Mutilados

Todos que ouvem esta expressão por certo lembram imediatamente da guerra. Não me admiro. Este termo ou rótulo nos leva a filmes, livros, documentários sensacionalistas que mostram as barbáries de uma guerra no seu mais puro teor – a violência.

E isso remonta a séculos, milênios.

Pessoas visivelmente amputadas de seus membros circulam em sua precariedade entre nós. Algumas em estado miserável, excluídas da sociedade. Outras, no entanto, readaptadas, são verdadeiros exemplos de superação, muitas vezes mostrando uma capacidade indescritível, capazes de inspirar e motivar pessoas que de nada sofrem e de tudo reclamam.

De uma maneira ou de outra adquirem uma notoriedade, e isso é incontestável.

Porém, se refletirmos um pouco mais, num sentido mais amplo, encontraremos outras aplicações para o termo mutilado.

Veremos que tipos não menos doloridos e em número assustador surgem a todo instante. Estão em pessoas que jamais imaginaríamos que pudessem estar acometidas. Pessoas muito próximas, amigos, familiares.

De uma maneira sorrateira, apossam-se de suas vidas, sugam seu juízo, sua memória, seus movimentos - e nós não percebemos. Quando nos damos conta a batalha já está perdida.

Assim tem sido com as pessoas que sofrem do mal de Parkinson, outras do mal de Alzheimer e, o mais comum, se é que assim podemos chamar – a depressão.

Afinal há uma perda - não de um membro, mas de uma parte não menos significativa; sensível e que afeta o sistema neurológico, psíquico, e as conseqüências são privações constrangedoras e de muita tristeza. Não há como mensurar a dor, independente da parte atingida, tanto para o paciente como para os familiares que sofrem junto.

Não tenho conhecimento e naturalmente também não sou a exceção para esmiuçar a causa ou causas desses males. Sequer também é esta a intenção, apenas chamo a atenção para que fiquemos atentos. Os tempos de guerra por aqui já se foram, mas há um inimigo invisível e está a espreita, prova disso são os mutilados.