A MORTE DE KADAFI

É preciso apenas um gesto para que a história seja modificada; todos os livros necessitarão ser reescrito e uma nova era surge em muitos lugares; assim funciona o mecanismo veloz que dita os padrões antagônicos ao que poucos imaginam e muito desejam; assim é hoje a Líbia de Muammar Kadafi, que também se escreve Muammar al-Gaddafi, que está no Poder líbio desde 1º de Setembro de 1969 e ao que parece não irá comemorar o aniversário de 41 anos de ditadura.

Se lá em Trípoli os rebeldes buscam a bala a saída para a crise interna, aqui no Brasil algumas cenas também começam a solidificar esta parte da história; uma delas foi à troca de bandeira na Embaixada da Líbia em Brasília. Na última noite os rebeldes entraram na sede diplomática da Capital Federal, retiraram a bandeira imposta pelo ditador Kadafi e hastearam a antiga bandeira do país, num sinal claro de que aquela representatividade não mais pertence ao regime tirano...

Do outro lado do mundo, mais precisamente no Norte da África, a Líbia vive há dias uma tensão pavorosa entre os que estão lutando pela saída do ditador e por aqueles que insistem em mantê-lo no Poder. No meio de tudo isso está a população civil simples que não põe a mão em armas e a esta altura da crise, já não sabem mais se querem viver com ou sem Kadafi. Cidades completamente destruídas por bombas, mísseis e saraivadas de balas que cruzam as cabeças em direção a alvos humanos; informações não confirmadas indicam que milhares de pessoas já perderam a vida e outros milhares estão gravemente feridos tanto de um lado, quanto do outro.

Aqui no Brasil os rebeldes que retomaram a embaixada da Líbia em Brasília afirmaram que camisetas, cartazes e documentos de exultação ao ditador foram jogados no lixo juntamente com a bandeira antiga do país. O embaixador no Brasil Salem Zubeidy que é pró Kadafi, informou que a bandeira rebelde foi mantida e ainda afirmou que "Isso aqui (embaixada) se chama terra líbia, não terra do embaixador"; foi uma forma inteligente para se manter ileso uma vez que está a milhares de quilômetros de seu patrão, ou dono, Kadafi. Uma alusão clara ao ditado popular que diz “passarinho que come pedra sabe bem a dor que sente na saída”.

Voltando a Líbia, o país que foi domínio Romano, Fenício, Turco, Grego, Cartagena; também foi dominada por vândalos, depois pelos bizantinos, também pelos egípcios, também pelos otomanos, pelos Estados Unidos, Itália e depois por um consórcio de Nações até a incorporação de um Governo próprio que durou apenas 18 anos até o golpe de Kadafi, o povo já não suporta mais tanto descaso, tanta humilhação, tanta pobreza e tanta incerteza de Governo.

As fotos que os jornalistas que estão em Trípoli publicam infelizmente nos mostram que crianças estão sendo alvos de metralhadoras e estilhaços de mísseis; que homens e mulheres estão dilacerados nas ruas das cidades onde os combates não cessam. Casas, mesquitas, prédios públicos, praças e ruas, tudo destruído quando se está no caminho dos combatentes; e para completar o quadro aterrorizante não há hospitais para atender a todos; começam a faltar alimentos e os remédios convencionais já terminaram há semanas.

E imaginar que tudo isso começou mesmo há milhares de quilômetros da Líbia, mais precisamente na Tunísia com o advento da Revolução de Jasmim, quando em dezembro de 2010 o pobre vendedor de rua Tarek al-Tayyib Muhammad ibn Bouazizi ateou fogo no próprio corpo em protesto ao seu governo. A morte de Tarek Bouazizi fez com que o Governo tunisiano fosse mudado, depois aquele protesto tomou conta das ruas do Egito e mais uma vez fez outro ditador cair; em seguida todo o mundo árabe ficou em pleno estado de alerta, porque do Marrocos ao Golfo Pérsico cada país árabe já não é mais o mesmo e o povo está ativamente nas ruas enfrentando os canhões de seus ditadores exigindo mudança.

Em Março deste ano eu já anunciava aqui no Irregular que a Líbia seria invadida pelas forças da OTAN; na época também fiz um enquete para saber o que meu público leitor achava desta invasão e sem surpresa alguma 80% disse que SIM, as forças da OTAN deveriam invadir o país de Kadafi; começava o martírio daquele povo em busca da liberdade e o próprio ditador sempre se aproveitou de tudo isso; ele mandava matar e sempre quis que a culpa fosse da OTAN...

Hoje com Trípoli completamente sitiada por milicianos desorganizados, com armamento quase inútil e sem o menor senso de liderança, a história da Líbia e do próprio Kadafi começa ser radicalmente mudada. As informações dos poucos jornalistas que estão no país dão conta do cerco ao quartel onde supostamente Kadafi estaria; o líder da oposição Mustafa Abdel Jalil chegou a dar declarações de que os filhos de Kadafi estariam presos e um morto, mas horas mais tarde um deles, Saif al-Islam, conhecido como o sucessor natural do ditador, foi visto dando entrevista e dizendo que tudo está sob controle.

O mundo já exibe as antigas bandeiras da Líbia nas embaixadas do país, mesmo assim, ninguém que conheça um pouco da história e loucuras de Kadafi pode ter a certeza de que ele fugirá ou se entregará. Lunático e completamente insano, o tirano líbio pode e deve estar preparando algo do tipo pirotécnico para que sua carreira seja encerrada bem ao estilo Kadafi. Sites em árabe afirmam que Kadafi tem armas de destruição em massa sob seu poder, outros afirmam que ele já teria fugido para poupar a vida de poucos familiares. O certo mesmo é que a esta altura da circunstância não há mais diálogo que encerre estes conflitos.

Os rebeldes sabem que se fraquejarem eles todos morrerão; Kadafi sabe, entretanto, que se ele se render, será julgado por crimes contra a humanidade; se ele resistir, será massacrado. Alguém se lembra de outro aforismo popular que diz “se correr o bicho pega e se ficar o bicho come”? Pois é assim que ambos os lados se sentem hoje na Líbia!

Se Kadafi se mantiver no Poder até o aniversário de 42 anos de ditadura, com certeza ele terá mais força mental para manipular a última carta do jogo; a data é 1º de setembro e faltam 9 dias para sabermos ainda mais verdades líbias; faltam mais 9 dias para sabermos se este capítulo da história será escrito com mais ou menos sangue e nós brasileiros faremos parte, porque nosso governo é favorável a permanência do ditador; coisa que eu jamais conseguirei entender, como o PT apóia o militarismo da carnificina de Kadafi.

O movimento que se chama Primavera Árabe começou, para nós, num Verão e hoje está no auge durante um Inverno; o que se espera é que até a próxima Primavera (do hemisfério sul) os líbios já estejam começando a limpar a sujeira, o sangue, para que haja imediata reconstrução, principalmente de uma instituição tão exigida e pouco praticada, a democracia com paz!

“Estou viajando mãe. Perdoe-me! Reprovação e culpas não vão ser úteis. Estou perdido e está fora das minhas mãos. Perdoe-me se não fiz como você disse e desobedeci a suas ordens. Culpe a era em que vivemos; não me culpe. Agora vou e não vou voltar! Repare que eu não chorei e não caíram lágrimas de meus olhos. Não há mais espaço para reprovações ou culpa nessa época de traição na terra do povo. Não estou me sentindo normal e nem no meu estado certo. Estou viajando e peço a quem conduz a viagem esquecer”. Carta de despedida de Tarek al-Tayyib Muhammad ibn Bouazizi dirigida a sua mãe minutos antes de morrer...

Carlos Henrique Mascarenhas Pires

Hoje minha filha Mariana Portolan Pires completa 7 anos de vida; bem que ela poderia ganhar de presente a rendição pacífica de Muammar Kadafi. Parabéns filha querida e vamos torcer por um mundo sem tirania e mais democracia...

CHaMP Brasil
Enviado por CHaMP Brasil em 23/08/2011
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