A TOLICE DE SER UM ANIMAL RACIONAL
Ainda estou para descobrir a vantagem de ser considerado um animal racional.
Dia desses observava um gato, sim, um felino, andando sobre um muro. Os passos do animal, cautelosos e milimetricamente calculados, não puderam deixar-me de pensar na vida. Uma comparação um tanto quanto zoomorfizada, mas o que seria a vida senão a eterna minimização do racional? Que me desculpem alguns filósofos, até concordo com sua teoria, mas vez ou outra aprendemos que a emoção é a força-motriz. Choramos, gritamos, rimos, cantamos, manifestamos concretamente a maior das abstrações: o amor. Existiria amor racional? Certamente não. O lógico impediria a transgressão. E o que seria o mundo sem ela? As grandes idéias físicas, as grandes descobertas, as grandes teorias, todas pensadas pela razão, colocadas em prática pela emoção. Um equilíbrio? Não, um controle. Por isso convencionou-se nos chamar de animais racionais: impedimos que a emoção atinja sua grande ousadia. E aí se encontra a maior tolice dos homens (ou uma das várias): ousar demais, e pensar que o rótulo de ser racional não pode ser apagado. Enganamo-nos. Vez ou outra esquecemos de raciocinar, de fazer o controle; ousamos, e levamos tropeções. E na enorme teia global, quem se machuca é o “outro”. Tantas guerras, tantos suicídios, as pessoas cada vez mais distantes. Uma resposta mal dada, uma atenção não dada, palavras ao vento. Com isso, também sentimos a dor. Caímos do “equilíbrio” construído, e tão simples como fácil, estragamos a vida. Então, me pergunto: “Somos realmente animais racionais?”.
O gato acabou de atravessar o muro. Conseguiu manter o equilíbrio. Conteve-se entre a vontade de chegar ao fim, e a necessidade de cautela. Nós? Ah, nós...Na primeira oportunidade, esqueceríamos a lógica, e gritaríamos tão alto que perderíamos o equilíbrio, sem nos lembrarmos de que não temos 7 vidas. E então, volto a me perguntar: quem será o animal racional? Eu fico com o felino.