Maria, mãe de Igreja
MARIA, MÃE DA IGREJA
Originário da maternidade divina e de sua santidade, o título de Mãe da Igreja, outorgado a Maria surge como uma conseqüência inevitável. Sua característica de intercessora a coloca como aquela que se dispõe a tornar-se advogada dos cristãos, consoladora dos que sofrem e, como somatório dessa atividade espiritual, ela assume a maternidade de toda a Igreja-comunidade de Cristo. Há alguns dias atrás, quando escrevia estas linhas, andando na rua, li um adesivo no vidro traseiro de um automóvel: “Peça à Mãe que o Filho atende!”.
Santo Agostinho, referindo-se à maternidade de Maria, pergunta que, se ela é mãe da Cabeça (Cristo), por que não pode ser mãe dos membros (A Igreja)? A partir do episódio ocorrido em Caná, ela torna-se intercessora. Aos pés da cruz ela assume a missão de tornar-se mãe dos redimidos pela cruz de seu filho. Quem foi assim investida, não tem “autoridade” para interceder?
A presença forte de Maria aparece claramente na Igreja do oriente, em orações do século IX, em que os fiéis pedem a mediação de Maria junto a Jesus. Ao recomendar à Igreja que tome Maria como modelo, Paulo VI retrata-a como paradigma daquilo que é o grande anseio do homem moderno: a paz, a realização afetiva, a justiça, a eleição de valores reais e a alegria de estar a serviço.
Há tempos, entre incrédula e pouco conhecedora das coisas de Deus, uma pessoa me perguntou sobre a pertinência do título de “Mãe da Igreja”, que é conferido à Virgem. Ora, Maria é mãe de Jesus, que é filho de Deus e, por esse motivo, irmão nosso, na ordem da graça. Ora, se Jesus é nosso irmão, sua mãe é nossa mãe. Isso é consagrado pelo legado na cruz, quando Jesus entrega sua mãe viúva aos cuidados de João, e por extensão, a todo o gênero humano.
O discípulo João recebeu em sua casa como mãe, como alguém que pela perfeição de sua fé, teve sua humanidade assumida por Deus. Ao tornar-se um novo “filho de Maria”, o apóstolo representa a humanidade filiada à proteção amorosa de Virgem.
Os seguidores de Jesus não permanecem isolados, mas agrupados em uma comunidade chamada Igreja, cujo mistério os reúne em nome de Cristo. Se Maria é mãe dos membros da Igreja, por que não sê-lo da própria Igreja? Concretamente, essa maternidade universal se manifesta na solicitude da mãe pelos homens, como outrora em Caná. Ao dizer ao filho “Eles não têm mais vinho” (Jo 2, 4) Maria revela a extensão de sua preocupação materna, não só referente a Jesus, mas a toda a humanidade. Ninguém, como ela, conhece e ama a Jesus. Por isso ninguém, como Maria, é capaz de nos levar a Jesus. O seguimento a Jesus nos faz assumir sua mãe como nossa mãe.
Não se trata apenas de uma simples devoção à mãe de Deus. Maria, que estava com o grupo apostólico, em constante oração, no início da Igreja, permanece entronizada nessa mesma Igreja, empenhada na salvação dos homens, libertos pelo sangue redentor do filho Jesus.