OS EUA NUM ATOLEIRO

Às vezes, temos dificuldades em imaginar quais serão os desdobramentos de um evento envolvendo povos tão distintos. E mesmo que recorremos à história, a acontecimentos semelhantes no passado, nem assim é possível prever o que acontecerá. É na guerra onde isso se torna mais verdadeiro. No entanto, quando da invasão do Iraque pelas tropas anglo-americanas, houve muitos que – talvez ofuscados pela tecnologia e poderio bélico dos armamentos dos EUA e da Inglaterra – pensaram que a guerra fosse questão de dias e que em pouco tempo os invasores estariam de volta vitoriosos, cobertos de glórias, feitos os antigos generais romanos; como também houve aqueles que se opuseram à invasão, talvez prevendo o caos, talvez certos de que as guerras só servem para causar destruição, dor e mortes.

Existe um ditado que diz que quando algo começa errado, vai dar errado até o fim. Não me recordo exatamente das palavras, entretanto o sentido é esse. E a invasão do Iraque foi um grave erro; talvez o maior erro cometido pelos EUA nas últimas décadas. Na época, muitos levantaram a voz contra, alegando que as justificativas para a invasão – tentativa de desenvolver armas nucleares e o envolvimento de Sadam Husseim com a rede Al Quaeda – não eram convincentes, não eram baseadas em relatórios confiáveis, aliás, o que se acabou confirmando posteriormente. Contudo, o governo americano não deu a mínima para essas vozes ecoantes de todos os cantos do mundo, ignorou-as completamente como sempre fez com relação ao resto do mundo.

Arrancar Sadam Hussein do poder e derrotar o frágil exército iraquiano foi tão fácil como tirar doce de uma criança. Mas se o frágil exército iraquiano foi uma pobre criancinha amedrontada diante do todo poderoso Estados Unidos, o mesmo não se pode dizer do povo iraquiano, cujo fanatismo de certos grupos religiosos vê os EUA como a encarnação do diabo, como um governo a ser combatido de todas as formas. E assim, em nome de Alá, sacrificam a própria vida para derrotar as forças do Mal.

É claro que nem todos os iraquianos pensam assim. Muitos por interesse ou por se sentir gratos aos invasores por tê-los livrados do ditador iraquiano, se aliaram aos invasores. E isso soou ao restante dos iraquianos e principalmente a aqueles que apoiavam o regime anterior como uma traição ao povo e à pátria. Então se passou não só a combater os invasores como também aqueles iraquianos que os apóiam. Conseqüência disso: uma guerra civil sangrenta como nunca se viu, com assassinatos em massa quase todos os dias.

A pergunta que se faz é: a guerra civil e a morte de milhares de iraquianos não poderia ter sido evitada?

Acredito que não. A única forma de ter evitado tal derramamento de sangue seria não ter invadido o Iraque e não ter derrubado Sadam Hussein. Por mais que Sadam fosse um ditador, era forte o bastante para manter o povo iraquiano unido, mesmo que sobre ameaça. Não se pode impor democracia á povo sem que este esteja preparado para recebê-la. E os iraquianos não estão preparados – como a maioria dos países do Oriente Médio – para a democracia. Aliás, a noção que eles têm de democracia é completamente diferente da nossa chamada “democracia ocidental” e, portanto, não é essa democracia que servirá para eles. Nem mesmo o apoio da comunidade internacional e da ONU seria suficiente para evitar o caos.

Agora que o mal está feito, só resta uma saída: evitar o prolongamento desse derramamento de sangue, desse genocídio. É claro que isso não é uma tarefa fácil. E dada à situação de guerra civil em que se encontra o Iraque, retirar as tropas sem mais nem menos pode não ser a melhor solução. O melhor a fazer seria permitir que paises vizinhos (por exemplo, o Irã e Síria) que possuem a simpatia dos grupos rivais substituam as forças anglo-americanas. Assim, os iraquianos não os verão como inimigos mortais e será mais fácil chegar num acordo para o fim das hostilidades. No entanto, a não ser que a coisa fique ainda pior, os EUA jamais aceitarão uma coisa dessas. Aceitá-la seria como admitir incondicionalmente a derrota no Iraque.

Edmar Guedes Corrêa
Enviado por Edmar Guedes Corrêa em 13/12/2006
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