SEMELHANÇAS COM OS MITOS

Wagner Herbet Alves Costa (1968-2006)

Quinta 21 Abril de 2005 às 18:42:05

E para confrontar as acusações, farei mãos, primeiramente, de parte de um artigo meu (denominado: “Passagens Difíceis do Alcorão”) onde eu repilo, dentre outros, um ataque à divindade Cristo feito por um (fictício) muçulmano que indaga: ‘Mas essa idéia de o divino nascer duma virgem é coisa presente nos mitos pagãos, onde se associa à divindade tal tipo de nascimento (virginal)?’

a) Ao que eu respondo: Ora, quem disse que as idéias presentes nos mitos são, todas, per si, erradas? Se forem, então, não deveríamos acreditar em mortos sendo ressuscitados, ou cegos curados, ou outros tantos milagres e prodígios que são similarmente assinalados tanto na Bíblia como no Corão; porquanto em vários mitos aparecem fatos similares.

Os mitos do paganismo falam, por exemplo, de deuses que curam pessoas; e, no entanto, sabemos que o Deus verdadeiro é quem, de fato, cura. Os mitos do paganismo falam de deuses que ressuscitam mortos; e, no entanto, estamos cientes que o Deus verdadeiro é quem, de fato, ressuscita-os. Os mitos do paganismo falam de deuses que criam plantas e animais; e, no entanto, somos sabedores que o Deus verdadeiro é quem, de fato, criou tais seres... Ora, os mitos do paganismo, semelhantemente, falam de deuses que se encarnam; e, nós (que temos a ciência exata), estamos conscientes que o único divino que se encarnou foi o Deus verdadeiro, na Pessoa do Verbo da Vida!

A idéia [presente em mitologias] de que um ser divino podia curar era verdadeira, a idéia de que um ser divino podia ressuscitar mortos era verdadeira... assim, também, verdadeira era a idéia de que a divindade podia encarnar-se (e ter mãe na temporalidade). Falsa, no entanto, era a atribuição que se fazia dessas coisas (dessas idéias) a seres que não eram. E, do mesmo modo que se atribuiu a deuses falsos a encarnação, concomitantemente, atribuíram às falsas virgens-mães aquilo que só caberia, única e exclusivamente, a Virgem de Nazaré: Maria Santíssima.

Maria, portanto, é a única e verdadeira Mãe de Deus, todas as demais são falsas. (Como, paralelamente, Jesus é o único Deus encarnado, os mais são falsificações.) Aliás, o próprio texto corânico bem coloca em proeminência o valor de sua pessoa; haja vista, dentre outras grandiosas coisas que relata sobre a Virgem, está a de ser ela a ÚNICA mulher – em todo Alcorão – cujo nome próprio é mencionado! E olhe que é citado dezenas de vezes... (E mesmo que fosse citada apenas duas ou três vezes já, grandemente, a particularizaria.) Esse incomum tratamento dado a mãe, mais e mais aponta-nos o quão extraordinário é seu filho. [Eu não sei como ainda tem muçulmano que acha que Maomé é maior do que Jesus Cristo!]

b) Teria várias hipóteses explicativas, como a ‘psicologista’ e a ‘propagandista’, para aclarar o porquê das tais semelhanças; entretanto, prefiro ater-me a uma de um santo da Igreja Católica, que viveu no século II: São Justino, o Mártir. O qual reconhecia essas coisas como sendo fruto da artimanha do diabo. Por o Maligno ser um mui conhecedor das promessas divinas. [Como aquela que diz: “Eis que a Virgem conceberá e dará a luz um filho e o chamarão de Emanuel, o que traduzido significa: “Deus está conosco”” (Mt 1,23). E eu ainda acrescento, principalmente, aquela do livro do Gênese: “Porei hostilidade entre ti e a mulher, entre a tua linhagem e a linhagem dela” (Gn 3,15).]

Satanás, portanto, sabia (e muito bem!) que ele e a sua descendência teriam que enfrentar a Mulher prometida e seu filho. [Que esse era o grande conflito das eras, já pré-anunciado pelo Deus Altíssimo!] E, desde cedo, tratou de armar arapucas; espalhando estórias semelhantes à revelação divina para confundir as gerações humanas. De sorte que, quando o verdadeiro Filho do Altíssimo nascesse da verdadeira Virgem Mãe de Deus, muitos os renegassem; dizendo, quiçá, coisas do tipo: ‘Que ele (Jesus) não seria melhor do que os seus deuses (mitológicos), nem sua virgem-mãe (com relação as virgens-genitoras mencionadas nas lendas pagãs)’. [Não nos esqueçamos o quão astucioso é o demônio, conforme indica-nos a própria Escritura Sagrada (veja Gn 3,1); e que, portanto, como ele é capaz dos mais mirabolantes e malignos projetos.]

Escreveu, São Justino, em 155 d.C.: “Moisés é mais antigo do que todos os escritores e por ele, e por ele, como já indicamos, foi feita esta profecia: “ “Não faltará príncipe de Judá, nem chefe de seus músculos, até que venha aquele a quem está reservado, e ele será a esperança das nações, amarrando seu jumentinho na sua videira e lavando sua roupa no sangue da uva”. Ouvindo essas palavras proféticas, os demônios disseram que Dioniso tinha sido filho de Zeus, ensinaram que ele tinha inventado a vinha, introduziram o asno em seus mistérios e propagaram que ele, depois de ter sido esquartejado, subiu ao céu” (IApol. I, n. 54)” [PATRÍSTICA, JUSTINO DE ROMA, I e II Apologias – Diálogo com Trifão, Editora Paulus, SP, 1995, p. 70].

O historiógrafo Valentin Veit salienta: “O culto de Dionísio era de origem trácio-frígia: o deus veio como salvador, como redentor e portador da felicidade sobre a terra; os crentes na maioria os oprimidos, camponeses e escravos, e mulheres, procuravam encher-se de deus... A tudo isso estava ligada a crença na vida além-túmulo... Platão reuniu todas essas idéias e juntou-lhes elementos orientais: o pecado original, redenção, renovação, céu e inferno, castigo dos maus, recompensa dos bons”[VEIT, Valetin, História Universal, Livraria Martins Editora, SP, 1961, SP, pp. 184-185]. Portanto, segundo este historiador, todo um arcabouço de similaridades (com o Cristianismo) já havia na cultura mundial antes mesmo de Cristo nascer.

Muito provavelmente, o grande rival à Fé Cristã incipiente foi o mitraismo. “Mitras... nascido numa gruta, adorado por pastores... morto, enterrado, ressuscitado, tendo subido para os céus”[VEIT, Valentim, História Universal, Livraria Martins Editora, SP, 1961, p. 187]. “Os fiéis acreditavam que Mitra concedia a salvação espiritual e uma vida eterna no além... O batismo era outro elemento ritual, como o era uma refeição cerimonial de pão e vinho”[READER’S DIGET, Depois de Jesus: o triunfo do cristianismo, Reader’s Diges Brasil Ltda., RJ, 1999, p. 198]. “As escrituras zoroatristas chamavam Mitra de “a Luz Divina” ”[ENCICLOPÉDIA DELTA UNIVERSAL, Editora Delta S.A., RJ, 1980, Vol. 10, p. 5405].

Não à toa, já nos primórdios da Igreja: “Os autores cristãos, como Justino, o Mártir, e Tertuliano, opunham-se veementemente ao mitraísmo. Consideravam a “eucaristia” e o batismo mitraistas como paródias de inspiração diabólicas às práticas cristãs”[READER’S DIGEST, Depois de Jesus: o triunfo do cristianismo, 1a edição, Reader’s Digest Brasil Ltda., RJ, 1999, p. 198].

c) Muitos missionários e evangelizadores cristãos, assustados com tantas semelhanças, omitem-se em tratar de tal tópico nas suas pregações e escritos; com medo de que as pessoas – descobrindo que muitos dos relatos das mitologias se parecem com aquilo que a Bíblia nos revela – percam o interesse por Cristo... Mas eu tenho ciência de que só a Verdade é que liberta. (Por isso, me arvorei em descrever, ainda que de forma diminuta, tais coisas.)

Para continuar minha peleja, citarei alguma coisa de um outro texto de minha autoria, intitulado ‘Domingo’. No qual assinalo uma série de críticas a um escrito do Sr. Samuele Bacchiocchi – um herege adventista que gasta seu tempo e empenho na defesa do sabatismo.

Nesse outro artigo meu, dentre inúmeros pontos, eu o questiono: O sr, seu Bacchiocchi, acredita que Cristo nasceu de uma virgem? Que ele foi perseguido por um rei maligno, o qual ordenou o massacre de crianças inocentes? E que esse menino, posteriormente, encontrou-se no templo; onde demonstrou sua imensa sabedoria (aos doutos que lá se encontravam)?... Então, lembre-se: “O deus Vishnu... nasceu num estábulo, de uma virgem, foi perseguido por um rei malvado, que para fazê-lo perecer massacra grande quantidade de crianças... Um dia, levado ao templo, impressiona pela sua sabedoria”[WILGES, Irineu, Cultura Religiosa (as religiões do mundo), 4a edição, Editora Vozes, Petrópolis-RJ, 1995, p. 28]. Também não se esqueça que Vishnu, na mitologia hindu, é o 2o Nome da Tri-murti. [É claro que não é a mesma coisa de ser a 2a Pessoa da Tri- ndade!]... Porém Vossa Senhoria poderá redargüir, com palavras semelhantes as que seguem: ‘Mas eu sei muito bem disso!’ Entretanto, pergunto-te: ‘E os muitos que lêem seus escritos, será que eles sabem?’ Ou só sabe a parte que o sr, convenientemente, permite que eles venham a saber? Pois é muito fácil ser parcial! [Aliás, é típico do protestantismo tal parcialidade, já que, por exemplo, costumam pegar todas aquelas partes da Bíblia que falam da imprescindibilidade da fé, mas se esquecem de focar nas outras várias passagens que discursam sobre a necessidade das obras. E isso (a parcialidade no que ensina a Escritura Sagrada) é claramente herético!]

Nesse texto, combato, pois, a ímpia e ridícula tentativa de descaracterizar a santidade do preceito dominical, só porque este apresentaria congruências com o paganismo. Haja vista, se tomássemos o critério da semelhança com o que é pagão para regular o que legítimo para os cristãos, então, nesse caso, praticamente, a Bíblia (em quase toda a sua inteireza) seria – perdoem-me o atrevimento das palavras – jogada fora! Para se ter uma idéia, determinados hagiógrafos chegam a utilizar vocábulos das mitologias para descreverem termos doutrinários do Cristianismo, como as palavras ‘Hades’ e “Tártaro” (2 Pe 2,4). São Paulo cita até mesmo um cântico feito a uma divindade do panteão helênico como argumento a favor do Cristianismo: “Alguns de vossos, aliás, já disseram: ‘Por que somos também de sua raça’”(At 17,28).

E assim como certos adventistas tentam neutralizar o valor do Domingo, querendo fazer ver a ligação com o paganismo; muitos outros protestantes, baseando-se nas semelhanças com as falsas virgens-mães dos mitos, atacam a grandiosíssima dignidade da Santa Maria. [Mas tanto um grupo, como o outro, costuma omitir as outras inúmeras similaridades que há com as mitologias; porquanto, nesse caso, se parecem com o que eles professam e ensinam em suas denominações religiosas. Aí, nessa situação, não interessa contar, não é mesmo?

e) O Filho de Deus não estava preocupado se a divina religião que ele estabelecera se parecia ou não com as demais. [O fundamental é se ela é verdadeira, independente se se pareceria ou não com as outras.] Se tem gente que julga o Cristianismo, pela aparência, não é culpa nossa nem muito menos de Deus. Afinal, faz parte da sabedoria revelada (e é da própria razão) que não se deve julgar as coisas pelas aparências; pois se está sujeito a cometer gravíssimos erros. Ele próprio, nosso Senhor, por que se parecia com os demais seres humanos, foi julgado e avaliado como um simples mortal (pecador como os outros): “Sabemos que esse homem é pecador”(Jo 9,24).

Frisemos, e tenhamos em mente, a sentença divina que diz: “Não julgueis pela aparência, mas julgai conforme a justiça” (Jo 7,21). [Este mandamento de Nosso Senhor, aliás, é que deve ser a regra normativa de nós cristãos. A qual também se aplica à avaliação do que venha a ser a Eucaristia que o Senhor instituiu, pois embora ela tenha a aparência de pão, não é pão. E, tristemente, ainda hoje, pela aparência, é que muitos continuam a julgar o Santíssimo Sacramento, confessando-o como sendo simplesmente pão.]

f) É preciso notar ainda que, diante do que revelara o Senhor em Gn 3,15, era natural que o ódio da serpente (do demônio) se voltasse tanto contra o que foi gerado virginalmente, como contra a virgem genitora. Por isso o demônio, incessantemente, pugna para desonrar não somente um, mas a ambos (ou, ao menos, mitigar-lhes a honra). Eis por que, os muitos protestantes que negam o grande valor da mãe de Deus, Maria Santíssima, foram atingidos – ainda que parcialmente – pelo veneno da víbora maldita (porquanto, “valorizarem” o filho, porém depreciando o significado e a importância da mãe; se é que se pode considerar como valorizadores do Filho de Deus aqueles que desvalorizam a que o gerou.). [Outros, não-cristãos, por sua vez, por causa de tais similaridades, fazem pior: haja vista desvalorizam não só a mãe, mas também o filho. Estes estão completamente cegados pelo veneno que a áspide infernal lançou-lhes nos olhos.]

g) Ou se é descendência da “bendita” (Lc 1,42) Maria; ou se é da linhagem da “maldita”(Gn 3,14) serpente. Ou se é filho daquela que é “cheia da graça”, ou se é da que, terminantemente, está longe da graça. São, portanto, duas hostes (dois exércitos) que se digladiam ao longo da plenitude do tempo. [De modo que, dependendo do lado que você se postar, irá definir a sua destinação eterna: ou Céu, ou Inferno.]

P.S.: Tudo que escrevi está, e sempre estará, sujeito a Santa Madre Igreja. A qual tem o poder de corrigir, refutar, completar e tudo o mais que for necessário para preservar a integridade do Sagrado Depósito da Fé.

O artigo sobre o Corão são mais de dez páginas; eis, portanto, um dos motivos de não enviá-lo. [Ademais não faz parte, imagino eu, do escopo de debates desse portal.] Também o artigo sobre o Domingo conta com mais de uma dezena de laudas.

Bibliografia

- BÍBLIA DE JERUSALÉM, Editora Paulus, SP, 1996.

- ENCICLOPÉDIA DELTA UNIVERSAL, Editora Delta SA., RJ, 1980, Vol. 10.

- PATRÍSTICA, JUSTINO DE ROMA, I e II Apologias – Diálogo com Trifão, Editora Paulus, SP, 1995.

- READER’S DIGEST, Depois de Jesus: o triunfo do cristianismo, 1a edição, Reader’s Digest Brasil Ltda., RJ, 1999.

- VEIT, Valetin, História Universal, Livraria Martins Editora, SP, 1961, Tomo I.

- WILGES, Irineu, Cultura Religiosa (as religiões do mundo), 4a edição, Editora Vozes, Petrópolis-RJ, 1995.

Fiquem com Deus! E que o Altíssimo possa iluminar a todos (cristãos e não-cristãos) para que se convertam à única e Santa Fé Católica!