VERA FISCHER, A DOR DA DIVINDADE .

Por uma coincidência do destino, no mesmo dia em o mundo tomava conhecimento da morte de Amy Winehouse , a imprensa brasileira divulgava que Vera Fischer se internara numa clinica de reabilitação. E Por uma ironia do acaso, enquanto eu lia detalhes sobre Vera no seu back to black , Amy cantava no rádio: I Said no,no, no...

Este no,no,no, fica ressoando nos meus ouvidos como uma espécie de mantra pós-moderno.

Mantra à divindade loura num país católico e pardo.

Vera Fischer é uma típica divindade de nossos tempos. Uma espécie de Midas, com todo o prazer e agonia que esta condição lhe proporciona. Vera é a deusa Mídias, tudo o que faz se transforma em noticia, tudo o que diz provoca, tudo o que pensa arrepia ... Não admiro que se sinta sozinha...

Toda exceção é solitária. A tranqüilidade é o bônus da mediocridade.

Nós que conseguimos expressar o que sentimos, que nos iludimos com nossas meias verdades e que cultivamos sacrifícios, não somos capazes de entender o seu vasto universo. A tragédia de enxergar além do horizonte recortado de nossas janelas é insuportável até mesmo para quem circula pelos salões do “Grand monde”, pois percebe que o tal “grand monde” nada mais é do que uma cópia barroca do “klein welt”. No fundo estamos sempre no mesmo lugar vendo as mesmas pessoas e falando as mesmas coisas... A diferença é o valor que atribuímos a estas coisas.

Quem vai além corre o sério risco de ir buscar a paz nos narcóticos, ou arrancar a orelha como fez Van Gogh.

Vera recorreu à bebida, a cocaína, a paixão...E nós ? Recorremos à segurança financeira, a constituição de uma família nos moldes preestabelecidos . A hipocrisia é nossa tabua de salvação...

No fundo Vera e Amy são nossas válvulas de escape. Vendo suas trajetórias, a nossa falta de coragem em ir além é confortada...

Somos fingidores da dor alheia... Personagens de Nelson Rodrigues escondidos pelos subúrbios de nossas almas...

Vera virá de volta! E voce verá que Vera é mesmo assim... Uma divindade que faz de sua dor uma espécie de sacramento que repele a mediocridade.

E como uma ironia do destino, ao olhar pela janela vejo escrito no pára-choque de um caminhão que passa: “É fácil me criticar. Difícil é ser eu...”

É Vera...Enquanto você se recupera eu faço coro com os milhares de anjos tortos e canto pra minha mania de não ir além: no, no, no, no....