O HOLOCAUSTO DE BELO MONTE
A expressão holocausto está cunhada numa imensa quantidade de textos que fazem referência a extermínios de povos. Entretanto, ele está marcadamente mais presente nos textos que se referem a pessoas pertencentes à cultura judaica, sobretudo no decorrer do regime nazista, na Alemanha. A problemática é colocada com tanta ênfase que deixa a impressão de que morte de judeus, sob o regime hitlerista, foi o único grande extermíno de pessoas ocorrida em toda a história. Aos brasileiros pode parecer distante de fatos dessa natureza. Grande equívoco.
Entretanto, o que se expressa semanticamente como holocausto não está rigorosamente configurado somente como massacre de criaturas humanas por armas letais. O holocausto social e étnico se dá de várias formas. Há uma forma sutil de matança humana, mas nem por isso menos degradante e criminosa: é a que vai suprimindo os indivíduos ou grupos de indivíduos paulatinamente. Primeiro são extintos seus hábitos, seus costumes, seus aspectos tradicionais de viver, em seguida a vivência vai se tornando mais complicada em virtude das interferências no ambiente, transforma-se em sobrevivência até que os indivíduos vão desaparecendo. Em período não muito longo certos povos deixam de existir. É o caso de muitas etnias primitivas do Brasil, desde a época do descobrimento.
Os historiadores atestam que no início da colonização, pouco depois do “descobrimento”, ocupavam as terras brasileiras entre seis e sete milhões de almas. Criaturas humanas de pele plúmbea, ajuntadas em diversas famílias, que se chamou tribos, línguas e costumes povoavam o vasto litoral, as margens dos inumeros rios e as orlas de lagos e lagoas.
A construção da Usina de Belo Monte, no Rio Xingu (que depois de um longo imbróglio envolvendo políticos, administradores públicos e ambientalistas - e já tem as obras iniciadas), poderá representar um genocídio, mesmo que mais lento dos povos que ocupam a região e se nutrem dos parcos recursos naturais. Calcula-se que pelo menos 20 mil indivíduos, entre indígenas, caboclos, fazendeiros e pequenos proprietários habitam a região. Os índios, calculados em 14 mil, estão divididos e algumas etnias e agrupamentos. Os indígenas daquela região estão entre os mais arraigados a cultura primitiva. O Xingu ainda representa uma das áreas com fauna e flora ainda prósperas e bem preservadas. Por essa razão legitimiza-se como o sustento e o estado natural para quem vive lá.
Um enorme impacto ambiental será percebido com a construção do empreendimento. Além disso, a energia produzida lá não irá beneficiar os moradores da região. A hidrelétrica produzirá energia com sua potência total em apenas um terço do ano. Em quatro meses ela produzirá apenas 50% de sua capacidade e nos restantes quatro meses ficará inativa. Somando-se o valor, o montante em dinheiro gasto em sua sua construção e o prejuizo causado eplo impacto sicioambiental, talvez demore mais de um século para se recuperar essas cifras, se é que isso pode ocorrer.