PRESIDENCIAIS - A SAGA DOS CANDIDATOS E O SEU SISTEMA

por

Assis Machado

Nunca um dia 22 de Janeiro foi tão falado como aquele que vem chegando por aí. Será um dia muito especial para os eleitores da Pátria Lusa que desde o histórico 25 de Abril de 1974 conquistaram um inalienável direito à cidadania activa. Trata-se do dia de novas Eleições para a Presidência da República Portuguesa.

E digo ser “um dia tão falado” porque, de facto, nunca como desta vez houve tantos candidatos disponíveis. Perto de uma vintena entregaram no Tribunal Constitucional, dentro do prazo legal, o seu processo de candidatura e ainda, perto do fim desse prazo, eram esperadas mais algumas. E o que é interessante é a comunicação social não realçar este fenómeno. Antes, pelo contrário, tem destacado de uma forma repetitiva e exaustiva tudo o que se passa com os cinco candidatos que, desde o início, se vem falando à excepção de Garcia Pereira que só há dois dias é que começou a ser falado.

Assim com base na existência destes cinco “cavaleiros presidenciais” já consolidados desde início – Cavaco, Soares, Alegre, Jerónimo e Louçã – mais nada resta a todos os outros do que assistirem, eles mesmos, impávidos e serenos à “passagem de modelos”, na pessoa dos cinco citados, sem que se tenha sequer uma ideia mínima do conteúdo das suas mensagens. Ou será que os chamados “pequenos candidatos” não terão o seu legítimo direito de transmitirem as suas ideias sobre as funções de um Presidente ?

Nas semanas que antecederam esta minha comunicação – na chamada pré-campanha eleitoral – note-se que por todos os órgãos de comunicação social, começando pelos Media mais comuns, apenas se têm visto referências àquelas cinco candidaturas. Das outras candidaturas nem sinal de vida. Lamenta-se o facto de, num país onde se diz haver a mais respeitável liberdade de imprensa, como é que surge este fenómeno tão desnivelado?

Pois é ! Lá diz o povo : quem tem unhas é que toca guitarra! É que assistimos a uma descarada dicotomia de potencialidades que, à partida, dão uma vantagem substancial a alguns que, por ironia da questão, nem sequer precisariam de tanta publicidade e campanha para se promoverem. A realidade diz-nos que são sempre os candidatos apoiados directa ou indirectamente pelos principais Partidos que mais condições têm para se imporem no contexto sociológico eleitoral. Senão vejamos: dos cerca de dez milhões e meio de Euros dos orçamentos dos candidatos só os referidos cinco consumirão nada menos que cerca de dez milhões . Pelo exposto, vemos que todos os outros terão de se contentar apenas com meio milhar, ou pouco mais, de Euros.

Já foram enunciados os orçamentos registados como disponíveis, à partida, dos candidatos mais conhecidos. Podemos nós aqui também referi-los, porque não? As verbas estão assim distribuídas:

Cavaco Silva ............................................ 3.700.000 Euros (*)

Mário Soares ............................................ 2.949.543 »

Manuel Alegre .......................................... 1.500.000 »

Jerónimo de Sousa ................................... 1.100.000 »

Francisco Louçã ....................................... 546.949 »

Total ................ 9.096.492 »

(*) - A fonte onde fomos recolher estes dados, muito recentes e fidedignos tem a sua origem na Revista VISÃO, Nº 669, do dia 29-12-2005.

Como as previsões oficiais do Tribunal Constitucional apontam que as despesas de todos os Candidatos rondarão os 10.132.821,06 Euros, conclui-se que restam 1.036.329,06 Euros para todos os outros. Ou seja, usufruirão apenas para a sua campanha de cerca de 100 Euros cada um. O que, convenhamos, assegura reduzida democraticidade a este Sistema. Cem Euros, não dá sequer para, pelo menos uma vez, se deslocarem à TV Pública , ou a qualquer estação de Rádio, para dizerem ao País Eleitor que também existem.

Agora, perguntamos nós, como farão a Campanha Eleitoral durante o mês de Janeiro, até ao dia vinte e dois, estes Candidatos ? Pelo telefone, pela Internet ( se é que a têm ), na sua rua ou bairro com as pessoas que com eles se cruzarem? Ou será que o Pai Natal providenciará aos “mais pequenos aspirantes a Belém” umas broazitas de última hora para as despesas do caminho ?

Como se pode constatar este nosso Sistema eleitoral, feito em nome da democracia e da igualdade de oportunidades, é contraditório com a sua própria doutrina política. Toda a prática do dia a dia demonstra que é um Sistema elitista. Logo, no que diz respeito à sua gestão estrutural, ele está à disposição apenas de uma minoria.

E, depois, queixámo-nos nós das elevadas abstenções e da desconfiança dos eleitores para com os políticos! A evidência põe a nú esta triste realidade : uma minoria política elitista serve-se da maioria ingénua sociológica para atingir os seus fins...

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N. B. Para que se não diga que no espírito desta comunicação crítica existe alguma intenção facciosa ou parcial na citação de certas candidaturas, promovendo assim a sua dinâmica concorrencial, deixamos aqui uma afirmação de solidariedade para com as outras candidaturas não citadas. Caso das de: Manuela Magno, Luís Filipe Guerra, Carmelinda Pereira, Luís Botelho Ribeiro, e outras eventuais candidaturas, às quais desejamos, dentro das suas expectativas, os melhores desempenhos e auspícios.

FRASSINO MACHADO
Enviado por FRASSINO MACHADO em 01/12/2006
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