OS RUSSOS AJUDAM O CONSUMIDOR BRASILEIRO

O boicote dos russos à compra da carne brasileira trouxe uma preocupação aos produtores dos estados atingidos. No entanto chegou em boa hora para o consumidor. A carne bovina que no final do ano teve um pico, por conta dos festejos típicos, teimava em segurar-se lá em cima durante o ano de 2011. Com o anúncio da redução de compras pela Rússia, o mercado sentiu uma retração. Ainda não foi sentida uma grande diminuição no preço, mas, pelo menos, a tendência de alta foi freada.

Já houve épocas em que as conseqüências de uma anúncio destes seria catastrófico. Poria em cheque o controle sanitário brasileiro, balançaria a economia e, o que é muito pior, colocaria a maioria dos brasileiros dando a razão para a Rússia. Na verdade, a terra dos czares está apenas inventando uma desculpa para equilibrar sua balança de pagamentos. Por conta da temperatura, manter os pastos verdes para a criação de gado é tarefa quase impossível. Criar gado confinado, sendo alimentado e engordado com pasto estocado, pode se tornar mais caro que comprar a carne do Brasil.

O Brasil vem fazendo um trabalho sério e continuado para controle de doenças em animais desde a década de 60, quando os abatedouros frigoríficos foram descentralizados para ficarem mais próximos dos centros de produção. O controle sanitário que era feito quase com exclusividade nos abatedouros, atingiu também as fazendas.

Embora o governo tenha seus veterinários comandando campanhas de combate a doenças comuns ao gado, algumas delas já totalmente erradicadas, os abatedouros também mantêm estes profissionais que, na maioria das vezes, trabalham em estreita sintonia com os oficiais, mantendo a saúde dos animais e a segurança alimentar dos consumidores. Isso nos, permite consumir uma picanha mal passada sem medo de contrair alguma doença de origem animal.

O hábito do churrasco, do bife, da carne assada de panela, do assado de forno, do picadinho nas mais diversas aplicações faz com que o Brasil seja um grande consumidor de carne bovina. A exigência do consumidor brasileiro também ajuda a melhorar a qualidade da carne desde a criação do animal. A carne é o típico produto brasileiro que, antes de ser exportado, já passou pelo crivo do consumidor local.

Sempre estamos em busca de novos mercados para nossos produtos. Com o consumo interno fortalecido o impacto do recuo da Rússia não provoca uma grande crise, a não ser em alguma região produtora limitada. A atitude é localizada e os argumentos para o boicote carecem de fundamentos. Jamais devemos copiar exemplos como da Argentina, que limita suas exportações para não faltar carne internamente. O Brasil tem consumo e espaço para produzir. O trabalho sanitário não deve ser relaxado, mesmo se o comprador não tenha razão em seus argumentos.

Luiz Lauschner – Escritor e empresário

(Publicado no jornal AMAZONAS EM TEMPO, de Manaus)