Sobre ¨Os últimos¨ - Autor: Carlos Lopes
Quando li o conto ¨Os últimos¨, de Augusto N. Sampaio Angelim sabia ter em mãos algo precioso e, sem relação de conteúdo, veio em mente ¨A última Estação¨. Ambas são obras que ao longo do tempo lembrarei e vou indicar àqueles que compartilham do mesmo gosto literário. Em seguida recebi e-mail do autor me atentando ao informar da ambientação do seu texto ter sido pertinho da minha cidade, no lugar chamado Feliciano. Imediatamente recomendei aos amigos e colegas do Orkut e do Facebook, além de grafar sugestão de leitura sob as matérias do autor disponíveis neste blog.
O fato é que Feliciano fica localizado, praticamente, na entrada do município de Custódia, razão pela qual se estou indo visitar meus pais não tenho tempo pra percebê-lo e se voltando a Olinda estou apressado demais para ver os avanços negativos ocorridos ao longo das décadas. Entretanto, ¨Os últimos¨ provocou em mim uma vontade acerbada de ver as entranhas do lugar e não tão somente as construções visíveis a quem passa pela BR 232, após Cruzeiro do Nordeste, também conhecida como Placas.
Imaginava que por detrás das construções havia edificações mais recentes e alguns moradores remanescentes. E foi com este pensamento que fui direto aos arredores e só encontrei o antigo bueiro e uma prensa de madeira que insiste em ficar de pé. No mais, somente a caatinga empestada sobre outrora lares e vidas. De tempo presente, somente o sol escaldante, e em nome de uma boa causa fiz algumas fotos e busquei pelos moradores do lugar.
- Olá, como faço pra falar com alguém mais velho? Perguntei a um dos garotos que brincava com bolas de gude. Este, inteligentemente apontou o colega ao lado de idade uns dois anos a mais. Ri da minha própria ignorância e expliquei me referir a uma pessoa bem mais idosa e então pude falar com a mãe deles de trinta e dois anos de idade. Enquanto trocava idéias com Márcia percebi alguém chamando pelo morador da casa ao lado e concluí: ¨Pelo menos duas famílias residem aqui.¨ Fui de construção em construção e, sinceramente, na melhor das hipóteses deve morar no Feliciano uma meia dezena de família.
Também é fato que Feliciano não pode ser classificado como distrito, povoado, lugarejo, localidade ... inteligentemente atirou a Márcia: ¨Aqui é apenas um sítio, cujo proprietário é o mesmo de outros tempos.¨ Sábia Márcia! Será que fui o único a receber esta resposta? Feliciano foi sim, o resultado de uma fazenda próspera no tempo do caruá, depois perdeu importância com a febre do agave, e somado a isso Sertânia privilegiou os povoados de Algodoes e Rio da Barra e, somado a outros fatores, veio a decadência explícita de uma forma tão cruel que finalmente pude valorizar mais ainda o texto ¨Os últimos¨. Antes de sair daquele lugar, brinquei com a minha acompanhante: ¨Parece coisa de cinema.¨ Mas neste caso minha teoria não tem semelhança com a verdade, o autor do texto é de mente privilegiada e uma das pérolas do blog ¨Recanto das Letras¨.
Pra finalizar e resumindo, o Feliciano foi uma grande fazenda que se beneficiou do caruá e da dádiva de um rio correndo em seu contorno. Mais tarde o lugar viveu a sua fase mais próxima do desenvolvimento em direção a um povoado ou distrito. Lá funcionou um posto de gasolina, vendiam-se veículos, havia cultos em uma bela capela e a criançada tinha aonde estudar. E pra não dizer que faltou algo em direção a emancipação política, havia o funcionamento de uma feira livre semanal onde além dos produtos locais ainda contavam com visitantes das localidades vizinhas.
Já em Custódia vim a saber de uma estória curiosa envolvendo o criador do Feliciano. Como o dinheiro corria solto por lá, Lampião certa feita mandou recado que iria buscar uma parte para si. A resposta veio na ponta da língua e pelo mesmo portador: ¨Aqui ele só vai encontrar com quem brigar¨, disse o senhor do lugar. Recado dado e tempos depois com a intenção de ir a Ibimirim, logo depois do rio encontram dois jagunços que vinham a sua própria procura. Perguntado, logo responde: ¨Não só o conheço como vou mostrar onde ele mora. Minutos depois aponta: ¨A casa dele é aquela, não vou levá-los até lá, não quero ficar marcado.¨ Deu meia volta e fugiu para Placas e depois rumou ao Recife de onde nunca mais voltou. Então eu lhes pergunto: ¨Será que a derrocada do Feliciano começou aí? Se foi, então mais um pecado nas costas de Lampião.
P.s. Leia o conto ¨Os últimos¨ no endereço abaixo (conto página 2):
http://www.augustonsampaioangelim.recantodasletras.com.br/publicacoes.php/?categoria=1&pag=2
Blog do autor: http://gandavos.blogspot.com/