Prostação é Adoração?

Porque Pedro recusou a prostração de Cornélio?

Wagner Herbet Alves Costa (1968-2006)

Sábado 05 Março de 2005 às 11:48:57

a) Um dos protestantes questionou porque Pedro recusou a prostração de Cornélio (conforme está narrado nos Atos dos Apóstolos), bem como apresentou aquela citação apocalíptica em que um anjo impediu que São João se prostrasse diante dele.

Ora, o texto bíblico é claro: “Cornélio saiu-lhe ao encontro e prostrou-se a seus pés, adorando-o” (At 10,25). Ou seja, a prostração de Cornélio não foi uma simples reverência, mas tinha a clara intenção e ação de adorar a Pedro; conforme está explicitado na Escritura (“adorando-o”). Diferente, portanto, de tantas outras passagens da Bíblia que mostram exemplos lícitos de prostração ‘não-adorativas’. Tais como:

“O profeta Nata... veio perante o rei e se prostrou diante dele” (1 Rs 1,22-23).

“Eliseu atravessou o rio. Os irmãos profetas... vieram ao seu encontro e se prostraram por terra, diante dele” (2 Rs 2,14-15).

“O cuchita se prostrou diante de Joab” (2 Sm 11,20).

A recusa do anjo, como no caso de Cornélio e Pedro, também tem em vista não haver uma adoração indevida, pois esta só é devida a Deus. Daí, o anjo dizer: “É a Deus que deves adorar” (Ap 19,10). Porquanto é registrado a respeito de João: “Caí então aos pés para adorá-lo” (Ap 19,10)... Pergunto: para que o Apóstolo caiu aos pés do anjo? Qual a finalidade de seu ato? (Basta ler a Escritura, pois a resposta é claríssima!)

Vale ainda acrescentar, o que disse nosso Senhor, num outro passo do livro do Apocalipse: “Farei que se prostrem a seus pés e reconheçam que eu te amo” (Ap 3,9). Claro! Existem várias finalidades em que se pode existir licitamente a prostração, essa é mais uma delas. A que é, por outro lado, terminantemente proibida, é aquela que tem como fim a adoração de seres criados ... O fato, é que, se prostração fosse, em si, proibida; então, nenhuma forma de prostração poderia ser permitida, nunca. Todavia, fica claro, biblicamente, que a prostração proibida refere-se, justamente, a que tem por finalidade adorar as criaturas. A prostração adorativa, essa, só a Deus.

Vejamos mais um exemplo, dos Atos dos Apóstolos: “Então o carcereiro... todo trêmulo, caiu aos pés de Paulo e Silas” (At 16,29). [Se, obviamente, o carcereiro tivesse caído aos pés para adorar a Paulo e Silas, como fez Cornélio com relação a Pedro, certamente os dois missionários cristãos o teriam admoestado como fez o Príncipe dos Apóstolos; mas não o fizeram... porque foi somente uma reverência sem adoração.]

Sei que, muitas vezes, sou, por deveras, prolixo; mas não resisto em perguntar (principalmente aos dissidentes protestantes): ‘O povo, quando se prostrava diante de Jesus, fazia-o porque ele era Deus, ou porque achava que era um enviado de Deus ou um profeta?’ [Para ajudar nesse entendimento, consultar a passagem que diz: “Quem sou eu, no dizer das multidões?” (Lc 9,18) “Responderam-lhe: “João Batista; outros, Elias; outros, ainda, um dos profetas” ” (Mc 8,28).]

Obs.: uma coisa importante nesta questão de adoração, quando se debate com um herege protestante, é questioná-lo de onde muitos deles tiraram essa idéia torta de que adorar , por exemplo, seja o mesmo que “pedir” a intercessão de alguém. Quanta ignorância é essa confundir adoração com pedido de intercessão ou de benção. Tanto é assim, que é possível pedir sem adorar: ‘fulano rogue por mim’; como o é, também, adorar sem nada pedir: ‘Tu és o Senhor altíssimo, criador do céu e da terra, meu Deus, que existe desde toda eternidade a quem adoro’ (Veja que nada pedi nesta sentença, nem sequer um palito de fósforo!)

Um dos usos das prostrações é para reverenciar (religiosamente) coisas sagradas: como os santuários e todos os objetos sacros presentes neles. Está escrito:“Reverencieis meu santuário” (Lv 19,30). [Lembremos, então, que tudo que estava dentro do templo era igualmente sagrado; INCLUSIVE, as imagens (que por sinal eram muitas!): “Fizeram subir a Arca e a Tenda da Reunião com todos os objetos sagrados que nela estavam” (2 Rs 5,5).]

Por isso, com o salmista, cantaremos: “Nós nos saciamos com os bens da tua casa, com as coisas sagradas do teu templo” (Sl 65(64),5).

Pergunte, aos protestantes, se não era um ato maligno chutar (ou destruir) um desses objetos sacros? Ou quem agride uma obra de arte sacra, que serve ilustrativamente o templo de Deus, não comete um sacrilégio (profanando, assim, a casa do Senhor)? E se, por ventura, os sacrílegos e profanadores herdarão o Reino dos Céus?... Vede que São Paulo inclui como pessoas reprovadas aquelas que são “sacrílegos e profanadores” (1 Tm 1,9).

Perdoe-me o encompridar, mas quero citar mais um (ou outro) versículo da Bíblia: “Me prostro voltado para o teu sagrado templo” (Sl 138 (137),2). [O qual, certamente, tinha imagens nele.]

Se prostração fosse sinônimo inequívoco de adoração (à divindade), então, seria difícil explicar o trecho bíblico que diz: “Prostrai-vos perante o seu monte sagrado” (Sl 99(98),5). Mas nós (católicos), que temos a perfeita ciência, sabemos que a prostração, aqui, que também tem um caráter religioso, é apenas uma reverência. [Com certeza, no salmo, não se está mandando adorar, como se fora um deus, aquela montanha sagrada. Podemos, sim, reverenciar (ou venerar) o que é sagrado; mas adorar (no sentido estrito) somente ao Criador, que é divino ou deidade]

b) Um dos católicos presentes no debate, e que muito bem citou passagens bíblicas do Novo Testamento sobre “louvar” também criaturas (e não somente Deus), pediu que lhe fosse enviados trechos do Antigo Testamento que igualmente salientassem que se pode louvar seres que o Altíssimo criou. Ei-los:

“A mulher que teme a Iahweh merece louvor” (Prov 31,30).

“Judá, teus irmãos te louvarão” (Gn 49,8).

Devemos ainda acrescentar mais a seguinte passagem que é dirigida a Amada dos Cânticos dos Cânticos (a qual, aliás, muitos estudiosos interpretaram como sendo uma prefiguração de Maria, que é, sem dúvida, e por excelência, a ‘amada de Deus’): “Louvam-na rainhas e concubinas”(Cant 6,9).

PS.: Tudo que escrevi está, e sempre estará, sujeito a um maior e melhor juízo, que é o da Santa Madre Igreja Católica. A qual tem o poder de corrigir, refutar, completar e tudo mais que for necessário para manter a integridade da Sã Doutrina.

Faço votos que, ao menos parte do que escrevi, sirva para ajudar no embate apologético em defesa da Santa Fé Católica.

“Tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei minha Igreja, e as portas do Inferno não prevalecerão contra ela.” (Mt 16,18).

Bibliografia

-BÍBLIA DE JERUSALÉM, Editora Paulus, SP, 1996.

Fiquem com Deus!