Crise aérea no Brasil

grave crise do controle aéreo nacional, deflagrada após o acidente com a aeronave da Gol, pode ser analisada sob diversos aspectos. Suas raízes podem estar mesmo nas condições de trabalho dos controladores, no sistema que requer atualização e mesmo nas demais apresentadas pelos órgãos competentes ou pela mídia que explorou o assunto em abundância, como já era de se esperar.

Considere-se, todavia, que a causa principal nem foi ventilada.

Há um problema sério no relacionamento humano: quando algo ocorre chamando a atenção ou provocando danos, busca-se um culpado e pouco se faz para corrigir as causas. Ficamos sempre na superfície das cogitações.

Ora, a crise aérea brasileira não é diferente da crise da saúde, da educação, da violência, do tráfico de drogas, da criança abandonada, da velhice desamparada, da corrupção ou de tantas outras questões que sobrecarregam as informações de cada dia.

É uma crise moral, na verdade. Imaginamos que as situações se resolvem por si mesmas, fechamo-nos na indiferença do próprio egoísmo e deixamos que providências sejam esquecidas, culminando com as crises que afetam o equilíbrio social.

Assim é com a epidemia da dengue, com o desperdício de água ou com a poluição desenfreada dos rios através do lixo doméstico ou industrial.

A violência no trânsito, a desonestidade em alguns políticos e administradores, o abuso de poder, a omissão em qualquer área e a prática de pequenos gestos que roubam o patrimônio alheio ou prejudicam a coletividade (mesmo que seja apenas “furar” a fila ou subornar um funcionário para obter privilégios) situam-se na mesma questão.

Surgem todos como fruto do egoísmo que ainda caracteriza a natureza humana. É ele o causador das convulsões sociais, que rouba a tranqüilidade coletiva, desvia a atenção dos objetivos principais da vida humana e gera o difícil panorama social em que nos encontramos, repleto de desafios e incertezas.

Pode apresentar-se nas decisões de uma autoridade, de um administrador de qualquer empresa ou mesmo no cotidiano de uma família, nos conflitos causados por uma postura autoritária e até coletivamente (recorde-se as imposições econômicas e sociais de um país sobre outro), com seus prejuízos decorrentes.

Seja lá qual for a causa principal, ou um conjunto de causas, da crise aérea no Brasil, haverá na essência atitudes de indiferença e desprezo com as necessidades do correto funcionamento do sistema como um todo, envolvendo pessoas e tecnologia.

Mesmo as repercussões do caso levam à mesma conclusão. Basta analisar-se que as longas filas do INSS ou a precariedade da saúde, os milhares de menores infratores, famílias inteiras vivendo sob viadutos, presídios lotados em condições subumanas ou outras graves questões do cenário nacional, não causam as mesmas repercussões do atraso dos vôos. Por que?

Tratando-se de um meio de transporte que dificilmente será utilizado por aqueles que não tem o mínimo para a própria sobrevivência e servindo para quem pode pagar, chama mais a atenção. Claro! Envolve arrecadação.

Que se pode esperar de quem não pode pagar? Então, para que se preocupar? Novamente a presença do terrível inimigo humano: o egoísmo.

É ele que nos faz frios, indiferentes, calculistas.

Nessa (da crise aérea) e outras questões, a solução está em olharmos o papel que nos cabe, como cidadão ou administrador, investido de cargo público diretivo, responsável ou usuário de algum setor coletivo da sociedade, para uma atitude facilitadora da paz coletiva.

Pequenos gestos são capazes de alterar toda uma situação desagradável de conflito. Basta a vontade de agir, com ética e justiça. Sempre que respeitamos o direito alheio, agiremos de maneira justa. E agir de maneira justa e respeitadora com a condição humana é postura de combate ao egoísmo, verdadeiro verme a corroer a paz social.

A receita é simples e existe há muito tempo: basta nos colocarmos no lugar alheio. Se não é bom, se não serve para nós, também não será bom e nem servirá para outra pessoa. O que a consciência reprova, esqueçamos.

É pura ilusão acharmos que somos melhores. Não somos. Estamos todos no mesmo “barco” e devemos nos estender as mãos, mutuamente. Não há outro caminho para mudar o triste quadro social do país e do planeta.

Orson
Enviado por Orson em 18/12/2006
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