VIOLÊNCIA KAFKANIANA

** Texto publicado no jornal Diário da Manhã, edição de 13 de junho de 2003.

Vivemos eternamente enjaulados tal qual o homem de Franz Kafka. Para fugir do vírus da violência, nos refugiamos em nossas casas. Esquecemos, porém, de romper com a antena de TV, que traz o espetáculo insano e cruel das ruas para o nosso lar.

Olhando confortavelmente do sofá, com pipoca e refrigerante light, o crime fica cinematográfico, glamoroso, bom de se ver.

Estamos todos com medo. Já não mais nos despedimos dos nossos ao sairmos de casa. Parecemos adivinhar em qualquer semelhante um algoz, que a qualquer minuto pode nos reduzir a existência a um jazigo.

Saímos da nossa casa, talvez ruminando algum plano, com os endereços anotados. Possuímos, tal qual um cão, o nosso osso, apenas a certeza vil e socrática de que podemos, de repente, não estarmos no caminho de volta.

Anderson Alcântara
Enviado por Anderson Alcântara em 13/09/2011
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