UMA HISTORIADORA DE FÉRIAS E ENTEDIADA - A INVENÇÃO DA PORNOGRAFIA

O termo pornografia foi registrado pela primeira vez no Diário de uma Cortesã, de Luciano, e é uma junção de duas palavras gregas: escrita e prostituição. Hoje, no senso comum, refere-se a qualquer obra que retrate o sexo explícito.

Porém, muitas obras da antiguidade clássica, e até anteriores a ela, classificadas como pornográficas pelos meus respeitáveis colegas historiadores não eram consideradas obscenas pela moral vigente em suas épocas; a maioria era de caráter didático, artístico, religioso, lúdico ou mesmo científico.

A palavra-chave é obscenidade.

Ou seja, estudar a História da pornografia requer um estudo também do erótico e das mentalidades, que leve à distinção entre o que era considerado obsceno, provocativo ou apenas prazeroso e o que era parte intrínseca e aberta da cultura estudada, sem nenhuma daquelas interpretações.

A Vênus de Wliendorf não é pornografia, assim como o Kama Sutra ou as pinturas e esculturas gregas que adornavam as ruas, fachadas e praças sem que ninguém fechasse os olhos ou se considerasse constrangido ao passar por elas.

A primeira era um objeto de culto; o segundo, um manual que visava a perfeita integração entre os amantes, e as terceiras simplesmente eram consideradas belas o suficiente para estarem expostas a todos, sem que a excitação sexual coletiva e pública fosse seu objetivo.

Por mais obscenas que possam parecer aos historiadores caretas de merda.

O termo erótico é relativo à licensiodade, às referências ao amor carnal, à incitação à libido.

O caráter erótico de uma obra é definido pelo limite no grau de sensualidade que explora, pela forma libidinosa com que se refere ao ato sexual e suas explicitudes ou, sendo estas veladas, sugeridas, deixadas à imaginação.

Sendo a percepção do erótico um âmbito individual e variável, estas duas formas de apresentar o sexo podem ser consideradas sinônimas por alguns e antônimas por outros.

A diferença entre o erótico e o pornográfico não é uma questão de qualidade, valor, ou gênero textual, mas das reações de quem lê.

REPITO:

Sendo a percepção do erótico um âmbito individual e variável, estas duas formas de apresentar o sexo podem ser consideradas sinônimas por alguns e antônimas por outros.

A conclusão é que rotular uma obra como pornográfica para diferenciá-la da erótica é uma forma de manipulação, censura, cerceamento social e tentativa de graduar a produção artística com medidas de valor e mérito, impondo a moral de um grupo dominante sobre outro, quando esta medida deveria ser definida pela moral do leitor, que apreciará a obra como pornográfica (obscena, contrária à decência ou ao pudor, indecente, desonesta, torpe) ou erótica (excitante, sensual, libidinosa, prazerosa).

A moral deveria versar sobre aspectos outros da vida em sociedade, tais como coexistência pacífica, solidária, humanitária e de respeito às diferenças e nunca, jamais sobre as manifestações artísticas, sejam elas de boa qualidade ou não.

Iama K
Enviado por Iama K em 06/07/2011
Reeditado em 06/07/2011
Código do texto: T3078547
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