de futebol e ginásio poliesportivo, padarias, e, como já mencionado, para os turistas existe o CATMA – fone 62 3494 1507, com a associação dos condutores de visitantes.

Agora, com este esboço das inúmeras opções que Cavalcante - O Sol da Chapada – lhe oferece, só falta você fazer a mala e correr para conhecer este outro lado que a Chapada dos Veadeiros lhe oferece: o lado simples, natural e belíssimo, aliado a manifestações culturais autênticas da região.

Aventure-se, venha conhecer a Reserva da Biosfera Goyaz, Patrimônio Mundial Natural e berço do nordeste goiano, que encanta tantas pessoas; tenho certeza que depois de uns dias aqui, sua vida nunca mais será a mesma.

Patrícia Pinto, consultora ambiental paulistana, que há 20 anos veio conhecer Cavalcante e nunca mais conseguiu se afastar daqui!

Pat Difusa
Enviado por Pat Difusa em 18/12/2006
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