UMA IGREJA VERSUS VÁRIAS DIVISÕES E SEITAS
Wagner Herbet Alves Costa (1968-2006).
a) Por que muitos não crêem no que ensina a Igreja?... Essa infeliz situação é criada, principalmente, pelas divisões. Não à-toa disse-nos Nosso Senhor Jesus Cristo: “Que todos seja um... para que o mundo creia”(Jo 1,21). Daí, São Paulo já nos alertara “Não haja divisões entre vós, sede estreitamente unidos no mesmo espírito e no mesmo modo de pensar” (1 Cor 1,10). No entanto, as ‘Divisões’, de um certo modo, são necessárias – pois são como uma espécie de peneira ou crivo que separa os que perseveram na fé dos que nela decaem: “E necessário que haja até mesmo cisões entre vós, a fim de que se tornem manifestos entre vós os que são comprovados” (1 Cor 11,19). Afinal: “Era preciso que se manifestasse que nem todos eram dos nossos”( 1 Jo 2,19). “Se tivessem sido dos nossos, teriam permanecido conosco”(1Jo 2,19)... [Não seria aqui mais um exemplo de que Deus, verdadeiramente, é capaz de tirar, de um mal, um bem? Do mal das divisões é que se confirmariam os verdadeiramente eleitos! Isso, então, explicaria a razão que o Altíssimo ‘permitiria’ que elas ocorressem...]
O fato é que: na concepção apostólica – expressa no texto bíblico – havia, sim, uma única Igreja, que professava “uma só fé”(Ef 4,5)... E os que dela se separavam não mais estavam unidos a Cristo, mas pelejavam contra ele. Verdadeiros anticristos.
Não por menos, a Igreja sempre condenou aqueles que difundiam o erro de modo pertinaz. E como um órgão gangrenado deve ser separado do corpo, assim a Mater Ecclesia teve que agir, muitas e muitas vezes, com relação a determinados membros do Corpo Místico; separando-os do restante. Essa “separação”, ou melhor, esse seccionamento, é medicinal e necessário. A Igreja sempre o fez e o fará – em maior ou menor grau! Seja de um modo mais brando ou mais severamente. E ela também, continuamente, estará a nos precaver a respeito dos fomentadores de divisão: “Rogo-vos que estejais alerta contra os provocadores de dissensões... Evitai-os”(Rm 16,17).
A Igreja permanecera, perenemente, no seu inconformismo com relação aos grupos que facciosamente se separam dela. Jamais aceitando o indiferentismo; isto é, que ‘tanto vale uma religião como outra’. O indiferentismo religioso nunca passou pela cabeça dos apóstolos e dos primeiros cristãos. Elas (as seitas) estão numa situação bastante ruim diante de Deus, realmente dramática... Se há quem pense o contrário, problema de que pensa assim. Porém, este, é um pensamento anticristão.
b) O protestantismo se firmou em princípios totalmente antibíblicos e anticristãos, como: ‘Sola Scriptura, Livre Exame, Sola Fide’.
Sola Scritura, rebelião contra a Sagrada Tradição! Livre Exame, rebelião contra a lógica e o Magistério Eclesial! Sola Fide, rebelião contra a Justiça e Santidade Divinas (por muitos, dentre eles, acreditarem que Deus declararia justo o que não é de fato justo e, assim, o Todo-poderoso acabaria por aceitar como habitantes das Alturas os que não fossem verdadeiramente santos)! – Justiça que também impõe a prática do bem possível, das boas obras que podemos realizar (por amor a Deus e ao próximo), para podermos adentrar no Paraíso; pois Deus é um Deus “recompensador”(cf Hb 11,6) dos que o buscam e dá, a cada um, segundo as suas obras.
Já apresentei, em diferentes textos, a ilegitimidade da tal liberdade interpretativa (no sentido de que cada qual, cada leitor da Bíblia, seria o seu próprio definidor doutrinário); haja vista, o Livre Exame das Escrituras – além de ser o grande gerador de divergentes e contraditórias interpretações – constitui, ainda por cima, uma clara rebelião às autoridades religiosas: aqueles que “são superiores e guias no Senhor”(1 Tes 5,12). Já que, por esse nefando princípio, cada um seria ou se acharia o pastor de si próprio; bastando-se. Criando quase que uma sociedade anárquica de fiéis (ou melhor, de infiéis). Uma instituição de insubmissos! Ademais, S. Paulo fala explicitamente que é preciso perseverar na “Sã Doutrina” (e não em qualquer doutrina) para se salvar, como o disse a Timóteo: “Vigia a ti mesmo e a doutrina. Persevera nestas disposições porque assim fazendo, salvarás a ti mesmo e aos teus ouvintes”(1 Tm 4,16).
c) Doutrinas doentias, ou nada saudáveis, costumeiramente foram ministradas pelos inimigos da fé, mesmo internamente – por ‘falsos irmãos’ que se introduziram sorrateiramente, conforme afirma o Apóstolo Paulo. (Aos quais, bem poderíamos denominá-los de ‘lobos trajados de ovelhas’). Mas, elas nunca prevaleceriam ou prevalecerão! [“As portas do Inferno nunca prevalecerão contra ela”(Mt 16,1.] Cedo ou tarde são expelidos (os propaladores de heresias e as próprias heresias) para fora do Corpo de Cristo.
Já em seu tempo, São Paulo rechaçava ímpios e insalubres ensinamentos que conduziam à perdição, como aquela que ele próprio execrou com veemência (referindo-se a Himeneu e Fileto): “Eles se desviaram da verdade... estão pervertendo a fé de vários”(2 Tm 2,1, “a palavra deles é como gangrena que corrói”(2 Tm 2,17).
Obviamente, quando a Igreja repele (ou antes, combate) algum agente nocivo, Satanás tenta, o mais rápido possível, inocular novos germens de ideologias infecciosas (e facciosas) para poder ocasionar a podridão (a perdição) de mais e mais partes do Corpo Místico. E, assim, com a perda de novas porções do santo organismo eclesial, produziria um aumento na descrença do mundo com relação ao que ensina aquela que é a “coluna e sustentáculo da Verdade”(1 Tm 3,15). Por surgirem outras divisões que também são, pelo que já vimos inicialmente, fator de incredulidade. [Parece até ser um repetitivo ciclo ‘de infecção divisora e de combate à mesma (ou “desinfecção”)’, o que se vislumbra ao longo da História.]
Com efeito, é mais do que romântica – e por que não dizer: é pueril! – a visão de que a Igreja de Deus (“A Barca de Pedro”) atravessaria os mares da História, sem tribulações; ou até mesmo isenta de divisões. Pois a Bíblia afirma justamente o contrário. A Igreja existe para incomodar e suscitar ódios e facções contra ela; pois a intolerância da verdade, que a mesma traz em seu bojo, não se assenta à mesa com liberalidade do erro. Como disse um ex-pastor batista (e o hoje diácono da Santa Igreja de Deus), o sr Francisco Almeida Araújo: “A verdade é intolerante” [PROGRAMA QUESTÃO DE FÉ, Tv Século XXI, 20/02/ 2004]. Não à-toa, a Verdade em Pessoa, que é o próprio Cristo Jesus, bem o disse: “Não penseis que vim trazer paz à terra, mas a espada” (Mt 10,34).
São certos ateus, certos céticos, certos ignorantes, e outros mais, que vêm com esse ‘papo de cerca lourenço’ (ou seja, com essa conversa fiada) de que não havia uma única Igreja. Ora, sempre houve uma só Igreja, o resto eram ou são divisões e seitas. Em suma, em paralelo à única Igreja instituída por Cristo, grassou (e vem grassando) uma variedade de grupos e grupelhos gestados pelo demônio ou, pelo menos, embalados por ele. Pois o diabo costuma propagar uma gama de defeituosos “clones” eclesiais, com diferenças entre si, para tentar atrair aos mais diferenciados incautos. A fim de fazer com que, o máximo possível de seres humanos não se ligue à única Igreja do Senhor, mas às pseudo-igrejas; e, nelas, eles venham a se perderem eternamente.
Não à toa, dizia S. Cipriano (210-258 d.C.) bispo de Cartago: << “O inimigo, desmascarado e derrotado pela vinda de Cristo... trama nova emboscada para iludir os incautos, sob o rótulo do próprio nome de cristãos. Inventa heresias e cismas para subverter a fé, corromper a verdade e quebrar a unidade”(Sobre a Unidade da Igreja)>> [AQUINO, Prof. Felipe, Escola da Fé I (Sagrada Tradição), Editora Cléofas, Lorena-SP, 2000, p.52]. E ainda: << “Quem se aparta da Igreja e se junta a uma adúltera, separa-se das promessas da Igreja. Quem deixa a Igreja de Cristo não alcançará os prêmios de Cristo. É um estranho, um profano, um inimigo. Não pode ter Deus por Pai quem não tem a Igreja por mãe... Torna-se adversário de Cristo quem rompe a paz e a concórdia de Cristo; aquele que noutra parte recolhe, fora da Igreja, dispersa a Igreja de Cristo”(A Unidade da Igreja)>> [AQUINO, Prof. Felipe, Escola da Fé I (Sagrada Tradição), Idem, p. 53].
E se a palavra câncer não é a melhor para explicar a situação do protestantismo (e todas as suas derivações), que constituem uma cisão propugnadora de ensinos heterodoxos, esse vocábulo tem, ao menos para os católicos, do ponto de vista histórico, o bom atestado de ter sido utilizado por um santo da Igreja, da Antiguidade, que é S. Cipriano; referindo-se, justamente, aos impiedosos ensinamentos dos que dividem Cristo (seu Corpo Místico). Um santificado que, aliás, é anterior ao imperador Constantino. O que, per si, corrobora que as divisões existiam imediatamente após a chamada Era Apostólica – independentemente da existência do referido imperador.
É indiscutível, semelhantemente, que S. Cipriano propugnava pela unidade da Igreja. E ele tratava duramente os que promoviam a divisão e difundiam alguma doutrina divergente. Exemplo que também encontramos na vida de muitos outros santos ao longo da História Cristã. (De modo que, isso de passar a mão na cabeça de hereges nunca foi muito coisa dos benditos de Deus!)
A Igreja preza pela ortodoxia e, por isso, sempre se contraporá ao doutrinário iníquo dos filhos da Serpente (a heterodoxia).
P.S.: Tudo que escrevi está sujeito à autoridade da Igreja Católica. A qual poderá corrigir, refutar, completar e tudo o mais que for necessário para preservar incólume o Sagrado Depósito da Fé.
[Adendo 1: A Bíblia fala da importância e necessidade de ater-se às tradições (não somente as escritas) que vêm dos apóstolos: “Portanto, irmãos, ficai firmes; guardai as tradições que vos ensinamos oralmente ou por escrito”(2 Tes 2,15); bem como, do quão perigoso pode ser uso da Escritura feito por qualquer um (que não esteja sob a tutela do legítimo Magistério Eclesial): “É verdade que em suas cartas se encontram alguns pontos difíceis de entender, que os ignorantes e vacilantes torcem, como fazem com as demais Escrituras, para sua própria perdição”(2 Ped 3,16).]
[Adendo 2: Jesus disse a Pedro: “Apascenta as minhas ovelhas” (Jo 21,17) E não que cada um pastoreia-se a si próprio, ficando à revelia daqueles que são os “dirigentes”(Hb 13,17), “superiores e guias no Senhor”(1 Ts 5,13)... Ou seja, a Igreja é hierárquica; onde uns poucos governam sobre muitos.]
[Adendo 3: “Há muitos insubmissos... aos quais é preciso calar ”(Tt 1,10-11). Que acham dessa sentença bíblica? Nada liberal, não é mesmo?]
[Adendo 4: Lembro-lhes ainda, como já havia escrito noutro artigo meu, que sempre a Igreja passou por abalos e divisões; inclusive citei o arianismo... O certo, igualmente, é que, conforme está mais do que provado, NÃO foi com Constantino quem começou as divisões e agitações anti-unidade. Inclusive, ele, justamente, em parte, labutou pela unidade. Senão, jamais teria se dedicado para que houvesse o Concílio de Nicéia.]
Bibliografia
- A BÍBLIA DE JERUSALÉM, Editora Paulus, SP, 1996.
-AQUINO, Prof. Felipe, Escola da Fé I (Sagrada Tradição), Editora Cléofas, Lorena-SP, 2000.
AUTOR: Wagner Herbet Alves Costa