UMA ANÁLISE DA EDUCAÇÃO BRASILEIRA
A educação brasileira tem sido foco de discussão constante entre educadores e sociedade, especialmente por revelar aspectos caóticos da realidade: analfabetismo, altos índices de reprovação e evasão escolar, desinteresse dos alunos pelos estudos e, de forma muito acentuada nos dias atuais, deparamo-nos com a questão da indisciplina. Os pensadores educacionais e toda a comunidade educativa estão assistindo a um crescente aumento da indisciplina nos meios escolares, que se caracterizam tanto pela violência aos espaços, como pelo desrespeito aos professores e as regras de convívio social. Por outro lado, observa-se o distanciamento da família em relação a educação de seus filhos. Muitos pais apóiam, até mesmo sem perceber, as atitudes indisciplinadas dos filhos, pela falta de acompanhamento ou por acreditarem que a escola por si só, dará conta da educação. É interessante ressaltar também que a privatização do ensino como uma política neoliberal, contribui significativamente para a elevação dos índices de indisciplina, pois nesta visão, o professor é visto como um empregado e o ensino como uma mercadoria à venda. Paga-se por ela e os educadores devem adequar-se às novas e constantes exigências de seus clientes.
Os educandos, oriundos de um contexto social movido por idéias capitalistas e excludentes, encontram na escola uma instituição que busca manter a ordem e a disciplina a qualquer custo. Ocorre então o primeiro grande choque entre os interesses e expectativas dos alunos e a proposta defendida pela escola enquanto instituição perpetuadora de valores sociais e de limites. Os adolescentes e jovens, vivendo em meio a uma cultura extremamente consumista e imediatista, aprendem desde cedo a exigir para si toda a atenção possível, com isto, o foco de interesse, antes centrado no professor, recai agora nas ações e atitudes do alunado. A destruição dos espaços físicos, a violência explicita contra colegas, ou mesmo aquele tipo de violência velada, através de apelidos, ameaças e discriminação, mostram que cada vez mais os educadores ficam sem respostas a estas dificuldades. Uma escola que efetivamente queira enfrentar a problemática da indisciplina deverá estabelecer em seu programa educacional, situações de debate e de busca de soluções conjuntas com pais, alunos, equipe de educadores embasando sua prática em pressupostos claros e bem definidos, norteando assim o seu fazer pedagógico da instituição escolar e de seus pares envolvidos no processo.
Com novas necessidades, surgidas a partir da Revolução Industrial, a sociedade vive, ao longo dos últimos anos, a massificação da educação. As pessoas aprendem os mesmos conhecimentos sempre do mesmo modo. Não se leva em consideração a individualidade e o ritmo próprio de aprendizagem. A coletividade é uma das formas de se preparar o empregado para o mercado de trabalho. A escola assume uma postura de enquadramento social e, conforme assegura Foucault na obra “Microfísica do Poder”, aliado a escola estão as demais instituições como o exército, a igreja, o hospital e o trabalho em suas relações de poder devem formar seres homogêneos e aptos a pensarem de acordo com o sistema econômico e político vigente. Os pais, na maioria das vezes não se dão conta desta complexidade e acreditam que a escola tem condições de resolver todos os problemas educacionais de seus filhos. Com a privatização do ensino a responsabilidade da família em relação a educação se limita, na grande maioria dos casos, a efetivação da matricula e pagamento das mensalidades escolares. A família ignora as atitudes indisciplinares, achando que o aluno tem condições suficientes de saber o que faz e o que é melhor para si. Enquanto houver a omissão da família, atitudes de indisciplina e desrespeito na escola serão freqüentes e cada vez mais preocupantes.
A política neoliberalista imposta à América Latina prega a globalização do conhecimento, do trabalho e das instituições. No Brasil esta prática vem sendo percebida atualmente, especialmente na educação. Programas educacionais, leis e currículos nacionais são repassados às escolas, esperando-se seu cumprimento efetivo. Tais políticas e ações chegam carregadas de ideais neoliberais que na maioria dos casos são adotados sem a devida discussão e re-elaboração. Os sindicatos docentes, assumindo para si a responsabilidade de promover o debate sobre as reformas educacionais, são alvos de criticas e de desvalorização, numa tentativa de tornar obscura a prática do diálogo permanente entre instituições escolares, sociedade e governo. Nesta nova concepção, o profissional da educação deve atender as necessidades de seus clientes, promovendo a educação a uma mera mercadoria que pode ser barganhada e negociada.
Urge uma política de reformas na educação brasileira para que situações como indisciplina, evasão, repetência e exclusão escolar sejam solucionadas. No entanto, essas reformas devem acontecer pautadas numa prática dialógica, envolvendo a sociedade como um todo, definindo prioridades e objetivos comuns a serem alcançados. Para onde estamos indo? O que queremos da nossa educação? Que tipo de sociedade queremos ter? Tais questões devem permear as discussões sempre tendo presente que a escola é uma conquista das classes populares, então, para quem os educadores educam? O espaço da sala de aula e do ensino deve se constituir num espaço revolucionário, propício às múltiplas aprendizagens e construção de saberes diversificados. Com isto, questões como indisciplina serão facilmente resolvidas e a escola será o lugar do aprender e do fazer educação de qualidade.