Última novidade

De vez em quando ao citar um livro, música, ou filme que não estão na “moda”, percebo o desinteresse constante e sem muitas justificativas, simplesmente por aquilo não ser uma novidade. O pior é quando essa postura vira um preconceito cuja idéia do cult é invocada de forma pejorativa.

A partir dai quem adquire ou possui determinados gostos, é freqüentemente classificado de alternativo, ora com certa razão por querer ser explicitamente diferente, porém na maior parte do tempo, isso não passa de uma provocação taxativa, vindo principalmente daqueles que não aceitam e não fazem a mínima questão de aderir certos costumes.

O gosto segundo Bordieu (sociólogo francês), só pode ser aprendido relacionadamente, dentro de um sistema de oposições e complementaridades entre estilos de vida e entre correspondentes posições sociais na estrutura de classes. Segundo o autor essa questão de gosto, mais do que em qualquer outra área ou qualquer determinação é negação: os gostos são, sem menor dúvida, acima de tudo, aversões, repugnância provocada por horror ou intolerância visceral do gosto dos outros. Ao contrário do apelo à tradição, no qual determinados grupos acabam simbolizando que o antigo é sempre melhor, o apelo ao novo sugere que a maioria das coisas, ou tudo que é mais recente acaba sendo maior de idade qualidade ou mais interessante.

Talvez, uma grande parcela de culpa ocorra em função dos bombardeios midiáticos das propagandas que invadem as telas, os jornais, a internet, as revistas e os outdoors. Esse anúncio freqüentemente vem acompanhado de uma frase convidativa: conheça os nossos novos produtos… Dessa forma a novidade é consumida vorazmente, em um apelo quase religioso ao consumismo.

Logo como um brinquedo de criança, o produto é largado em um canto e esquecido, pois um novo lançamento sempre está prestes a surgir. O consumismo ganha novas esferas, mas a “boa” e “velha” mentalidade continua a mesma.

Sendo assim, não dá pra justificar o consumo ou preferência por um produto ou idéia simplesmente porque ele é novo. É necessário haver razões sólidas que realmente demonstrem ou que sugira minimamente o porquê daquilo ter qualidade.

A defesa de uma idéia, ou a conclusão de um argumento ou ponto de vista não deve depender do fato de ser novo ou velho. O que vale é premissas aceitáveis e que suportem corretamente aquilo que está sendo oferecido.