Banheiro Feminino

Hoje a faxineira do nosso andar voltou de férias (na verdade foi mais uma licença médica, pois ela teve um principio de enfarte mês passado), fui cumprimentá-la, e “puxar assunto”, ela esta bem e alias trabalhou o mês inteiro na reforma de sua casa, contou-me sobre o entulho retirado, o cimento carregado e sobre já estar ESTRESSADA com o retorno ao trabalho.

Compreendam meu espanto, tudo bem que qualquer um prefere a tranqüilidade, mas ainda não haviam se passado duas horas do início do trabalho, questionei o que a aborrecia e não foi a primeira vez que ouvi isto de uma faxineira, mas o problema era a limpeza do banheiro feminino, ou melhor dizendo a sujeira deste.

Voltando algumas décadas (não sejamos indiscretos, não importa quantas), lembrei-me de minha mãe (viúva, mãe de um casal, morando com a sogra e a cunhada) contando-me que banheiro de homem às vezes tem “xixi” no chão, mas banheiro de mulher é nojento. Ela contava-me sobre uma mal-fadada experiência como faxineira, ela começou numa terça-feira e desistiu depois do almoço da quinta-feira.

Eu era um púbere, uma fase da vida, que aparentemente deixou de existir, compreendia a diferença dos sexos, gostava de garotas, mas ainda preferia uma partida de War a entrosar-me com algo tão estranho quanto garotas (tudo bem, talvez eu fosse um tanto “Nerd”, mas olhando de perto, todos somos estranhos e de longe simplesmente desaparecemos na multidão) Não entendia o que podia haver de errado no banheiro feminino. Minha mãe então me explicou que é normal mulher deixar os “Modess” (fazer o que? a marca tornou-se sinônimo do produto) sobre a pia ou displicentemente largá-los ao chão.

A conversa com Angélica (sim, ela não se chama “Tia da limpeza”), evidenciou que não foi um fato isolado com minha mãe, na verdade foi a terceira vez (quiçá a última) que ouço algo assim.

Anteriormente trabalhei em uma das maiores consultorias de informática do país, posso dizer que naquele escritório estava presente um grupo seleto da sociedade, apesar de alguns serem mal pagos, ganhavam em um mês algo que famílias menos beneficiadas ganham em um ano, todos sem exceção possuíam pelo menos curso superior ou estavam por finalizá-lo.

Houve alguns eventos nauseabundos no banheiro masculino, mas segundo a Neli (sim, aqui ela também não se chamava “tia”), isto ocorria esporadicamente, contudo no banheiro feminino havia uma vergonhosa constante de papéis e outros adereços abandonados em pias ou simplesmente pelo chão.

O que leva alguém a tal desleixo é, para mim, incompreensível, segundo o psicólogo social Fernando Braga da Costa ao olhar da maioria, os trabalhadores braçais são "seres invisíveis, sem nome". Seria esta invisibilidade a causa deste desmazelo? Ou apenas uma conseqüência da amoralidade tão presente na atualidade.

Ficam duas questões: Se mulheres se incomodam quando o marido, ou sui-generis, não levantar a tampa do vaso ela não deveria incomodar-se com uma colega de trabalho abandonar um absorvente na pia do lavabo? (saímos da idade média, a mulher menstruar não é mais algo vergonhoso, a ser escondido, mas também não precisa ser “esfregado na cara” quando ocorre), e mais importante até: como será o asseio da residência de uma mulher assim???