A ROSA DE HIROSHIMA

Ninguém hoje, senão os próprios sobreviventes, pode sequer imaginar o que é um bombardeamento militar feito através de uma bomba atômica. Esta semana completa 66 anos desde que o avião bombardeiro B-29 da Força Aérea estadunidense, denominado Enola Gay, decolou de uma base naval no pacífico e sobrevoou a cidade japonesa de Hiroshima, soltando o artefato bélico apelidado de Little Boy, ou “pequeno garoto” sobre as cabeças de milhares de japoneses, matando pelo menos 150 mil. Insatisfeitos com o resultado provocado em Hiroshima, Truman, Presidente dos EUA, mandou ainda soltar outra bomba, desta vez a “Fat Men”, ou “homem gordo”, sobre Nagasaki, que dista cerca de 3 horas do primeiro alvo. Ao final a história conta cerca de 240 mil mortos; os japoneses afirmar ter sido mais de 500 mil...

Little Boy e Fat Men nada mais eram do que cilindros metálicos gigantes com uma excessiva carga explosiva atômica e naquela época o mundo nada ou pouco sabia do poder destrutivo que aquelas bombas poderiam provocar. Depois de Hiroshima e Nagasaki passamos a amar ou adiar tais artefatos. Muitos até hoje amam, projetam e estudam novas bombas nucleares e quem não pode desenvolvê-la, por falta de dinheiro ou oportunidade, resta a declaração de ódio público!

As explosões nucleares, a destruição das duas cidades e as centenas de milhares de mortos em poucos segundos levaram o imperador do Japão à rendição irrestrita em 15 de agosto de 1945, com a subseqüente assinatura oficial do armistício em 2 de setembro na baía de Tóquio e o fim declarado da II Guerra Mundial.

Esta e outras histórias relativas aos conflitos mais severos da Segunda Guerra Mundial muitos de nós sabemos; o que pouca gente sabe é como tudo começou; como todo se desenrolou e o mais importante: que aquela guerra estúpida dificilmente chegará de fato ao fim. Mesmo que os japoneses tenham perdoado os americanos, ou que os americanos tenham pedido desculpas; mesmo que os alemães hoje se digam conformados com a derrota de Hitler ou que os italianos já tenham esquecido Mussolini, o mundo jamais foi pacificamente correto depois das bombas de Hiroshima e Nagasaki.

A estupidez associada a ganância, tendo por aliado a burrice, a irresponsabilidade e a demência, contribuíram para que fosse deflagrada a guerra em 1939 e oficialmente encerrada com os adventos de Hiroshima e Nagasaki em 1945. Naquela ocasião o mundo se enxergava como divido em três partes; os aliados, o eixo e os inermes. Os Estados Unidos, Reino Unido, União Soviética e França lideraram a marcha anti-Hitler dos aliados; no eixo estavam à Alemanha, Japão, Itália, Hungria, Romênia e Bulgária e praticamente o restante do mundo, sem poder, voz ou oportunidade, se manteve no rol dos medrosos; torcendo por uma das partes ganharem a guerra e eles saírem do muro.

O papel do Japão pouco influenciou diretamente nos interesses de Hitler; traiçoeiro e desonesto até com os aliados, Hitler pretendia dar o golpe final no Japão somente no final das batalhas, quando pudesse reunir força suficiente na Europa e América. A idéia era cercar os inimigos pela entrada do Mediterrâneo para passar pelo Atlântico e assim dominar o que pudesse. Os japoneses iniciaram seu conflito particular pela China comunista. Eles desembarcaram em Pequim e conflitaram ferozmente em Xangai; de lá partiram para o interior. Até aquele ponto de guerra o resto do mundo pouco se importava com eles. Muito embora os nipônicos tivessem patrocinado uma verdadeira barbárie com os chineses, similar a de Hitler com os judeus, os americanos queriam apenas defender seu território.

Com os japoneses quase controlando a totalidade do território chinês, eles se sentiram tão poderosos que decidiram atacar os Estados Unidos. Em 1936 o Japão se associou a Hitler oficialmente. A guerra estava sendo tocada a galopes, mas somente depois de 1941 é que o fogo ficou de fato mais abrasivo. Os japoneses que já se sentiam os donos do mundo resolveram atacar uma base militar estadunidense, Pearl Harbour, matando covardemente milhares de soldados que sequer imaginavam tal golpe. Depois disso os EUA se mobilizou para entrar na guerra e se vingar do Japão!

Em 7 de dezembro de 41 os japoneses assinaram sua sentença de morte; Pearl Harbour não seria esquecida pelos americanos e o preço daquele ataque seria alto demais para os nipônicos pagarem. A China invadida estava fraca e isolada; seus soldados morriam aos montes, enquanto os japoneses cresciam no cenário isolado da Ásia. Hitler comandava uma ofensiva que ia desde a Europa até a África; na Ásia a URSS era invadida pelos fascistas e o mundo inteiro já andava com medo da expansão nazista. Aquela altura do campeonato muitos já afirmava que seríamos regidos pela suástica e por Hitler. Hirohito do Japão já era o líder supremo de muitas nações e ilhas do Pacífico; até Hong Kong abandonada pelos ingleses foi anexada ao domínio japonês.

A partir de 1943 os aliados começaram a reconquistar a Europa; em 6 de julho de 1944 houve o famoso Dia D, com o maciço desembarque aliado na Normandia e fator preponderante para poder derrotar Hitler. Os japoneses já não conquistavam como no início da campanha; alguns acreditam (eu também), que os japoneses estavam quase esquecidos de Pearl Harbour, mas como se diz no ditado: normalmente quem bate esquece, mas quem apanha não; os EUA produziam militares e armas como nunca antes havíamos visto na história; e o golpe fatal contra o Japão já estava sendo planejado há anos.

30 de abril de 45 Hitler morre; 07 de maio do mesmo ano o Nazismo assina a rendição; o mundo comemorava o fim da guerra, mas no Pacífico a coisa ainda estava feia. Em maio de 45 os aliados se voltam contra o Japão; em junho do mesmo ano inúmeras cidades japonesas são bombardeadas, mas os nipônicos enlouquecidos resistem tenazmente e permanecem cometendo as mais loucas atrocidades contra os que se puserem a sua frente. Em 11 de junho é formado um comitê na Alemanha para tratar da rendição do Japão evitando sua total destruição, mas Hirohito não aceitava tal rendição e permanecia ordenando ataques. Em 6 e 9 de agosto de 45 o golpe final é deflagrado; caso não se rendesse incondicionalmente o Japão poderia ser varrido do mapa. Somente em 2 de setembro de 1945 os canhões se calaram após a morte de milhares de japoneses em Hiroshima e Nagasaki e finalmente, pelo menos em documento, a guerra estúpida havia acabado...

O resultado de mais de seis anos de conflitos foi: países divididos, cerca de 73 milhões de mortos; um massacre que quase determinou a extinção dos judeus; uma fortuna impagável que até hoje gera resultados negativos; ódio, medo e um clique para uma nova guerra.

Deixando de lado qualquer tipo de poesia e sentimentalismo barato, os populares de Hiroshima e Nagasaki não poderiam pagar um preço tão alto pela estupidez de seus líderes nacionais, mas o resto do mundo também não podia pagar o mesmo preço e ficar no esquecimento. Os meninos de Pearl Harbour não estavam se preparando para qualquer ataque ao Japão, mas morreram de forma covarde pelos mesmos. Um morto de Pearl Harbour não pode ser considerado mais ou menos inocente do que um de Hiroshima; e eu tenho plena certeza que se o Japão tivesse uma bomba mais potente do que a atômica não hesitaria em usá-la!

Devemos sim jamais esquecer as crianças mudas telepáticas; nas meninas cegas inexatas; nas mulheres rotas alteradas; nas feridas como rosas cálidas; na rosa de Hiroshima sem cor, sem perfume, sem rosa, sem nada. Mas como lembrar tudo isso sem lembrar os judeus nos campos de concentração? Como lembrar Hiroshima somente, se crianças judias foram separadas de seus pais para morrer; velhos e doentes sacrificados em câmeras de gás; inválidos que serviram de comida para cães quando ainda estavam vivos...

Será mesmo que uma criança de Hiroshima quando recebeu a bomba na cabeça sofreu mais do que aquela criança judia que morreu de asfixia com gás venenoso? Será mesmo que o civil japonês que morreu em 6 de agosto de 45 era mais coitado do que o pai de família que morreu em Pearl Harbour?

Eu sou brasileiro e lamento muito que ocorreu ao povo de Hiroshima e Nagasaki; mas também sofro somente por lembrar o que passou a todos os outros mortos pelo fascismo nazi-nipônico. Que este dia 06 de agosto, seja para sempre lembrado que a estupidez gera a morte; que a ganância gera morte; e que a morte gera dor; dor que somente os ponderados e competentes podem sentir! Que a Rosa com cirrose e anti-rosa atômica esteja apenas nos livros de história; e que japoneses, estadunidenses, brasileiros, paraguaios, venezuelanos, cubanos, bem como os de demais gentílicos mundiais pesquisem e desenvolvam somente bombas que facilitem a vida, como as bombas d’água; jamais as atômicas...

Carlos Henrique Mascarenhas Pires é editor do Blog www.irregular.com.br

CHaMP Brasil
Enviado por CHaMP Brasil em 02/08/2011
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